Cannabis e oncologia pediátrica: a planta como adjuvante terapêutico

 

A maior parte dos estudos sobre o uso de derivados canabinoides no contexto de  câncer foram realizados em pacientes adultos. No entanto,  observa-se com frequência na prática clínica, os benefícios da planta também, nos pacientes oncológicos pediátricos. Por isso, destrinchamos para você as principais impressões desta revisão sistemática sobre o uso de cannabis medicinal na oncologia pediátrica.

Na revisão Medical marijuana in pediatric oncology: A review of the evidence and implications for practice, as autoras destacam o potencial da Cannabis medicinal nos cuidados às crianças com câncer. Confira quais são. 

 

Quais os possíveis benefícios da Cannabis na oncologia pediátrica?

O artigo Should Oncologists Recommend Cannabis? também traz um compilado de estudos que reforçam o potencial da Cannabis medicinal no tratamento adjuvante ao câncer, explorando os seguintes tópicos:

  • Efeito antiemético
  • Estimulante do apetite
  • Redução da dor 
  • Melhora do sono
  • Diminuição da ansiedade
  • Potencial antineoplásico

>>> Saiba mais em Should Oncologists Recommend Cannabis?

A seguir, detalhamos alguns desses efeitos, com referências dos artigos citados acima e também, de outros trabalhos publicados. 

 

Efeito antiemético

Nos Estados Unidos, dois ensaios randomizados, duplo-cegos, incluindo pacientes pediátricos oncológicos, demonstraram que o delta-9-THC é um antiemético superior ao placebo. Um terceiro estudo mostra ainda que o THC traz mais benefícios do que a proclorperazina

Veja em: 

>>> Delta-9-tetrahydrocannabinol as an antiemetic in cancer patients receiving high-dose methotrexate;

>>> Antiemetic effect of delta-9-tetrahydrocannabinol in patients receiving cancer chemotherapy;

>>> Antiemetics in patients receiving chemotherapy for cancer: a randomized comparison of delta-9-tetrahydrocannabinol and prochlorperazine

 

Estimulante de apetite

Alguns tipos de câncer podem causar a perda de apetite mesmo em estágios iniciais. Em casos avançados, esse sintoma acaba acometendo 80% a 90% dos pacientes. A perda de peso no câncer é considerada grave, porque está associada à perda também de massa muscular e status funcional. 

Há estudos evidenciando que a Cannabis medicinal e seus derivados têm potencial para estimular o apetite em adultos com HIV/AIDS. Pesquisas que comparam o dronabinol (uma versão sintética do THC) ao placebo sugerem também, que o derivado canabinoide é mais eficaz em combater a anorexia em pessoas com câncer. 

Confira os estudos: 

>>> Dronabinol and marijuana in HIV+ marijuana smokers: acute effects on caloric intake and mood

>>> Dronabinol as a treatment for anorexia associated with weight loss in patients with AIDS

>>> Delta-9-tetrahydrocannabinol may palliate altered chemosensory perception in cancer patients: results of a randomized, double-blind, placebo-controlled pilot trial

 

Adjuvante na dor crônica

Um relatório da National Academies of Sciences, Engineering and Medicine (NASEM), que representa a academia científica nacional coletiva dos Estados Unidos, apoia a descoberta de que adultos com dor crônica tratados com derivados canabinoides apresentam mais chances de terem seus sintomas de dor reduzidos

>>> Veja em The health effects of cannabis and cannabinoids: the current state of evidence and recommendations for research.

Em geral, recomenda-se que ao tratar pacientes que desenvolveram neuropatia periférica induzida por quimioterapia, seja prescrito um medicamento à base de Cannabis na refratariedade do uso de outros medicamentos.  

Outro ponto muito importante é que a Cannabis medicinal apresenta uma sinergia de atuação com os opioides, frequentemente prescritos no controle da dor oncológica. Boa parte dos pacientes com dor crônica, que fazem uso regular de opioides e iniciam o tratamento com cannabis medicinal, conseguem prevenir o desenvolvimento da tolerância aos opioides e, por consequência, evitar a necessidade de aumento da dosagem.

 

Adjuvante na insônia e nos transtornos de humor

O mesmo relatório da NASEM também destaca haver evidências de que os canabinoides melhoram o padrão de sono de indivíduos com distúrbios do sono relacionados à dor crônica, fibromialgia, esclerose múltipla e síndrome da apneia obstrutiva do sono. 

É comum pacientes com câncer relatarem dificuldades para dormir. Estudos mostram que pessoas com doenças que causam dor, incluindo dor oncológica e dor neuropática periférica, apresentaram melhora no padrão do sono ao utilizar uma formulação à base de cannabis THC e CBD (1:1). 

>>> Confira em Cannabis, pain, and sleep: lessons from therapeutic clinical trials of Sativex, a cannabis-based medicine

 

Tratamento de crises convulsivas 

Convulsões podem ser o primeiro sintoma de tumores cerebrais em crianças e adolescentes. Ensaios clínicos já comprovaram que o uso de CBD no tratamento de crianças com transtornos convulsivos de difícil controle é seguro e eficaz. 

>>> Saiba mais em Trial of Cannabidiol for Drug-Resistant Seizures in the Dravet Syndrome 

 

Potencial antineoplásico

Existem evidências de que os derivados canabinoides também apresentam efeitos antineoplásicos. Estudos in vitro e alguns estudos in vivo demonstraram o potencial antineoplásico em algumas das neoplasias malignas mais comuns da infância e adolescência como: linfoma, leucemia, rabdomiossarcoma, feocromocitoma, glioblastoma, astrocitoma, neuroblastoma, entre outras. 

Leia em: 

>>> Cannabinoids: potential anticancer agents

>>> Anti-tumoral action of cannabinoids: involvement of sustained ceramide accumulation and extracellular signal-regulated kinase activation

Cannabis como adjuvante terapêutico no paciente com câncer

 

Um estudo de 2021 sobre o uso de Cannabis na oncologia pediátrica traz dados que podem estimular outras publicações acerca do tema: 

  • Leucemia foi o diagnóstico mais frequente em crianças cujos cuidadores relataram o uso de Cannabis medicinal, sendo que a maioria delas também estava em tratamento oncológico ativo; 
  • Todos os entrevistados que usaram Cannabis apresentaram melhora de sintomas
  • A via oral, através de óleos foi a formulação mais comumente utilizada; 
  • As informações sobre Cannabis foram recebidas de outros pais ou de um médico assistente; 
  • O gasto mensal com Cannabis foi, em média, inferior a 50 dólares.

Apesar de ainda serem poucos os estudos com crianças e adolescentes, a prática clínica e as pesquisas realizadas com adultos apontam que o uso de Cannabis em crianças com câncer pode trazer diversos benefícios para esses pacientes. 

O fato de a Cannabis medicinal já ser permitida no tratamento para crianças na maior parte dos Estados Unidos é mais uma evidência de que é uma questão de tempo termos mais ganhos terapêuticos documentados. 

 

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Referências

Abrams DI. Should Oncologists Recommend Cannabis?. Curr Treat Options Oncol. 2019;20(7):59. Published 2019 Jun 3. doi:10.1007/s11864-019-0659-9

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Chapman, S., Protudjer, J., Bourne, C., Kelly, L. E., Oberoi, S., & Vanan, M. I. (2021). Medical cannabis in pediatric oncology: a survey of patients and caregivers. Supportive care in cancer : official journal of the Multinational Association of Supportive Care in Cancer, 10.1007/s00520-021-06202-z. Advance online publication. https://doi.org/10.1007/s00520-021-06202-z

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Guzmán M. (2003). Cannabinoids: potential anticancer agents. Nature reviews. Cancer, 3(10), 745–755. https://doi.org/10.1038/nrc1188

Haney M, Rabkin J, Gunderson E, Foltin RW. Dronabinol and marijuana in HIV+ marijuana smokers: acute effects on caloric intake and mood. Psychopharmacology. 2005;181(1):170–178.

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Sallan SE, Cronin C, Zelen M, Zinberg NE. Antiemetics in patients receiving chemotherapy for cancer: a randomized comparison of delta-9-tetrahydrocannabinol and prochlorperazine. N Engl J Med. 1980;302(3):135–138.

Sallan SE, Zinberg NE, Frei E, 3rd. Antiemetic effect of delta-9-tetrahydrocannabinol in patients receiving cancer chemotherapy. New Engl J Med. 1975;293(16):795–797.

 

 

Esse texto foi elaborado pelo time de experts da WeCann, baseado nas evidências científicas partilhadas nas referências e, amparado na ampla experiência prescritiva dos profissionais.

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