Existe benefício da Cannabis medicinal no tratamento da injúria cerebral pós traumatismo crânio-encefálico?

Publicado em 22/09/21 | Atualizado em 06/06/22 Leitura: 5 minutos

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O traumatismo crânio-encefálico (TCE) é uma importante causa de morte, incapacitação e comprometimento cognitivo-motor no Brasil e no mundo. Além de não ser vasta a gama de medicamentos disponíveis para tratar as sequelas motoras e cognitivas pós TCE, a refratariedade dos pacientes ao arsenal terapêutico habitual faz necessária a busca por novas estratégias prescritivas.

A Cannabis medicinal se destaca nesse cenário devido às propriedades neuroprotetoras dos fitocanabinoides e aos demais atributos psicoterapêuticos das  diferentes quimiovariantes da planta  já evidenciados cientificamente.

Leia até o final para descobrir as evidências científicas dos benefícios do uso da Cannabis medicinal no tratamento da injúria cerebral pós traumatismo crânio-encefálico e fique por dentro do assunto!

 

Sistema Endocanabinoide e ações neuroprotetoras

Como sabemos, o Sistema Endocanabinoide modula e regula uma extensa gama de processos fisiológicos, como os processos inflamatórios, a plasticidade sináptica, os processos de aprendizagem e memória, a coordenação dos movimentos, o ciclo sono-vigília e até a regulação da temperatura corporal. 

No traumatismo crânio-encefálico, estudos pré-clínicos demonstram o papel neuroprotetor do SEC na redução das sequelas decorrentes após injúria cerebral

Este estudo norte-americano salienta as propriedades neuroprotetoras dos endocanabinoides ao evidenciar o aumento das concentrações plasmáticas de anandamida e 2-araquidonilglicerol (2-AG) em resposta à lesão cerebral, sugerindo que o SEC exerce um papel regulatório central nos mecanismos compensatórios e de reparo à injúria neuronal.

>> Leia o estudo completos em: Endocannabinoids: A Promising Impact for Traumatic Brain Injury

 

Seguindo a mesma linha de pesquisa, este artigo publicado no Journal of Neurotrauma demonstra que o endocanabinoide 2-AG, se liga aos receptores canabinoides CB1 e CB2 cerca de uma hora após uma lesão cerebral traumática em modelos animais, sendo capaz de atenuar os déficits neurológicos decorrentes da lesão, por reduzir a neuroinflamação, a formação de edema cerebral, a extensão da área isquêmica, a permeabilidade da barreira hematoencefálica, bem como, reduzir a perda de células neuronais.

>> Leia o estudo completo em: Role of CB 2 Receptor in the Recovery of Mice after Traumatic Brain Injury.

Como sabemos, nem sempre a liberação endógena de endocanabinodes é suficiente para evitar o dano neuronal pós TCE. Porém, o SEC também pode ser ativado e modulado por substâncias canabinoides externas, em especial, pelos fitocanabinoides encontrados na planta da Cannabis.

 

Cannabis Medicinal e traumatismo crânio-encefálico

Assim como os endocanabinoides, os  fitocanabinoides CBD e THC também apresentam propriedades neuroprotetoras e são capazes de minimizar os resultados adversos das lesões cerebrais, protegendo os neurônios dos vários insultos subjacentes à lesão neuronal, como a excitotoxicidade, a liberação excessiva de radicais livres e a resposta neuroinflamatória exacerbada.

Como demonstrado nesta revisão bibliográfica que reforça o papel neuroprotetor do Canabidiol, ao facilitar a  plasticidade sináptica e a neurogênese. 

>> Confira o estudo completo em: Cannabidiol, neuroprotection and neuropsychiatric disorders

 

Já este estudo comparativo aborda o uso de THC e sua relação com eventos adversos relacionados ao traumatismo crânio-encefálico. Trata-se de uma análise realizada ao longo de três anos, a qual evidenciou que o uso do THC estava associado a uma menor chance de óbito decorrente da lesão cerebral traumática.

Interessantemente, em  uma amostra composta por 446 pacientes, a mortalidade no grupo que utilizou THC foi de 2,4%, enquanto no grupo que não fez uso desse fitocanabinoide, a taxa de mortalidade foi de 11,5%.

>> Leia o estudo completo em: Effect of marijuana use on outcomes in traumatic brain injury.

 

Embora muitos estudos observacionais e pesquisas pré-clínicas sobre a relação entre Cannabis medicinal e TCE ainda estejam em desenvolvimento, já é possível inferir uma série de benefícios desta terapêutica no tratamento das injúrias cerebrais.

>> Confira mais sobre esse tema em: Cannabidiol and Other Cannabinoids in Demyelinating Diseases

À medida que a Cannabis medicinal vai se consolidando como uma prática legal, libertando-se de estigmas socio-culturais, os estudos vão ganhando mais qualidade metodológica para que seu uso possa ser cada vez mais assertivo.

É importante ressaltar também que  educação especializada na área é fundamental para atuar com segurança e eficácia na prática prescritiva, otimizando resultados terapêuticos e evitando potenciais efeitos adversos.

 

A WeCann Academy é comprometida com a sua  jornada de aprendizado. Conectamos especialistas de várias partes do mundo em uma comunidade global de estudos em Medicina Endocanabinoide para interligar conhecimento científico e experiência prática no uso medicinal da Cannabis.

 

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Referências

Campos AC, Fogaça MV, Sonego AB, Guimarães FS. Cannabidiol, neuroprotection and neuropsychiatric disorders. Pharmacol Res. 2016.

DeMesa J, García-Martín A, Muñoz E, Navarrete C, Rolland A. Cannabidiol and Other Cannabinoids in Demyelinating Diseases. Int J Mol Sci. 2021.

Magid L, Heymann S, Elgali M, Avram L, Cohen Y, Liraz-Zaltsman S, Mechoulam R, Shohami E. Role of CB2 Receptor in the Recovery of Mice after Traumatic Brain Injury. J Neurotrauma. 2019.

Nguyen BM, Kim D, Bricker S, Bongard F, Neville A, Putnam B, Smith J, Plurad D. Effect of marijuana use on outcomes in traumatic brain injury. Am Surg. 2014.

Schurman LD, Lichtman AH. Endocannabinoids: A Promising Impact for Traumatic Brain Injury. Front Pharmacol. 2017.

 

Esse texto foi elaborado pelo time de experts da WeCann, baseado nas evidências científicas partilhadas nas referências e, amparado na ampla experiência prescritiva dos profissionais.

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