Cannabis para Fibromialgia: eficácia e benefícios terapêuticos

Publicado em 06/05/25 | Atualizado em 06/05/25 Leitura: 18 minutos

CanabinoidesCannabis como MedicamentoReumatológicas

A fibromialgia é uma síndrome de dor crônica não inflamatória que afeta aproximadamente 2 a 4% da população mundial, sendo mais prevalente em mulheres. Caracteriza-se por hiperalgesia difusa, fadiga debilitante, distúrbios do sono, disfunção cognitiva e sintomas emocionais, como ansiedade e depressão. Apesar de sua alta prevalência, os mecanismos fisiopatológicos subjacentes permanecem pouco compreendidos, limitando a eficácia dos tratamentos convencionais. 

Nesse cenário, o uso de canabinoides tem despertado interesse crescente na comunidade científica e médica, devido à sua capacidade de modular múltiplos sistemas biológicos envolvidos na fisiopatologia da fibromialgia. A atuação dos canabinoides no sistema endocanabinoide, associado à modulação da dor, regulação do sono e impacto positivo em estados emocionais, sugere um potencial terapêutico robusto. No post de hoje vamos abordar de forma técnica e baseada em evidências científicas, a eficácia e os benefícios terapêuticos da cannabis no manejo da fibromialgia.

Fibromialgia

A fibromialgia é uma é uma doença reumática caracterizada por dor músculo-esquelética crônica e difusa, frequentemente acompanhada por hiperalgesia (aumento da sensibilidade à dor) e alodinia (percepção dolorosa de estímulos não nocivos). Como outras doenças reumáticas—um grupo de condições que afetam articulações, músculos, tendões e tecidos conjuntivos—, a fibromialgia compromete significativamente a qualidade de vida dos pacientes.¹

Outros sintomas comuns incluem fadiga persistente, distúrbios do sono, disfunção cognitiva, ansiedade, depressão e uma maior prevalência de síndromes somáticas concomitantes, como a síndrome do intestino irritável. Embora sua etiologia não seja completamente elucidada, acredita-se que a fibromialgia seja uma condição multifatorial, envolvendo alterações na modulação da dor central, anormalidades no sistema nervoso autônomo e mecanismos neuroinflamatórios.¹

A base fisiopatológica da fibromialgia inclui alterações na neurotransmissão, como um aumento na excitação glutamatérgica e redução na atividade inibitória gabaérgica. Há também evidências de disfunção no sistema endocanabinoide, que desempenha um papel crucial na regulação da dor, humor, sono e resposta inflamatória. Essa disfunção pode contribuir para o desequilíbrio homeostático observado em pacientes com fibromialgia.¹

O diagnóstico da fibromialgia é essencialmente clínico e segue os critérios estabelecidos pelo American College of Rheumatology (ACR), com atualizações mais recentes de 2016 para refinar a identificação da condição. Os principais critérios incluem a presença de dor difusa em pelo menos quatro das cinco regiões corporais identificadas no Widespread Pain Index (WPI) por um período mínimo de três meses, sem outra condição subjacente que explique os sintomas. Além da Escala de Gravidade dos Sintomas (Symptom Severity Scale – SSS). Esses critérios foram criados para padronizar o diagnóstico, garantindo maior precisão e minimizando subjetividades na prática clínica.¹

O WPI avalia a extensão da dor em cinco regiões corporais, sendo determinado por meio de um diagrama em que o paciente identifica as áreas onde sentiu dor na última semana, considerando o uso de terapias e medicações em curso. As regiões avaliadas incluem: superior esquerda (mandíbula, cintura escapular, braço, antebraço), superior direita (mandíbula, cintura escapular, braço, antebraço), inferior esquerda (quadril/nádega, coxa, perna), inferior direita (quadril/nádega, coxa, perna) e axial ou central (pescoço, parte superior e inferior das costas, tórax, abdômen). A pontuação do WPI varia de 0 a 19, representando o número de áreas corporais com dor. Para que o diagnóstico de fibromialgia seja considerado, a dor deve estar presente em pelo menos quatro das cinco regiões, excluindo áreas específicas como mandíbula, tórax e abdômen.¹

Diagrama das regiões avaliadas pelo Índice de Dor Generalizada (WPI) no diagnóstico da fibromialgia. As áreas estão divididas em cinco regiões: superior esquerda (mandíbula, cintura escapular, braço, antebraço), superior direita (mandíbula, cintura escapular, braço, antebraço), inferior esquerda (quadril/nádega, coxa, perna), inferior direita (quadril/nádega, coxa, perna) e axial ou central (pescoço, parte superior e inferior das costas, tórax, abdômen). A dor deve estar presente em pelo menos quatro dessas regiões para atender aos critérios diagnósticos. Fonte: Wolfe, F., Clauw, D. J., Fitzcharles, M. A., Goldenberg, D. L., Häuser, W., Katz, R. L., Mease, P. J., Russell, A. S., Russell, I. J., Walitt, B. "2016 Revisions to the 2010/2011 Fibromyalgia Diagnostic Criteria," Seminars in Arthritis and Rheumatism, vol. 46, no. 3, pp. 319-329, 2016.
Diagrama das regiões avaliadas pelo Índice de Dor Generalizada (WPI) no diagnóstico da fibromialgia. As áreas estão divididas em cinco regiões: superior esquerda (mandíbula, cintura escapular, braço, antebraço), superior direita (mandíbula, cintura escapular, braço, antebraço), inferior esquerda (quadril/nádega, coxa, perna), inferior direita (quadril/nádega, coxa, perna) e axial ou central (pescoço, parte superior e inferior das costas, tórax, abdômen). A dor deve estar presente em pelo menos quatro dessas regiões para atender aos critérios diagnósticos. Fonte: Wolfe, F., Clauw, D. J., Fitzcharles, M. A., Goldenberg, D. L., Häuser, W., Katz, R. L., Mease, P. J., Russell, A. S., Russell, I. J., Walitt, B. “2016 Revisions to the 2010/2011 Fibromyalgia Diagnostic Criteria,” Seminars in Arthritis and Rheumatism, vol. 46, no. 3, pp. 319-329, 2016.

Já a SSS avalia a gravidade dos sintomas associados à fibromialgia, considerando quatro categorias principais: fadiga, sono não reparador, sintomas cognitivos e outros sintomas somáticos, como dores de cabeça, dor ou cãibras abdominais e depressão. Cada sintoma é classificado em uma escala de 0 a 3, com pontuações adicionais de 1 ponto para cada um dos sintomas somáticos presentes. A soma das pontuações resulta em um escore total que varia de 0 a 12, refletindo a intensidade global dos sintomas.¹

O diagnóstico de fibromialgia é confirmado se uma das seguintes condições for atendida: WPI igual ou superior a 7 e SSS igual ou superior a 5, ou WPI entre 4 e 6 com SSS igual ou superior a 9. Por exemplo, um paciente com WPI de 9 e SSS de 6 atende aos critérios diagnósticos, enquanto um paciente com WPI de 5 e SSS de 8 não os preenche.

Essas ferramentas são complementadas por uma avaliação clínica abrangente, que inclui a exclusão de outras condições com sintomas sobrepostos, como artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren e neuropatias periféricas. Exames laboratoriais, como hemograma, velocidade de hemossedimentação (VHS), fator reumatoide (FR) e anticorpos antinucleares (FAN), podem ser solicitados para descartar doenças autoimunes ou inflamatórias. A ausência de alterações significativas nesses exames apoia a hipótese diagnóstica de fibromialgia.

Os tratamentos convencionais frequentemente utilizados, como antidepressivos, anticonvulsivantes e analgésicos, fornecem alívio sintomático limitado, e muitos pacientes relatam insatisfação devido aos efeitos adversos e à eficácia inconsistente dessas abordagens. Nesse contexto, os canabinoides, compostos bioativos presentes na planta Cannabis sativa, têm emergido como uma alternativa promissora no manejo da fibromialgia devido à sua capacidade de interagir diretamente com o sistema endocanabinoide.  

Este sistema, composto por receptores, endocanabinoides e enzimas reguladoras, desempenha um papel fundamental na modulação da dor, do humor e de processos inflamatórios. Além disso, estudos científicos sugerem que os canabinoides, como o canabidiol (CBD) e o tetraidrocanabinol (THC), podem reduzir a hiperalgesia e a alodinia, sintomas característicos da fibromialgia, além de melhorar a qualidade do sono e o bem-estar geral dos pacientes. Essa abordagem oferece um potencial terapêutico significativo, particularmente para aqueles pacientes que não obtêm alívio satisfatório com as terapias convencionais.

Para saber mais sobre o papel da Cannabis no tratamento da Dor Crônica acesse: Cannabis no manejo da Dor Crônica – WeCann Academy 

O Sistema Endocanabinoide e a Fibromialgia

A fibromialgia é uma condição complexa cuja etiologia ainda não é totalmente compreendida. No entanto, estudos recentes sugerem que o sistema endocanabinoide (SEC) pode desempenhar um papel central na regulação de muitos dos processos envolvidos na doença. Esse sistema é composto por receptores canabinoides, ligantes endógenos e enzimas responsáveis por seu metabolismo, o SEC desempenha um papel crucial na modulação da dor, no controle da inflamação e na manutenção do equilíbrio emocional, aspectos intimamentes ligados à fisiopatologia da fibromialgia.

Os receptores CB1 e CB2, principais componentes do SEC, são encontrados em diversas estruturas do sistema nervoso central e periférico, bem como em tecidos periféricos como fibroblastos e células imunes. Na fibromialgia, acredita-se que a hiperatividade do sistema nervoso e a sensibilização central contribuam para a amplificação da dor.² O SEC atua diretamente nesses mecanismos ao regular a transmissão nociceptiva. O receptor CB1, presente em alta densidade no córtex pré-frontal e no sistema límbico, está associado ao controle das qualidades emocionais e cognitivas da dor, que são exacerbadas em pacientes com fibromialgia. Por outro lado, o receptor CB2, abundante em células imunológicas, modula a inflamação de baixo grau, outro fator associado à patogênese da doença.³

A teoria da Deficiência Endocanabinoide Clínica (DEC) propõe que uma disfunção na produção, metabolismo ou sinalização dos endocanabinoides, como a anandamida (AEA) e o 2-araquidonoilglicerol (2-AG), pode estar na base de diversas síndromes de dor crônica e desregulação do sistema nervoso central. A enxaqueca, a fibromialgia e a síndrome do intestino irritável (SII) são as condições mais estudadas dentro dessa hipótese, uma vez que compartilham mecanismos fisiopatológicos, incluindo hiperalgesia, sensibilização central e uma forte sobreposição clínica.4

Historicamente, essas síndromes foram frequentemente rotuladas como transtornos psicossomáticos devido à ausência de biomarcadores objetivos e à resistência ao tratamento convencional. No entanto, pesquisas recentes indicam que essas patologias podem estar relacionadas a um tônus endocanabinoide reduzido, levando a um limiar de dor mais baixo e a disfunções sistêmicas. Estudos clínicos demonstraram alterações estatisticamente significativas nos níveis de endocanabinoides em pacientes com essas condições. Por exemplo, níveis reduzidos de anandamida foram documentados no líquido cefalorraquidiano de indivíduos com enxaqueca, enquanto exames de neuroimagem indicaram uma hipofunção do sistema endocanabinoide no transtorno de estresse pós-traumático.4

A interligação entre enxaqueca, fibromialgia e SII não se limita aos sintomas sobrepostos, mas também se reflete na elevada comorbidade entre essas condições. Estudos indicam que 97% dos pacientes com fibromialgia apresentam cefaleias primárias, enquanto cerca de 32% dos indivíduos diagnosticados com fibromialgia também atendem aos critérios para SII. Além disso, pacientes com SII têm maior probabilidade de desenvolver fibromialgia ao longo da vida, sugerindo uma predisposição fisiopatológica comum.4

Além dessas condições, a hipótese da DEC pode abranger uma gama ainda mais ampla de distúrbios, incluindo cólica infantil, dismenorreia, transtorno de estresse pós-traumático, glaucoma e até transtornos psiquiátricos, como a doença bipolar. Embora os mecanismos exatos ainda estejam sendo elucidados, a crescente base de evidências sugere que estratégias terapêuticas voltadas para a modulação do sistema endocanabinoide — seja por meio de fitocanabinoides, moduladores enzimáticos ou abordagens integrativas — podem representar uma via promissora para o manejo dessas condições resistentes ao tratamento convencional.4

Um estudo realizado com 104 mulheres com fibromialgia e 116 controles saudáveis revelou que as concentrações de anandamida, 2-AG e outras moléculas relacionadas estavam significativamente elevadas nas pacientes com fibromialgia. Em particular, os níveis de 2-AG mostraram uma correlação positiva com a duração da doença e uma correlação negativa com os sintomas de dor, ansiedade, depressão e o estado geral de saúde.5

Por outro lado, os níveis de anandamida se correlacionaram positivamente com as classificações de depressão, sugerindo que essas alterações nos endocanabinoides representam uma tentativa compensatória do sistema endocanabinoide (SEC) para modular os sintomas da fibromialgia. Esses achados indicam que o SEC pode estar envolvido na fisiopatologia da fibromialgia, e que a modulação de seus componentes pode oferecer novas perspectivas terapêuticas para essa condição.5

Outro aspecto relevante do SEC na fibromialgia é sua presença em tecidos miofasciais. Esses tecidos, que desempenham um papel importante na percepção da dor, apresentam receptores canabinoides em fibroblastos e células associadas à fáscia. A ativação do SEC nesses tecidos pode ajudar a reduzir os pontos de gatilho miofasciais, aliviando a dor musculoesquelética característica da doença. Além disso, o SEC é capaz de modular a inflamação de baixo grau, frequentemente associada à fibromialgia, ao inibir a produção de citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e a interleucina-6 (IL-6).6

A imagem ilustra o papel do sistema endocanabinoide (SEC) na fibromialgia, com foco nos tecidos miofasciais, destacando a localização proposta da placa terminal motora associada à disfunção do ponto-gatilho. Superior: A interface entre o neurônio motor e a fibra muscular, onde ocorre a transmissão do sinal nervoso. Inferior: Nos tecidos miofasciais, os botões pré-sinápticos, que liberam acetilcolina (ACh), estão separados da célula muscular pós-sináptica pela fenda sináptica. Dentro desses botões, a ACh é liberada nas barras densas (Db), ativando os receptores nicotínicos (nACh) presentes na célula pós-sináptica, iniciando a resposta neuromuscular. Além disso, o SEC, presente em fibroblastos e células associadas à fáscia, tem um papel importante no alívio da dor miofascial, modulando a inflamação crônica e inibindo a produção de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α e IL-6. Fonte: McPartland, John. (2010). Fibromyalgia and the endocannabinoid system. Fibromyalgia Syndrome. 
A imagem ilustra o papel do sistema endocanabinoide (SEC) na fibromialgia, com foco nos tecidos miofasciais, destacando a localização proposta da placa terminal motora associada à disfunção do ponto-gatilho. Superior: A interface entre o neurônio motor e a fibra muscular, onde ocorre a transmissão do sinal nervoso. Inferior: Nos tecidos miofasciais, os botões pré-sinápticos, que liberam acetilcolina (ACh), estão separados da célula muscular pós-sináptica pela fenda sináptica. Dentro desses botões, a ACh é liberada nas barras densas (Db), ativando os receptores nicotínicos (nACh) presentes na célula pós-sináptica, iniciando a resposta neuromuscular. Além disso, o SEC, presente em fibroblastos e células associadas à fáscia, tem um papel importante no alívio da dor miofascial, modulando a inflamação crônica e inibindo a produção de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α e IL-6. Fonte: McPartland, John. (2010). Fibromyalgia and the endocannabinoid system. Fibromyalgia Syndrome.

O SEC emerge como um componente central na fisiopatologia da fibromialgia. As evidências científicas sugerem que o SEC pode ser uma via terapêutica promissora para o manejo dos sintomas dessa condição complexa, particularmente ao atuar sobre os receptores CB1 e CB2, que estão presentes no sistema nervoso central, nas células imunes e em tecidos periféricos como os miofasciais. A compreensão da DEC e a observação de alterações nos níveis de endocanabinoides em pacientes com fibromialgia reforçam a hipótese de que o SEC poderia ser uma ferramenta chave para aliviar a dor crônica e outros sintomas associados.

Evidências Científicas 

Diversos estudos científicos têm investigado os efeitos da cannabis e seus derivados no controle da dor e na melhoria da qualidade de vida em pacientes com fibromialgia, com resultados que sugerem benefícios consideráveis.

Um dos primeiros estudos relevantes sobre o uso de cannabis na fibromialgia foi conduzido por Skrabek et al. (2008), que realizaram um ensaio clínico randomizado e duplo-cego para avaliar a eficácia da nabilona, um análogo sintético do THC, no tratamento da dor crônica associada à fibromialgia. O estudo envolveu 40 pacientes diagnosticados com fibromialgia, que foram tratados com doses tituladas até 1 mg de nabilona, ou placebo, administrados duas vezes ao dia durante um período de 4 semanas.7

Os resultados mostraram que o grupo tratado com nabilona apresentou uma redução significativa nos escores de dor auto-relatada, além de uma melhoria no impacto funcional da fibromialgia e nos sintomas de ansiedade, em comparação com o grupo placebo. No entanto, a nabilona foi associada a uma maior incidência de efeitos colaterais, como sonolência e boca seca. Apesar disso, os autores concluíram que a nabilona poderia ser uma opção terapêutica viável e bem tolerada, proporcionando alívio substancial dos sintomas da fibromialgia, particularmente no controle da dor e no gerenciamento da ansiedade.7

Em 2010, outro estudo conduzido por Ware et al. comparou a eficácia da nabilona com a amitriptilina, um antidepressivo tricíclico comumente usado para tratar fibromialgia. O estudo foi um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e cruzado, envolvendo 29 pacientes com fibromialgia e insônia crônica. Os participantes receberam uma dose diária de 0,5-1 mg de nabilona ou 10-20 mg de amitriptilina antes de dormir, por um período de 4 semanas, com uma fase de cruzamento.8

Os resultados mostraram que tanto a nabilona quanto a amitriptilina melhoraram a qualidade do sono, mas a nabilona foi significativamente mais eficaz em várias métricas de avaliação da qualidade do sono e do descanso, como a redução de despertares noturnos e a melhoria no tempo total de sono. Esses achados sugerem que a nabilona pode ser uma alternativa eficaz para o tratamento de insônia associada à fibromialgia, com vantagens significativas  em vários testes de avaliação da qualidade do sono e repouso.8

Um estudo mais recente, realizado por Chaves et al. (2020) no Brasil, avaliou o efeito de um óleo de cannabis rico em THC (24,44 mg/mL de THC e 0,51 mg/mL de CBD) em 17 mulheres com fibromialgia. O estudo foi um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, com duração de 8 semanas. O grupo tratado com o óleo de cannabis demonstrou uma redução significativa nos escores do Questionário de Impacto da Fibromialgia (FIQ), especialmente nos itens relacionados à dor, fadiga e sensação de bem-estar.9

Esses resultados foram observados após 8 semanas de tratamento bem tolerado, sugerindo que a cannabis medicinal pode ser eficaz na melhoria dos principais sintomas da fibromialgia, com um perfil de segurança positivo. Não houve diferenças significativas nos escores basais do FIQ antes do tratamento, mas as melhorias observadas no grupo de tratamento indicam que a cannabis pode ajudar a reduzir o impacto global da fibromialgia na qualidade de vida dos pacientes.9

Esses estudos fornecem evidências de que os canabinoides, especialmente o THC, podem ser eficazes no controle da dor, na melhoria da qualidade do sono e no alívio dos sintomas funcionais e emocionais da fibromialgia. No entanto, a variabilidade nas respostas aos tratamentos com cannabis, aliada às diferenças nos protocolos de dosagem e nos tipos de cannabis utilizados, destaca a importância da medicina personalizada. 

Este conceito implica a adaptação do tratamento às características específicas de cada paciente, levando em consideração fatores genéticos, ambientais e clínicos, com o objetivo de maximizar a eficácia terapêutica e minimizar efeitos adversos. Dessa forma, a medicina personalizada é fundamental para determinar as dosagens ideais, os efeitos a longo prazo e os mecanismos de ação exatos dos compostos canabinoides. Além disso, é essencial compreender as interações entre os diferentes componentes da cannabis, como THC e CBD, para otimizar seu uso e proporcionar um tratamento mais eficaz e individualizado para pacientes com fibromialgia.

Conclusão

A cannabis medicinal demonstra um grande potencial como terapia para pacientes com fibromialgia, oferecendo alívio da dor, melhorias na qualidade do sono e benefícios emocionais. Sua capacidade de modular diversos mecanismos fisiopatológicos faz com que os canabinoides se tornem ferramentas valiosas no manejo dessa condição clínica complexa. Contudo, é essencial que médicos tenham acesso a informações baseadas em evidências. Nesse contexto, a WeCann, a maior comunidade online do mundo dedicada à medicina endocanabinoide, oferece uma plataforma única para médicos de diferentes especialidades e níveis de experiência. 

A Comunidade WeCann conta com mais de 3.000 profissionais de 15 países, isso proporciona um ambiente colaborativo para a troca de experiências e a discussão de casos clínicos desafiadores. A plataforma inclui recursos educativos valiosos, como as “WeCann Talks” e os “WeCann Rounds”, que permitem aos médicos atualizarem-se sobre estratégias prescritivas e aprimorarem suas abordagens terapêuticas. Além disso, a WeCann oferece um aplicativo exclusivo que facilita o acesso a fóruns de discussão e aulas gravadas, permitindo que médicos interajam com uma comunidade global, compartilhem conhecimentos e melhorem a confiança em suas decisões clínicas. 

Ao integrar a WeCann, médicos e acadêmicos de Medicina têm a oportunidade de aprimorar suas habilidades clínicas e oferecer tratamentos mais eficazes para pacientes com condições crônicas, muitas vezes refratárias e incapacitantes, como a fibromialgia. Com o avanço contínuo das pesquisas e da medicina endocanabinoide, a cannabis tem o potencial de se tornar um pilar central na abordagem multidisciplinar da fibromialgia.

Referências

  1. Wolfe F, Clauw DJ, Fitzcharles MA, Goldenberg DL, Häuser W, Katz RL, Mease PJ, Russell AS, Russell IJ, Walitt B. 2016 Revisions to the 2010/2011 fibromyalgia diagnostic criteria. Semin Arthritis Rheum. 2016 Dec;46(3):319-329. doi: 10.1016/j.semarthrit.2016.08.012. Epub 2016 Aug 30. PMID: 27916278.
  2. MONTAGNER, Patrícia; DE SALAS-QUIROGA, Adán. Tratado de Medicina Endocanabinoide.1. ed. WeCann Endocannabinoid Global Academy, 2023.
  3. SCICLUNA, Jean Claude; DI GIOVANNI, Giuseppe. Cannabinoids for fibromyalgia: an updated systematic review. Laboratory of Neurophysiology, Department of Physiology and Biochemistry, Faculty of Medicine and Surgery, University of Malta, Msida, Malta, 2024.
  4. Russo EB. Clinical Endocannabinoid Deficiency Reconsidered: Current Research Supports the Theory in Migraine, Fibromyalgia, Irritable Bowel, and Other Treatment-Resistant Syndromes. Cannabis Cannabinoid Res. 2016 Jul 1;1(1):154-165. doi: 10.1089/can.2016.0009. PMID: 28861491; PMCID: PMC5576607.
  5. Stensson, N. et al. The Relationship of Endocannabinoidome Lipid Mediators With Pain and Psychological Stress in Women With Fibromyalgia: A Case-Control Study. J. Pain 19,1318-1328 (2018).
  6. McPartland, John. (2010). Fibromyalgia and the endocannabinoid system. Fibromyalgia Syndrome. 263-277. 10.1016/B978-0-443-06936-9.00011-1. 
  7. Skrabek, R. Q, Galimova, L. Ethans, K. & Perry, D Nabilone for the Treatment of Pain in Fibromyalgia J. Pain 9, 164-173 (2008).
  8. Ware, M. A., Fitzcharles, M.-A., Joseph, L. & Shir, Y. The Effects of Nabilone on Sleep in Fibromyalgia: Results of a Randomized Controlled Trial. Anesth Analg. 110, 604-610 (2010).
  9. Chaves, C., Bittencourt, P. C. T. & Pelegrini, A. Ingestion of a THC-Rich Cannabis Oil in People with Fibromyalgia: A Randomized, Double-Blind, Placebo-Controlled Clinical Trial. Pain Med. 21, 2212-2218 (2020).
Esse texto foi elaborado pelo time de experts da WeCann, baseado nas evidências científicas partilhadas nas referências e, amparado na ampla experiência prescritiva dos profissionais.

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