Cannabis medicinal na prática da Medicina Integrativa

 

A Medicina Integrativa é a prática que reafirma a importância da relação entre o paciente e o profissional de saúde. A terapêutica é baseada na consideração de todos os aspectos que interferem na qualidade de vida e bem-estar das pessoas.

Nesse sentido, a compreensão sobre o funcionamento do Sistema Endocanabinoide (SEC) é de suma importância para o médico integrativo, uma vez que o SEC tem a função de modular e equilibrar todos os sistemas fisiológicos do corpo humano.

O entendimento mais aprofundado sobre a Cannabis medicinal e seu amplo espectro terapêutico pode contribuir de forma significativa para amenizar diversos sintomas e quadros clínicos.

 

Independentemente de os sintomas terem sido ocasionados por fatores físicos ou psíquicos, o objetivo da Medicina integrativa é equilibrar o corpo, a mente e as emoções de modo a oferecer aos pacientes um cuidado integral e sistêmico, a exemplo da função primordial do Sistema Endocanabinoide, que é promover a homeostase do organismo.

Neste conteúdo, vamos falar mais a respeito do tema e trazer algumas práticas cientificamente embasadas sobre o uso dos derivados canabinoides na Medicina Integrativa, como por exemplo,  no manejo de dor crônica, transtornos psiquiátricos, transtornos ginecológicos e suporte ao paciente com câncer

Continue a leitura e entenda melhor o potencial dos derivados canabinoides na prática integrativa!

 

Cannabis e Medicina Integrativa

A Medicina Integrativa tem entre seus princípios as seguintes premissas:

  • A parceria entre paciente e médico no processo de cura;
  • O uso de métodos e terapêuticas naturais, efetivas e não invasivas sempre que possível;
  • O reconhecimento de que a Medicina deve ser baseada em evidências, devendo ser investigativa e aberta a novos paradigmas.

 

O conhecimento sobre o Sistema Endocanabinoide e o potencial terapêutico da Cannabis medicinal estão totalmente alinhados com esses princípios. A Medicina Integrativa enfatiza as relações entre o paciente e o médico e combina tratamentos convencionais e terapias complementares cuja segurança e eficácia tenham sido cientificamente evidenciadas.

O uso da Cannabis para fins medicinais é milenar, muito embora as pesquisas sobre o assunto só tenham ganhado robustez após a descoberta científica do Sistema Endocanabinoide (SEC) na segunda metade do século XX. Mais recentemente, com a Resolução 327 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as discussões em torno da Cannabis medicinal foram aquecidas, auxiliando na desconstrução de estigmas socio-culturais por trás dessa planta.

Devido às diversas propriedades terapêuticas já cientificamente desvendadas, a Cannabis encontrou terreno fértil na Medicina integrativa, trazendo resultados promissores aliados à baixa ocorrência de efeitos adversos aos pacientes. A consolidação da Cannabis nesse contexto integrativo de cuidados se deve às centenas de compostos químicos da planta – canabinoides, flavonoides e terpenos, que conferem um amplo e variado espectro de atuação e ajudam a equilibrar o tônus funcional do Sistema Endocanabinoide (SEC).

 

Para se aprofundar a respeito, baixe o Guia: Entenda como interagem o Sistema Endocanabinoide, seus receptores e os fitocanabinoides

 

O SEC é um sistema regulatório vital e está envolvido em praticamente todos os nossos processos fisiológicos e patológicos. Ao interagirem com seus principais ligantes, os receptores endocanabinoides são capazes de regular e modular diversas funções fisiológicas, como nossas emoções, o gasto energético, a função cardiovascular, o sistema imunológico, os processos inflamatórios, os processos de aprendizagem e memória, entre tantos outros.

O equilíbrio do Sistema Endocanabinoide é fundamental para a homeostase do nosso organismo, pois qualquer desbalanço nas funções fisiológicas pode deflagrar o início e/ou a progressão de doenças.

 

Práticas consolidadas

O crescimento das pesquisas científicas em torno da Cannabis Medicinal é um dos grandes responsáveis por seu amplo uso na Medicina Integrativa. Atualmente, já são mais de 25 mil artigos publicados sobre o tema no PubMed, atestando o potencial dos canabinoides no tratamento de diversos quadros clínicos. A seguir, falaremos de algumas práticas já consolidadas nesse sentido.

 

Uso em dores crônicas e neuropáticas

As propriedades analgésicas e anti-inflamatórias da Cannabis já são exploradas há bastante tempo. O canabidiol (CBD) se destaca no contexto das dores crônicas e neuropáticas. As pesquisas científicas evidenciam a estreita relação entre esse canabinoide e a melhora na qualidade de vida de pacientes que sofrem desse tipo de dor.

O CBD é utilizado em variados quadros de dor crônica, inclusive àquelas associadas ao câncer. Um ponto positivo do uso dos canabinoides nesse contexto é que existe uma sinergia de atuação muito interessante entre derivados canabinoides e opioides. A Cannabis medicinal contribui para reduzir as doses médias diárias de opioides e minimizar os quadros de overdose e dependência desses medicamentos.

Um exemplo é esta pesquisa que avalia o uso de canabinoides em pacientes que faziam uso regular de opioides. O experimento envolveu 500 pacientes que utilizaram Cannabis em combinação com opioides, por pelo menos três meses. 

 

Os resultados evidenciaram que 40% dos pacientes interromperam o uso de opioides e 45% diminuíram as doses diárias dessa medicação.

Especificamente em relação à dor, 80% dos pacientes relataram melhoria na capacidade funcional e 87% relataram melhoria na qualidade de vida. Quase metade dos usuários (48%) relataram ainda, uma redução de 40% a 100% nos níveis de percepção da dor crônica.

 

>> Saiba mais em: A Survey on the Effect That Medical Cannabis Has on Prescription Opioid Medication Usage for the Treatment of Chronic Pain at Three Medical Cannabis Practice Sites

 

O potencial do CBD no manejo da dor crônica também é destaque nesta pesquisa que avalia o uso da substância em quadros de osteoatrite. Esse transtorno geralmente se manifesta por dor de caráter inflamatório, nociceptivo e neuropático. No estudo em questão, o CBD demonstrou eficácia para todas essas vias de sinalização de dor.

 

>> Veja aqui a pesquisa completa: Cannabis and joints: scientific evidence for the alleviation of osteoarthritis pain by cannabinoids.

 

Uso em transtornos psiquiátricos

Ansiedade, depressão e transtornos do sono são alguns transtornos psiquiátricos que também podem apresentar respostas positivas com a terapêutica canabinoide. O THC, por exemplo, que apresenta propriedades terapêuticas únicas em diversos contextos, se destaca no combate aos quadros de insônia e parassonias.

A substância é também um poderoso estimulador de apetite e contribui para o relaxamento e a melhora do humor, essenciais em quadros nos quais o paciente está em profundo estado de sofrimento psíquico. Vale lembrar que, em um contexto adequado de uso, reações psicotóxicas decorrentes do THC são muito raras. Por isso, educação técnica apropriada na área é fundamental para prescrições seguras e assertivas.

Os resultados terapêuticos do uso de derivados canabinoides em transtornos de ansiedade demonstram ser bastante promissores, a exemplo deste experimento observacional realizado com 670 pacientes: 95% deles relataram diminuição nos sintomas de agitação, irritabilidade e estresse decorrentes de quadros de ansiedade, após o uso terapêutico de produtos de Cannabis predominantes em THC.

 

>> Leia a pesquisa completa em: The effectiveness of inhaled Cannabis flower for the treatment of agitation/irritability, anxiety, and common stress.

 

Um estudo foi conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP) e publicado em 2021 no Journal of the American Medical Association traz resultados também promissores sobre o uso do canabidiol (CBD) no tratamento da síndrome de burnout.

O estudo, realizado com 120 profissionais de saúde (médicos, enfermeiros e fisioterapeutas) que desenvolveram síndrome de burnout em decorrência do trabalho exaustivo na linha de frente de combate à Covid-19, demonstrou que entre os participantes que fizeram uso de CBD, houve uma redução de 60% nos sintomas de ansiedade, 50% nos sintomas de depressão e 25% no quadro geral de burnout. 

 

>> Leia o estudo completo em: Efficacy and Safety of Cannabidiol Plus Standard Care vs Standard Care Alone for the Treatment of Emotional Exhaustion and Burnout Among Frontline Health Care Workers During the COVID-19 Pandemic: A Randomized Clinical Trial.

 

Uso em transtornos ginecológicos

A Cannabis medicinal também pode ser útil na prática integrativa pelo seu potencial em diversos contextos ginecológicos. Pesquisas científicas sugerem importantes efeitos analgésicos e anti-inflamatórios dos derivados canabinoides no controle de cólicas menstruais, desconfortos do climatério e complicações da endometriose.

Especificamente no caso da endometriose, o uso da Cannabis medicinal é bastante promissor, uma vez que os tratamentos convencionais geralmente incluem a prescrição de hormônios ou agonistas do GnRH (hormônio liberador de gonadotropina), cujos efeitos colaterais incluem sintomas de menopausa, como ondas de calor, secura vaginal, alterações de humor e perda precoce de cálcio dos ossos, que podem comprometer ainda mais a qualidade de vida dessas mulheres. 

Os fitocanabinoides surgem como uma alternativa mais segura e, possivelmente, mais eficaz no alívio desses sintomas, a exemplo desta revisão bibliográfica que traz estudos relevantes apontando a Cannabis como agente terapêutico potencial. Os benefícios incluem a capacidade de modular a percepção da dor e, ao mesmo tempo, os componentes emocionais envolvidos, proporcionando relaxamento e bem-estar e melhorando o humor de forma geral.

 

>>Leia a revisão bibliográfica completa em: The Clinical Significance of Endocannabinoids in Endometriosis Pain Management.

 

Uso como adjuvante no paciente com câncer

Apesar do potencial antineoplásico dos derivados canabinoides ser muitíssimo promissor, ainda são necessárias evidências científicas mais robustas para maior esclarecimento do uso dessa ferramenta terapêutica para esse fim. 

No entanto, está claro o potencial da Cannabis como adjuvante terapêutico no paciente com câncer. As indicações podem ser tanto para combater os sintomas decorrentes dos regimes de radio e quimioterapia quanto para aliviar os sintomas do câncer em si. 

Os canabinoides se destacam por seu potencial antiemético, indutor do sono, estimulador do apetite e de combate à fadiga, além de demonstrar eficácia também no controle de quadros de ansiedade e depressão, comuns no contexto oncológico. É o que mostra esta revisão bibliográfica publicada no periódico Therapeutic Advances in Medical Oncology (Avanços terapêuticos na Medicina oncológica).

 

>> Leia a revisão completa em: Opportunities for cannabis in supportive care in cancer.

 

Conclusão

Embora as pesquisas científicas venham cada vez mais corroborando as propriedades terapêuticas dos derivados canabinoides, é preciso ressaltar que as prescrições devem ser sempre tecnicamente muito criteriosas. Existem alguns perfis de risco para o uso dessas substâncias na prática médica.

Idosos, por exemplo, demandam atenção extra na titulação das doses para evitar efeitos adversos importantes. O mesmo vale para adolescentes, grávidas, lactantes, portadores de doenças cardiovasculares graves e instáveis e portadores de doenças psiquiátricas não tratadas. Nesses casos, o ideal é titular lentamente as doses até encontrar uma dosagem que otimiza os resultados terapêuticos e modula potenciais efeitos adversos.

É por isso que uma formação adequada na área é essencial para prescrições seguras e assertivas, tendo em vista que cada um de nós tem uma estrutura bioquímica e um Sistema Endocanabinoide únicos.

 

A WeCann Academy é comprometida com essa jornada de aprendizado através da Certificação Internacional em Medicina Endocanabinoide.

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Esse texto foi elaborado pelo time de experts da WeCann, baseado nas evidências científicas partilhadas nas referências e, amparado na ampla experiência prescritiva dos profissionais.

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