Canabinol (CBN): usos e efeitos

Publicado em 10/09/25 | Atualizado em 10/09/25 Leitura: 9 minutos

Canabinol (CBN)Cannabis como MedicamentoEducação Médica

Nos últimos anos, o conhecimento sobre a cannabis tem se expandido para muito além dos canabinoides mais conhecidos, como o THC e o CBD. Entre os “canabinoides menores”, um tem atraído particular atenção: o canabinol (CBN). Diferente de seus semelhantes, que são produzidos diretamente pela planta de Cannabis, o CBN é um subproduto da degradação do THC quando este é exposto ao ar, à luz e ao calor por longos períodos. É por isso que o CBN é frequentemente associado à Cannabis envelhecida, e seu potencial terapêutico, embora ainda em fase de pesquisa, tem gerado um interesse crescente na comunidade científica e médica.

No post de hoje, vamos explorar o que é o CBN, como ele interage com nosso corpo e o que a ciência diz sobre seus possíveis benefícios, que vão desde o auxílio ao sono até um efeito potencial no combate a certos tipos de câncer

Canabinol

O canabinol é um fitocanabinoide menor, mas que tem gerado muito interesse na comunidade científica e médica. Ao contrário do THC e do CBD, que são produzidos diretamente pela planta cannabis, o CBN é, na verdade, um subproduto da degradação do THC

Quando o THC é exposto ao ar, à luz ou ao calor por um longo período, ele sofre um processo de oxidação e se converte em CBN. É por essa razão que o CBN é encontrado em maiores concentrações em plantas de cannabis mais velhas ou armazenadas de forma inadequada. O CBN tem uma história curiosa: foi o primeiro fitocanabinoide a ser isolado no final do século XIX, mas sua estrutura completa só foi determinada décadas depois, em 1940.¹

As estruturas dos "quatro grandes" fitocanabinoides [∆9-THC (1a), CBD (2a), CBG (3a) e CBC (4a)] e seus precursores ácidos (1b–4b), CBN (5a) e sua forma ácida CBNA (5b). Fonte: Maioli, Chiara et al. “Cannabinol: History, Syntheses, and Biological Profile of the Greatest "Minor" Cannabinoid.” Plants (Basel, Switzerland) vol. 11,21 2896. 28 Oct. 2022, doi:10.3390/plants11212896
As estruturas dos “quatro grandes” fitocanabinoides [∆9-THC (1a), CBD (2a), CBG (3a) e CBC (4a)] e seus precursores ácidos (1b–4b), CBN (5a) e sua forma ácida CBNA (5b). Fonte: Maioli, Chiara et al. “Cannabinol: History, Syntheses, and Biological Profile of the Greatest “Minor” Cannabinoid.” Plants (Basel, Switzerland) vol. 11,21 2896. 28 Oct. 2022, doi:10.3390/plants11212896

Mecanismo de ação e interação com o Sistema Endocanabinoide

Para entender como o canabinol (CBN) funciona, é crucial conhecer o Sistema Endocanabinoide (SEC). O SEC é uma rede de sinalização biológica extremamente importante, responsável por regular a homeostase — o equilíbrio interno do corpo — em diversas funções vitais, como sono, humor, apetite e dor. O CBN exerce sua influência principalmente interagindo com os receptores canabinoides, os principais alvos desse sistema.²

A maioria dos estudos se concentra nos dois principais subtipos de receptores: CB1 e CB2. O CBN atua como um agonista em ambos, o que significa que ele se liga e os ativa. No entanto, sua afinidade e potência são significativamente menores do que as do THC. Por exemplo, a afinidade do CBN pelos receptores CB1 é cerca de 10 vezes menor que a do THC. É por essa razão que o CBN não causa os efeitos psicotrópicos característicos do THC.³ 

Além de sua ação nos receptores canabinoides, o CBN também interage com outros alvos celulares, como os canais de potencial receptor transitório (TRP). Esses canais iônicos, localizados nas membranas celulares, são importantes para a percepção de estímulos químicos e físicos, incluindo dor, calor e frio. O CBN age como um agonista em canais como TRPV1, TRPV2, TRPV3 e TRPV4, enquanto atua como um potente antagonista em outros, como o TRPM8. Essa interação multifacetada contribui para os potenciais efeitos terapêuticos do CBN.4

Para saber mais sobre o Sistema Endocanabinoide acesse: Sistema Endocanabinoide: O que é? Por que estudar? – WeCann Academy

Usos e potenciais benefícios do CBN

A pesquisa sobre o CBN está em andamento, mas estudos pré-clínicos e alguns ensaios clínicos limitados sugerem vários potenciais benefícios terapêuticos.

  • Auxílio ao sono e sedação: O CBN é amplamente conhecido como o “canabinoide sonolento” na cultura popular, embora a evidência científica para isso tenha sido controversa por muitos anos. Estudos em roedores mostraram que o CBN pode aumentar o tempo total de sono e a estabilidade do sono, com efeitos comparáveis aos de medicamentos como o zolpidem.5
    • No entanto, esses estudos também notaram um efeito bifásico, com uma supressão inicial do sono antes de um aumento significativo. Um ensaio clínico de Fase 2, duplo-cego e controlado por placebo, descobriu que 20 mg de CBN, por si só, reduziu o número de despertares noturnos e melhorou a qualidade geral do sono, sem causar sonolência significativa no dia seguinte.6

 

  • Propriedades analgésicas e anti-inflamatórias: Estudos pré-clínicos sugerem que o CBN possui propriedades analgésicas e pode ser eficaz no tratamento de dores miofasciais e inflamatórias.7 Ele pode atenuar a produção de interleucinas e, em combinação com outros canabinoides como o CBD, pode ser útil no tratamento de condições como a epidermólise bolhosa, uma doença rara da pele. Um estudo de Fase 2 para essa aplicação está atualmente em andamento.8

 

  • Potencial anticancerígeno: Uma pesquisa recente avaliou o efeito do CBN e de outros canabinoides em linhagens de células de mieloma múltiplo (MM) em laboratório. Os resultados indicaram que o CBN foi um dos mais eficazes na inibição do crescimento e indução da morte celular necrótica das células cancerígenas.9 Em um modelo de camundongo, o tratamento com CBN reduziu significativamente a massa tumoral, sem apresentar toxicidade evidente. Além disso, o CBN também reduziu a reabsorção óssea e a invasão de células cancerígenas em direção ao osso, sugerindo seu potencial no tratamento de complicações ósseas associadas ao MM.9

 

  • Atividade antibacteriana: O CBN demonstrou ser um potente agente antibacteriano, eficaz até mesmo contra cepas de bactérias resistentes a antibióticos, como a MRSA (Staphylococcus aureus resistente à meticilina).10

 

O CBN é geralmente considerado seguro, mas como qualquer substância ativa, é fundamental ter cautela. Embora os efeitos colaterais sejam mínimos, a sonolência diurna é um risco potencial, principalmente em doses mais altas.11 

Além disso, a possibilidade de interações medicamentosas exige cautela. Assim como outros canabinoides, o CBN pode interferir no metabolismo de fármacos, o que ressalta a necessidade de uma avaliação clínica completa, especialmente em pacientes em polifarmácia.

Conclusão

Em suma, o canabinol (CBN) emerge como um canabinoide de grande potencial terapêutico, com propriedades que vão além da mera sedação. Sua capacidade de interagir com o sistema endocanabinoide e outros alvos celulares abre caminhos promissores para o tratamento de condições como a insônia, agitação psicomotora, inflamações e até mesmo o câncer. 

Contudo, é fundamental ressaltar que a maioria dessas descobertas ainda se baseia em estudos pré-clínicos. A necessidade de mais pesquisas, especialmente ensaios clínicos qualificados em humanos, é crucial para confirmar a eficácia, segurança e dosagem ideal do CBN. Apesar do potencial promissor, é essencial que os médicos adotem uma abordagem cautelosa e orientada ao explorar as possibilidades terapêuticas do CBN.

Prepare-se para o Futuro: Certificação Internacional da WeCann Academy 

Diante desse cenário terapêutico em constante evolução, os médicos são convocados a desempenhar um papel fundamental na orientação segura e eficaz do uso da cannabis medicinal. Isso exige não apenas domínio das bases farmacológicas e clínicas dos fitocanabinoides, mas também atualização contínua sobre as diretrizes regulatórias, a literatura científica e a experiência prática acumulada em diferentes especialidades.

Mais do que uma nova classe terapêutica, os derivados canabinoides representam uma verdadeira transformação na prática clínica — centrada no paciente, na personalização das estratégias prescritivas e na integração entre ciência de ponta e medicina humanizada. Neste novo cenário, estar preparado é essencial.

A Certificação Internacional em Medicina Endocanabinoide da WeCann Academy surge como uma oportunidade estratégica para médicos que desejam se posicionar na vanguarda da medicina contemporânea. Com uma formação robusta, alinhada às melhores práticas clínicas e reconhecida internacionalmente, a WeCann Academy capacita o profissional a prescrever cannabis medicinal com segurança, domínio técnico e sensibilidade clínica.

Investir nessa Certificação é investir na transformação da qualidade de vida de pacientes crônicos e refratários e no fortalecimento de uma carreira médica sólida e reconhecida.

Inicie sua jornada de aprendizado com a WeCann Academy agora: Certificação em Medicina Endocanabinoide – WeCann Academy

image1 12 1

Referências

  1. Maioli, Chiara et al. “Cannabinol: History, Syntheses, and Biological Profile of the Greatest “Minor” Cannabinoid.” Plants (Basel, Switzerland) vol. 11,21 2896. 28 Oct. 2022, doi:10.3390/plants11212896
  2. MONTAGNER, Patrícia; DE SALAS-QUIROGA, Adán. Tratado de Medicina Endocanabinoide.1. ed. WeCann Endocannabinoid Global Academy, 2023.
  3. Rhee M.-H., Vogel Z., Barg J., Bayewitch M., Levy R., Hanuš L., Breuer A., Mechoulam R. Cannabinol Derivatives: Binding to Cannabinoid Receptors and Inhibition of Adenylylcyclase. J. Med. Chem. 1997;40:3228–3233. doi: 10.1021/jm970126f.
  4. De Petrocellis L., Ligresti A., Moriello A.S., Allarà M., Bisogno T., Petrosino S., Stott C.G., Di Marzo V. Effects of Cannabinoids and Cannabinoid-Enriched Cannabis Extracts on TRP Channels and Endocannabinoid Metabolic Enzymes: Novel Pharmacology of Minor Plant Cannabinoids. Br. J. Pharmacol. 2011;163:1479–1494. doi: 10.1111/j.1476-5381.2010.01166.x.
  5. Arnold, J.C., Occelli Hanbury-Brown, C.V., Anderson, L.L. et al. A sleepy cannabis constituent: cannabinol and its active metabolite influence sleep architecture in rats. Neuropsychopharmacol. 50, 586–595 (2025). https://doi.org/10.1038/s41386-024-02018-7
  6. Bonn-Miller MO, Feldner MT, Bynion TM, Eglit GML, Brunstetter M, Kalaba M, et al. A double-blind, randomized, placebo-controlled study of the safety and effects of CBN with and without CBD on sleep quality. Exp Clin Psychopharmacol. 2024;32:277-–84.
  7. Wong H., Cairns B.E. Cannabidiol, Cannabinol and Their Combinations Act as Peripheral Analgesics in a Rat Model of Myofascial Pain. Arch. Oral Biol. 2019;104:33–39. doi: 10.1016/j.archoralbio.2019.05.028.
  8. InMed Announces Update on Phase 2 Clinical Trial Investigating INM-755 Cannabinol Cream for Epidermolysis Bullosa. [(accessed on 15 September 2022)].
  9. Aguzzi C, et al. Anticancer effect of minor phytocannabinoids in preclinical models of multiple myeloma. Biofactors. 2024; 50:1208-1219. doi: 10.1002/biof.2078
  10. Appendino G., Gibbons S., Giana A., Pagani A., Grassi G., Stavri M., Smith E., Rahman M.M. Antibacterial Cannabinoids from Cannabis sativa: A Structure−Activity Study. J. Nat. Prod. 2008;71:1427–1430. doi: 10.1021/np8002673.
Esse texto foi elaborado pelo time de experts da WeCann, baseado nas evidências científicas partilhadas nas referências e, amparado na ampla experiência prescritiva dos profissionais.

Mantenha-se atualizado. Cadastre-se e receba conteúdos exclusivos e tecnicamente qualificados.


    Ao assinar, você concorda com a política de privacidade.

    Assine nossa
    
newsletter.

      Ao assinar, você concorda com a política de privacidade.

      Artigos relacionados