05Identificação
Paciente PAM, 69 anos, sexo masculino.
Apresentação do Caso
Paciente masculino, 69 anos, comparece a consulta relatando que foi diagnosticado com psoríase pretibial aos 11 anos (Em 1970), apresentando resolução inicial da doença em um ano com tratamento convencional. Em 2019, após um período de estresse intenso, seguido pela pandemia de COVID-19, desenvolveu um novo surto de dermatite. Inicialmente, havia uma única lesão, que se disseminou de forma centrípeta para membros superiores e inferiores, além de acometimento palmar bilateral. O quadro foi marcado por dor intensa, prurido severo e perda da barreira cutânea, com infecção secundária por Pseudomonas.
Refere que está havendo uma piora progressiva das lesões cutâneas nas últimas semanas, com intensa coceira, dor ao toque e dificuldade para dormir devido ao desconforto. Refere episódios recorrentes de exsudação e descamação nas áreas afetadas, além de sensação de ardência e hipersensibilidade. Refere também perda de peso recente devido à diminuição do apetite.
Histórico Familiar e Hábitos de Vida
- Histórico familiar: Não informado.
- Doenças prévias:
- História pregressa de Malária por Plasmodium falciparum em 1993, adquirido após estadia na Costa do Marfim, necessitando internação em UTI e tratamento experimental com halofantrina.
- Crises febris anuais por 20 anos após o episódio de malária.
- Hábitos de vida:
- Sono: Insônia severa há mais de um ano.
- Alimentação: Apetite reduzido.
- Atividade física: Redução significativa, agravada pela pandemia.
- Atividades de lazer: Fotografia e guitarra, porém com impacto na participação devido à condição dermatológica.
Exame Físico
- Pele:
- À inspeção, observam-se lesões eritematodescamativas extensas em região palmar bilateral, com áreas de fissuras e comprometimento da barreira cutânea. Em membros superiores, há placas eritematosas descamativas dispersas, com distribuição centrípeta, associadas a prurido intenso.
- Na região pré-tibial, destacam-se lesões espessas, hiperqueratóticas e inflamadas, com sinais de escoriações devido ao prurido. O paciente refere dor local significativa.
Exames Complementares
- Biópsia de pele (Dezembro de 2019): Padrão misto de psoríase e atopia.
Tratamentos Anteriores
O paciente passou por diversas abordagens terapêuticas ao longo dos anos, com respostas variáveis e, em alguns casos, eficácia limitada.
- Corticoterapia sistêmica: Foi submetido a um regime prolongado de Deflazacorte por 19 meses, sem benefícios clínicos significativos. Durante os últimos surtos, optou por suspender o uso de corticoides, sem alteração na evolução da doença, sugerindo uma resposta terapêutica insatisfatória.
- Terapias tópicas: Utilizou creme Lanette 0,1% de Triancinolona, porém a formulação alcoólica tornou a aplicação inviável devido à perda da barreira cutânea e dor intensa.
- Intervenções nutricionais e suplementação: Adotou uma dieta anti-inflamatória rigorosa, além da suplementação com DHA-EPA, Palmitoiletanolamida (PEA) e vitamina D3 + K2, visando modular a inflamação e fortalecer a resposta imunológica.
- Medicina integrativa: Buscou suporte terapêutico com acupuntura e homeopatia, incluindo o uso de Apis Hommacord e Lymphomyosot, sem relato de melhora significativa na evolução do quadro.
- Protocolos de desintoxicação: Realizou detox com Solar Vital e K2Co3 espargírico nebulizado em sessões semanais, com o objetivo de auxiliar na regulação do sistema imunológico e na homeostase inflamatória.
- Uso prévio de cannabis: Relata uso significativo de cannabis antes do tratamento atual, embora sem detalhamento específico sobre as formulações, vias de administração ou eficácia percebida.
Plano Terapêutico Atual
Diante da refratariedade aos tratamentos convencionais e da necessidade de uma abordagem mais abrangente, o paciente foi submetido a um plano terapêutico multidisciplinar, com foco no uso de canabinoides e estratégias complementares para controle da inflamação, alívio da dor e restauração da barreira cutânea.
1. Abordagem com Canabinoides
O tratamento com fitocanabinoides foi estruturado em três frentes principais, considerando vias de administração distintas para otimizar o efeito terapêutico:
- Via oral: Iniciado o uso de um extrato full spectrum lipossomado, quimiotipo II (THC/CBD balanceado), na concentração de 5 mg/ml (0,25 mg/gota). A dose estabelecida foi de 15 mg/dia, administrados em 20 gotas a cada 8 horas, visando um efeito sistêmico prolongado sobre a inflamação e o prurido.
- Via tópica: Aplicação de formulação à base de canabinoides (THC/CBD) enriquecida com terpenos bioativos, incluindo limoneno, betacariofileno, linalol, humuleno e óleo essencial de orégano, na concentração de 10 mg/ml (terpenos a 0,1%). O protocolo prevê aplicação tópica a cada 6 horas, direcionada às lesões mais sintomáticas, com o objetivo de modular a resposta inflamatória local e promover analgesia.
- Nebulização em crises de dor e prurido: Para controle de exacerbações agudas, foi introduzida a administração de um extrato hidrossolúvel full spectrum (THC/CBD), 5 mg/ml (0,25 mg/gota), com uso sob demanda de 0 a 20 mg/dia, ajustado conforme a necessidade do paciente. Essa estratégia visa um alívio rápido dos sintomas em momentos de intensificação da doença.
2. Estratégias Complementares
O manejo terapêutico foi complementado com medidas adjuvantes voltadas à regulação da resposta inflamatória e à melhora da função imunológica:
- Dieta anti-inflamatória rigorosa: Mantida como base do tratamento, buscando reduzir a ativação imunológica e minimizar potenciais gatilhos alimentares para exacerbação da psoríase.
- Acupuntura: Sessões diárias foram incorporadas como suporte para controle da dor e do estresse, considerando o impacto deste último como fator precipitante dos surtos.
- Modulação inflamatória com fitoterápicos e nutracêuticos: Introduzida recentemente a suplementação com Palmitoiletanolamida (PEA), Artemisia e Boswellia, com relatos de melhora na regressão das placas e no alívio do prurido.
Evolução Clínica
A resposta ao plano terapêutico apresentou um perfil dinâmico, com períodos de melhora seguidos de novos surtos, exigindo ajustes no manejo da doença.
Inicialmente, a administração tópica de canabinoides promoveu um leve alívio do prurido, o que contribuiu para maior conforto do paciente. Com a adoção rigorosa da dieta anti-inflamatória e a introdução de sessões diárias de acupuntura, observou-se uma melhora clínica significativa nos primeiros 10 dias. No entanto, apesar dessa resposta inicial, novos episódios agudos foram registrados, exigindo intervenções pontuais.
O último surto, ocorrido em abril de 2024, foi tratado com o protocolo previamente estabelecido, incluindo a combinação de canabinoides via oral, tópica e nebulizada. Além disso, foi introduzido o uso de psicodélicos, cuja influência na evolução clínica ainda está sendo analisada.
Uma observação relevante foi a comparação da evolução do quadro com e sem o uso de corticoides sistêmicos. O paciente utilizou deflazacorte por 19 meses, sem benefícios clínicos expressivos. Nos surtos mais recentes, não houve necessidade de corticoides nem de antibióticos, e a evolução foi semelhante à dos períodos em que esses fármacos foram administrados. Esse achado sugere que os corticoides sistêmicos não tiveram impacto significativo no controle da doença, reforçando a necessidade de estratégias terapêuticas alternativas.
Atualmente, a condição dermatológica do paciente se mantém estável, com redução na intensidade dos surtos e melhora progressiva do quadro inflamatório. O acompanhamento segue em curso, com ajustes terapêuticos contínuos conforme a resposta clínica.
Conclusões
A condução do caso evidencia a complexidade do manejo da psoríase em um paciente com múltiplos fatores desencadeantes e histórico de terapias convencionais sem eficácia sustentada. A estratégia terapêutica adotada, baseada em um enfoque multidisciplinar, demonstrou benefícios clínicos significativos, especialmente na redução do prurido e na estabilização dos surtos inflamatórios.
O uso de canabinoides em múltiplas vias de administração mostrou-se promissor, proporcionando alívio sintomático e contribuindo para a melhora da barreira cutânea. A associação de PEA, Artemisia e Boswellia também se destacou como um fator positivo no controle das placas e do prurido.
Outro aspecto relevante foi a identificação do estresse como um gatilho central para as exacerbações, reforçando a necessidade de estratégias de manejo psicossocial no controle da doença. Além disso, a eliminação dos corticoides sistêmicos não comprometeu a evolução clínica, sugerindo que esses fármacos não foram determinantes para a remissão dos surtos.
Em suma, este caso reforça a importância de uma abordagem individualizada, integrando fitoterapia, modulação inflamatória, suporte nutricional e terapias complementares. O acompanhamento contínuo será essencial para avaliar a evolução a longo prazo e otimizar a estratégia terapêutica conforme a necessidade do paciente.
As informações pessoais contidas neste caso clínico foram modificadas para preservar a identidade e a imagem do paciente, mantendo, no entanto, a veracidade e a integridade dos dados clínicos. Este é um relato baseado em um caso real, com base na documentação médica e nas observações clínicas realizadas durante o acompanhamento do paciente. A finalidade é compartilhar o tratamento e as estratégias adotadas em um cenário clínico de relevância, respeitando sempre a confidencialidade e a ética médica.
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