A psoríase é uma doença inflamatória crônica da pele que afeta milhões de pessoas no mundo. Caracteriza-se pela formação de placas avermelhadas, escamosas e frequentemente pruriginosas, resultantes da proliferação acelerada de células da epiderme. Além do impacto físico, a psoríase pode acarretar significativo sofrimento psicológico e redução da qualidade de vida dos pacientes afetados.
Os tratamentos convencionais para psoríase incluem corticosteroides tópicos, análogos da vitamina D, fototerapia, medicamentos imunossupressores e biológicos. Embora muitos pacientes respondam satisfatoriamente a estas terapias, alguns apresentam resposta insuficiente ou efeitos colaterais indesejáveis, motivando a busca por alternativas terapêuticas.
Neste contexto, a cannabis (Cannabis sativa) e seus derivados têm despertado crescente interesse na comunidade científica e entre pacientes com psoríase. As propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras dos canabinoides, principais componentes ativos da cannabis, sugerem potencial terapêutico para condições inflamatórias da pele, incluindo a psoríase.
No post de hoje vamos explorar as evidências científicas disponíveis sobre o uso da cannabis e seus derivados no tratamento da psoríase, discutindo os mecanismos de ação propostos, resultados de estudos pré-clínicos e clínicos, considerações sobre segurança e perspectivas futuras para essa abordagem terapêutica.
Compreendendo a Psoríase
A psoríase é uma doença imunoinflamatória, cutaneoarticular, crônica e recorrente que afeta aproximadamente 1-3% da população mundial. Caracteriza-se por hiperplasia epidérmica, ciclo evolutivo acelerado dos queratinócitos e ativação imune inapropriada, resultando clinicamente em lesões típicas eritematoescamosas, de tamanhos variáveis, em placas, com limites bem precisos e, por vezes, circundadas por halo periférico claro (halo de Woronoff). As escamas são, em geral, argênticas, e os locais mais frequentemente acometidos incluem face extensora dos membros, principalmente cotovelos e joelhos, tronco, região sacra e couro cabeludo, com prurido presente em aproximadamente 80% dos casos.¹
A etiologia da psoríase é multifatorial, com determinantes genéticos, imunológicos (desregulação de componentes do sistema imunológico inato e adaptativo), ambientais e psicológicos. A doença apresenta distribuição universal, ocorrendo em ambos os sexos, embora seja rara em negros, com dois picos de incidência: entre 20-30 anos e 50-60 anos de idade.
As manifestações clínicas da psoríase são diversas, podendo ser classificadas em diferentes subtipos: vulgar (placas), gutata ou eruptiva (numerosas pequenas placas inflamatórias de início agudo, frequentemente após infecções estreptocócicas), pustulosa (erupção pustulosa aguda, subaguda ou crônica), eritrodérmica (eritema cutâneo e escamas envolvendo a maior parte ou toda a superfície corporal), ungueal, invertida, zosteriforme, mínima, ceratodérmica e artropática. O diagnóstico é basicamente clínico, podendo-se observar o fenômeno de Koebner (desenvolvimento de lesões em locais de trauma cutâneo) e o sinal de Auspitz (sangramento pontual após remoção da escama).
O curso clínico da psoríase é imprevisível. A forma em placas tende a ser crônica, mas pode apresentar variabilidade acentuada na gravidade ao longo do tempo. A psoríase gutata pode regredir espontaneamente, recorrer ou progredir para a forma em placas crônica, enquanto a pustulosa generalizada geralmente segue curso instável e prolongado sem tratamento. Em crianças, a psoríase pode apresentar particularidades, como maior envolvimento da face, couro cabeludo ou áreas intertriginosas, e o envolvimento da área da fralda pode ser a manifestação inicial em lactentes.¹
Embora tradicionalmente considerada uma doença dermatológica isolada, evidências crescentes apoiam o reconhecimento da psoríase como uma doença inflamatória crônica multissistêmica com múltiplas comorbidades. Diversos distúrbios extracutâneos estão associados à psoríase, incluindo artrite psoriática, obesidade, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e vasculares periféricas, malignidades, doenças autoimunes, doença renal crônica, doença hepática gordurosa não alcoólica, arritmias cardíacas, doença pulmonar obstrutiva crônica, apneia obstrutiva do sono, alterações ósseas, parkinsonismo, além de efeitos psicossociais e distúrbios psiquiátricos. A natureza inflamatória crônica da psoríase contribui para estas associações, destacando a importância de uma abordagem integral na avaliação e manejo destes pacientes.¹
O impacto da psoríase na qualidade de vida é substancial e frequentemente subestimado. Estudos demonstram que o comprometimento na qualidade de vida pode ser comparável ao observado em câncer, artrite, hipertensão, doenças cardíacas, diabetes e depressão. A pele representa uma importante dimensão da imagem corporal, e seu comprometimento, sobretudo em áreas visíveis, pode acarretar significativo sofrimento psíquico. Taxas elevadas de várias psicopatologias, incluindo baixa autoestima, disfunção sexual, ansiedade, depressão e ideação suicida são relatadas em pacientes com psoríase. O sucesso ocupacional também pode ser negativamente afetado, com taxas mais baixas de emprego e diminuição da produtividade laboral.²
O tratamento convencional da psoríase envolve abordagens tópicas, sistêmicas e fototerapia, escolhidas conforme a gravidade da doença e as necessidades individuais do paciente. Os corticosteroides tópicos são a primeira linha para casos leves, proporcionando alívio rápido, mas seu uso prolongado pode levar à taquifilaxia e à atrofia cutânea. Os análogos da vitamina D oferecem uma alternativa mais segura, embora possam causar irritação local e tenham eficácia moderada.¹
A fototerapia é uma opção eficaz para casos moderados a graves, mas exige comparecimento frequente às sessões e apresenta um risco cumulativo de carcinogênese cutânea. Entre os imunossupressores sistêmicos, o metotrexato destaca-se pelo custo acessível e boa eficácia, embora possa causar hepatotoxicidade, mielossupressão e teratogenicidade. A ciclosporina, por sua vez, proporciona um controle rápido da doença, mas seu uso prolongado é limitado pelos riscos de nefrotoxicidade e hipertensão.¹
Os agentes biológicos, incluindo inibidores de TNF-α, IL-17 e IL-23, revolucionaram o tratamento da psoríase moderada a grave, promovendo altas taxas de clareamento cutâneo e melhora na qualidade de vida. No entanto, esses medicamentos apresentam desafios significativos, como alto custo, necessidade de administração parenteral, potencial perda de eficácia ao longo do tempo devido à imunogenicidade e maior risco de infecções oportunistas.¹
Neste contexto de complexidade terapêutica e impacto significativo na qualidade de vida, a cannabis medicinal emerge como candidata promissora no horizonte terapêutico da psoríase. O uso da cannabis medicinal no manejo da psoríase pode representar um avanço significativo, oferecendo alívio sintomático e melhora na qualidade de vida de pacientes que enfrentam desafios com as terapias convencionais.
Além de suas propriedades anti-inflamatórias, os canabinoides demonstram potencial na modulação da dor, prurido e estresse, fatores que impactam diretamente o bem-estar dos pacientes. Ao atuar tanto nos sintomas físicos quanto nos aspectos psicossociais da doença, a cannabis medicinal pode contribuir para uma abordagem terapêutica mais personalizada, permitindo maior controle da psoríase e proporcionando uma vida com mais conforto e equilíbrio.
Canabinoides e Psoríase: Mecanismos e potencial terapêutico
A psoríase é uma doença inflamatória crônica da pele caracterizada pela hiperproliferação de queratinócitos e uma resposta imunológica desregulada, levando a lesões cutâneas eritematosas e descamativas. O sistema endocanabinoide (SEC) desempenha um papel crucial na regulação desses processos, sugerindo que os canabinoides podem ser uma estratégia terapêutica promissora para o manejo da doença.
Os receptores canabinoides CB1 e CB2 estão expressos na pele, desempenhando funções distintas e por vezes multifacetadas na modulação inflamatória e regenerativa. A ativação do receptor CB1, por exemplo, está envolvida em diversos processos cutâneos, incluindo a regulação da proliferação de queratinócitos.³
Embora alguns estudos apontem que, sob certas condições, sua ativação possa influenciar a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) e citocinas inflamatórias como o TNF-α, seu papel geral no equilíbrio oxidativo e inflamatório da pele é complexo e dependente do contexto celular. Em contraste, a ativação do receptor CB2 demonstra efeitos predominantemente anti-inflamatórios e antioxidantes, com potencial para reduzir ROS e mediadores inflamatórios, o que pode ser benéfico no controle de condições como a psoríase.³
Os fitocanabinoides, como o canabidiol (CBD) e o tetraidrocanabinol (THC), apresentam propriedades terapêuticas relevantes no contexto da psoríase. O CBD regula o equilíbrio de cálcio nos queratinócitos, reduzindo sua proliferação excessiva e a liberação de citocinas pró-inflamatórias, como IL-6 e IL-8. Além disso, sua interação com receptores α2-adrenérgicos e 5-HT1A promove a liberação de adenosina e a captura de ROS, reduzindo danos oxidativos.³
O THC e o CBD contribuem para o alívio da dor e do prurido associados às lesões psoriáticas através de múltiplos mecanismos. Um deles reside na sua capacidade de atuar como moduladores alostéricos de receptores opioides. Adicionalmente, e de forma relevante para o quadro psoriático, esses compostos podem inibir a proliferação de queratinócitos por vias que podem ser tanto dependentes quanto independentes dos receptores CB1 e CB2. Tais vias alternativas incluem a ativação de canais TRPV1 e receptores PPARγ, os quais são importantes na modulação dos processos inflamatórios e angiogênicos.³
Outro mecanismo relevante é a inibição de enzimas como FAAH e MAGL, que degradam endocanabinoides, como anandamida e 2-AG. Essa inibição aumenta a disponibilidade desses compostos, regulando a resposta imune e o equilíbrio redox na pele. Além disso, a modulação de mediadores lipídicos, como os eicosanoides, contribui para a redução da inflamação cutânea.³
Estudos in vitro demonstram que o CBD possui propriedades antioxidantes e antibacterianas, protegendo os queratinócitos contra danos induzidos por UV e reduzindo a expressão de metaloproteinases, que degradam a matriz extracelular.4 Além disso, o CBD promove a ativação da via Nrf2/ARE, aumentando a expressão de antioxidantes e reduzindo a resposta inflamatória mediada pelo NF-κB. Essas propriedades indicam que os fitocanabinoides podem oferecer proteção contra o estresse oxidativo induzido por UV e por agentes químicos, tornando-se candidatos promissores para formulações no tratamento da psoríase.5
Os canabinoides, ao interagirem com o sistema endocanabinoide, demonstram um grande potencial terapêutico na psoríase, devido aos seus efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e imunomoduladores. As evidências científicas mais recentes indicam que esses compostos podem oferecer uma abordagem promissora no manejo desta doença crônica e debilitante.
Para saber mais sobre como funciona o Sistema Endocanabinoide acesse: O que é o Sistema Endocanabinoide?
Cannabis além da Psoríase: Uma abordagem integrativa
A psoríase não se limita apenas às lesões cutâneas, mas está frequentemente associada a uma série de comorbidades (como artrite psoriática, doenças cardiovasculares, distúrbios psiquiátricos como ansiedade e depressão) e a gatilhos que podem agravar o quadro clínico, como estresse, infecções e distúrbios do sono. Nesse cenário, a cannabis, com seu complexo perfil de canabinoides como CBD (canabidiol), THC (tetrahidrocanabinol) e CBG (cannabigerol), oferece um potencial terapêutico significativo não apenas para o controle direto da psoríase, mas também para a gestão das condições associadas e dos gatilhos da doença.
Controle do Estresse e da Ansiedade
O estresse é um dos principais gatilhos para o desenvolvimento e a exacerbação da psoríase, pois pode induzir a liberação de citocinas pró-inflamatórias, agravando a inflamação cutânea e intensificando a atividade das células T, que são fundamentais na patogênese da doença. O estresse crônico, além disso, está associado à ativação do sistema nervoso autônomo e ao aumento de hormônios como o cortisol, que, por sua vez, potencializam a resposta inflamatória.
A ansiedade, frequentemente desencadeada por fatores estressantes, é uma condição comórbida que pode agravar o quadro psoriático, formando um ciclo vicioso de exacerbação de sintomas físicos e emocionais. Nesse contexto, intervenções que visam modular a resposta ao estresse e à ansiedade têm mostrado potencial terapêutico importante para o controle dos surtos de psoríase.
Nesse sentido, um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, investigou a segurança e eficácia da nabilona, um análogo sintético do THC, no tratamento da ansiedade. O estudo incluiu 25 pacientes com ansiedade grave, que receberam doses mínimas de 1 mg duas vezes ao dia, com ajustes progressivos feitos pelos pesquisadores, sem ultrapassar 10 mg diários, ao longo de 28 dias.6
Os resultados indicaram uma melhora significativa na ansiedade no grupo tratado com nabilona, em comparação com o grupo placebo, com efeitos colaterais leves, como boca seca, olhos secos e sonolência. A redução da ansiedade, ao diminuir a ativação do sistema nervoso autônomo, pode contribuir para a diminuição do estresse e, consequentemente, para o controle da psoríase, já que ambos os processos estão intimamente interligados na exacerbação da doença.6
Melhora do Sono
Distúrbios do sono, particularmente a insônia, são comuns entre pacientes com psoríase e podem agravar a inflamação cutânea, interferindo nos mecanismos de reparo celular e no controle da resposta imunológica. A qualidade do sono está intimamente relacionada à função imunológica e ao equilíbrio inflamatório, sendo um fator crucial para a manutenção da homeostase fisiológica. O uso de canabinoides, especialmente o CBD e o THC, tem sido amplamente associado à melhora da qualidade do sono, graças aos seus efeitos sedativos e relaxantes, que auxiliam no alívio da ansiedade e na promoção de um sono mais profundo e reparador.
Um estudo de caso com 103 pacientes adultos avaliou os efeitos do CBD nos sintomas de ansiedade e nos distúrbios do sono. Durante o primeiro mês, os escores de ansiedade diminuíram significativamente em 79,2%, e mantiveram-se baixos durante os três meses de acompanhamento. Quanto aos distúrbios do sono, 48 pacientes (66,7%) apresentaram melhora no primeiro mês, embora os escores de sono tenham mostrado variações ao longo do tempo.7
A maioria dos pacientes foi tratada com 25 mg de CBD/dia em cápsulas, com a dose administrada pela manhã para queixas predominantes de ansiedade e à noite para distúrbios do sono. Alguns pacientes receberam doses mais altas, variando de 50 a 75 mg de CBD/dia, com resultados igualmente positivos para a melhoria do sono. Esses achados indicam que o uso de cannabis medicinal pode ser uma abordagem eficaz no tratamento de distúrbios do sono em pacientes com psoríase.7
Alívio da Dor:
A artrite psoriática, uma comorbidade frequentemente observada em pacientes com psoríase, é marcada por dor crônica e rigidez articular, o que pode prejudicar significativamente a qualidade de vida. O tratamento dessa dor é muitas vezes complicado, pois muitos pacientes não respondem adequadamente aos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e sofrem com seus efeitos colaterais. Nesse contexto, a utilização de canabinoides, como o CBD e o THC, tem atraído crescente interesse devido às suas propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, mostrando-se uma alternativa promissora no manejo da dor crônica associada à psoríase.
Estudos recentes têm lançado luz sobre os efeitos biológicos do CBD em modelos celulares, sugerindo um potencial significativo no tratamento da dor articular. Em uma pesquisa realizada por Winklmayr et al. (2020), o CBD foi avaliado em culturas de condrócitos humanos, com o objetivo de entender seus mecanismos celulares na resposta à inflamação e lesão. Os resultados demonstraram que concentrações de CBD superiores a 4 μM reduziram a viabilidade celular, aumentaram os níveis de cálcio intracelular e estimularam a fosforilação de quinases reguladas por sinal extracelular 1/2.8
Mais notavelmente, esses efeitos foram acompanhados por um aumento na população de células apoptóticas, sugerindo que o CBD poderia induzir a morte celular programada em condrócitos danificados. A ação do CBD parece ser mediada, em parte, pelo receptor CB1, visto que a aplicação do antagonista AM251 inibiu a entrada de cálcio e reduziu os efeitos tóxicos do CBD, sugerindo um mecanismo dependente de receptores canabinoides.8
Esses resultados reforçam a hipótese de que o CBD pode agir não apenas no alívio da dor, mas também na modulação da inflamação crônica e da morte celular nas articulações, abrindo caminho para o seu uso no tratamento de doenças articulares degenerativas.
Embora a cannabis não substitua as terapias convencionais para o tratamento direto da psoríase, os canabinoides apresentam um potencial terapêutico abrangente no manejo das comorbidades associadas e na gestão dos gatilhos da doença. A modulação do estresse, a melhora da qualidade do sono, o alívio da dor da artrite psoriática, a regulação do sistema imunológico e as propriedades analgésicas tornam a cannabis uma opção valiosa como parte de uma abordagem terapêutica integrada para os pacientes com psoríase.
Evidências científicas
A aplicação de canabinoides no tratamento da psoríase tem sido respaldada por estudos clínicos que reforçam sua eficácia e segurança, particularmente no uso tópico. Uma das investigações mais robustas sobre o tema foi conduzida por Puaratanaarunkon et al. (2021), em um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, que avaliou a ação de uma pomada contendo CBD a 2,5% em 51 pacientes com psoríase em placas.9
Os participantes aplicaram a formulação duas vezes ao dia durante 12 semanas, sendo monitorados quanto à redução do eritema, descamação, induração das lesões e área afetada. O grupo tratado com CBD apresentou melhora clínica significativa já na segunda semana de uso, com benefícios mantidos até o final do estudo. Esses achados corroboram a capacidade do CBD de modular a inflamação cutânea e reduzir a hiperproliferação queratinocítica, elementos centrais na fisiopatologia da psoríase.9
Além desse estudo controlado, outras investigações reforçam os efeitos benéficos dos canabinoides em apresentações tópicas. Em um estudo observacional, um shampoo contendo CBD de amplo espectro (0,075%) foi testado em 50 pacientes com psoríase leve a moderada no couro cabeludo ou dermatite seborreica. Após duas semanas de uso regular, os pacientes relataram redução expressiva do prurido, ardência e inflamação, acompanhada de melhora na descamação e na vascularização das lesões. Além disso, a formulação demonstrou excelente tolerabilidade, sem relatos de efeitos adversos relevantes, evidenciando sua viabilidade como estratégia complementar no manejo de dermatoses inflamatórias.10
Outro estudo de relevância clínica foi a série de casos publicada por Palmieri et al. (2019), que avaliou uma pomada enriquecida com CBD aplicada duas vezes ao dia por três meses em 20 pacientes com diferentes doenças dermatológicas, incluindo cinco casos de psoríase. O tratamento resultou em melhora significativa da gravidade das lesões, redução de sintomas subjetivos e otimização dos parâmetros gerais da pele, sem eventos adversos documentados. Esses resultados reforçam o potencial do CBD como uma alternativa segura e eficaz para modular a inflamação cutânea e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.11
Com base nessas evidências, os canabinoides despontam como uma abordagem terapêutica promissora para a psoríase, oferecendo um mecanismo de ação inovador que pode ser uma alternativa aos tratamentos convencionais. Sua capacidade de modular o sistema endocanabinoide e regular a resposta inflamatória cutânea sugere uma alternativa potencialmente benéfica, especialmente para pacientes com doença refratária ou intolerância às terapias tradicionais.
Conclusão
A atuação dos canabinoides no sistema endocanabinoide e em outros alvos moleculares pode contribuir para o controle da hiperproliferação de queratinócitos, redução da inflamação e alívio de sintomas como prurido e dor. Os estudos científicos indicam que os derivados da cannabis podem representar uma abordagem inovadora para o manejo da psoríase.
À medida que novas pesquisas são conduzidas, a cannabis medicinal pode consolidar seu papel no tratamento da psoríase, especialmente para pacientes que não obtêm alívio adequado com as terapias convencionais. No entanto, é essencial que seu uso seja orientado por profissionais de saúde, garantindo segurança e eficácia na abordagem individualizada da doença. O avanço da ciência na área dos canabinoides pode abrir caminhos para novas opções terapêuticas, melhorando a qualidade de vida de milhares de pacientes que convivem com essa condição crônica.
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Referências
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