Casos Clínicos: Astrocitoma Pilomixoide em paciente pediátrico

Publicado em 06/09/25 | Atualizado em 06/09/25 Leitura: 11 minutos

Cannabis como Medicamentocaso clínicoEducação MédicaNeurológicasOncológicas

Identificação

Paciente do sexo masculino, 1 ano (no diagnóstico inicial em 2018), como o diagnóstico Astrocitoma Pilomixoide Supraquiasmático.

Apresentação do Caso Clínico

Este é o caso de um paciente do sexo masculino, com 1 ano de idade na época do diagnóstico inicial, que apresentava um quadro clínico de astrocitoma pilomixoide supraquiasmático metastático. Trata-se de um tumor cerebral extremamente raro, com localização que o tornava inoperável.

Quatro meses antes da primeira avaliação para o tratamento complementar, o paciente já apresentava uma série de sintomas graves: náuseas persistentes, vômitos, fortes dores de cabeça e alterações de visão. Esses sintomas progrediram rapidamente, resultando em cegueira bilateral total devido à compressão do nervo óptico pelo tumor.

Apesar de já ter iniciado o tratamento oncológico convencional com Vinblastina, a doença continuava a progredir de forma agressiva. A família, ciente do prognóstico reservado e buscando alternativas para melhorar a qualidade de vida e, se possível, estabilizar a progressão da doença, procurou uma abordagem terapêutica complementar.

Nesse ponto, o paciente já tinha perdido totalmente a visão, e as ressonâncias magnéticas indicavam um quadro de hipertensão intracraniana, com a possibilidade iminente da necessidade de uma cirurgia para a inserção de uma válvula de derivação ventrículo-peritoneal. O prognóstico inicial, dada a raridade e agressividade do tumor, era de uma sobrevida variável de 1 a 4 anos. O caso demonstra a urgência e a complexidade de encontrar um tratamento eficaz para uma doença com poucas opções terapêuticas conhecidas.

Paciente com sua família no hospital
Paciente com sua família no hospital

Antecedentes pessoais

Devido ao avanço da doença, suas atividades diárias eram severamente limitadas pela cegueira e pela fraqueza física, resumindo-se a brincadeiras e interações dentro de casa com os pais.

Além dos sintomas físicos do tumor, a criança apresentava um quadro clínico que afetava significativamente sua qualidade de vida:

  • Estado Emocional: Um quadro de ansiedade, possivelmente relacionado ao desconforto e às limitações impostas pela doença.
  • Sono: Padrão de sono irregular, um sintoma comum em pacientes com tumores cerebrais e hipertensão intracraniana.
  • Hábitos Alimentares e Intestinais: Apetite reduzido e hábitos intestinais diarreicos, que contribuíam para o seu baixo peso.

Esses sintomas somados ao diagnóstico primário ressaltavam a necessidade de um tratamento que fosse além da oncologia convencional, buscando o alívio integral do sofrimento do paciente.

Exame Físico

Ao exame físico, o paciente apresentava-se em estado geral bom, consciente e reativo ao som e toque.

Peso de 10 kg, considerado dentro da faixa de normalidade para a sua idade, apesar do relato de apetite reduzido. Os sinais vitais mostravam uma frequência cardíaca regular de 110 bpm e uma frequência respiratória de 25 irpm. A temperatura corporal era de 36,8°C. A inspeção geral não revelou sinais de desnutrição ou desidratação, e a pele e as mucosas apresentavam boa coloração.

  • Cabeça e Pescoço: Crânio de forma e tamanho normais para a idade. Não havia sinais de aumento da circunferência craniana que indicassem hidrocefalia no momento do exame. Pescoço sem linfonodos palpáveis ou rigidez.
  • Oftalmológico: Cegueira bilateral total, confirmada pela ausência de resposta à luz e de reflexo de piscar.
  • Cardiopulmonar: Ausculta cardíaca e pulmonar dentro da normalidade, sem sopros ou ruídos adventícios.
  • Abdômen: Abdômen flácido, sem visceromegalia ou massas palpáveis. Ruídos hidroaéreos aumentados, compatíveis com o quadro diarreico relatado.
  • Sistema Nervoso: O paciente estava alerta e interagia com o ambiente por meio do som. A coordenação motora era limitada pela cegueira, mas a força muscular em membros superiores e inferiores era preservada. Presença de tônus muscular normal, sem reflexos patológicos.

O exame físico reforçava a gravidade do caso, com a cegueira total sendo o achado mais significativo e diretamente relacionado à compressão do nervo óptico pelo tumor.

Exames Complementares

RNM do encéfalo em corte sagital.
RNM do encéfalo em corte sagital.

O diagnóstico foi confirmado por exames de imagem, que revelaram um astrocitoma pilomixoide supraquiasmático. O paciente apresentava problemas de hipertensão intracraniana, monitorados de perto, com a possibilidade de necessitar de uma derivação ventrículo-peritoneal no futuro. As ressonâncias magnéticas posteriores foram cruciais para o monitoramento da estabilidade e do crescimento do tumor.

Lista de problemas

  • P1: Astrocitoma Pilomixoide Supraquiasmático Metastático.
  • P2: Cegueira bilateral total. 
  • P3: Náuseas, vômitos e cefaleia persistentes. Sec.Hipertensão Intracraniana?
  • P4: Ansiedade.
  • P5: Sono irregular.
  • P6: Apetite reduzido.
  • P7: Hábitos intestinais diarreicos.

Tratamento com Cannabis

Proposta Terapêutica Inicial

Apesar da quimioterapia convencional com Vinblastina, o tumor do paciente continuava a progredir. Diante desse cenário e buscando uma melhoria significativa na qualidade de vida e um possível controle da doença, a equipe médica, em conjunto com a família, optou por integrar a terapia canabinoide ao tratamento oncológico. A estratégia inicial focou em mitigar os sintomas debilitantes da criança e otimizar seu bem-estar geral.

Início e Ajustes do Tratamento

O tratamento farmacológico com canabinoides de espectro completo (full espectrum) foi iniciado em 1º de dezembro de 2018. A via de administração escolhida foi a oral/sublingual. Para o tratamento, foram selecionados dois quimiotipos: um com predominância de THC (3% THC, equivalente a 1 mg/gota) e outro com predominância de CBD (10% CBD, equivalente a 3,3 mg/gota).

A dose diária inicial consistiu em 6 mg de THC e 20 mg de CBD. A posologia do THC foi dividida em 1-1-4 gotas, priorizando a administração noturna para auxiliar no sono. O CBD foi administrado em 3-0-3 gotas. A resposta ao tratamento foi notavelmente rápida e positiva. Em apenas uma semana, a família relatou uma melhora expressiva nos sintomas. O paciente passou a dormir melhor, vomitar menos e estava mais ativo, sem apresentar os efeitos colaterais do THC, que foi bem tolerado na dose de 1 mg/kg/dia.

Após 15 dias, a estabilidade clínica se manteve, e as doses foram ajustadas em 17 de dezembro de 2018. A dose de CBD foi aumentada para 5-3-5 gotas por dia, totalizando 4,2 mg/kg/dia. Já o THC foi ajustado para uma combinação de dois quimiotipos, elevando a dose diária para 1,5 mg/kg/dia.

Evolução e Suspensão do Tratamento

Três meses depois, em 27 de março de 2019, um novo medicamento oncológico, Trametinib, foi introduzido. A equipe médica avaliou as possíveis interações e concluiu que era seguro prosseguir com a terapia canabinoide em paralelo. O paciente seguiu o tratamento combinado por um ano, mantendo-se estável e com boa qualidade de vida, sem interações medicamentosas significativas. A família chegou a relatar que ele estava bem o suficiente para frequentar a creche.

RNM do encéfalo em corte sagital.
RNM do encéfalo em corte sagital.

Em julho de 2020, o tratamento com canabinoides foi suspenso, pois o tumor demonstrava estar inativo e a família enfrentava dificuldades financeiras.

Retomada e Novo Protocolo

Após um período de dois anos, o tumor cerebral voltou a apresentar crescimento. Em agosto de 2023, a família decidiu retomar a terapêutica complementar à base de cannabis, dessa vez, com uma nova abordagem, que incluía o uso de canabinoides lipossomais para otimizar a absorção e biodisponibilidade.

RNM do encéfalo em cortes sagital e coronal
RNM do encéfalo em cortes sagital e coronal

O tratamento utilizou uma combinação de canabinoides como THC, CBG, CBD, THCA e CBDA, na tentativa de explorar o efeito entourage para otimizar os resultados terapêuticos. O perfil terpênico dos extratos também foi considerado, com a presença de compostos como Mirceno, Terpinoleno, Limoneno, Beta Cariofileno e Geraniol, conhecidos por suas propriedades anti-inflamatórias e ansiolíticas. O novo protocolo incluiu:

  • CBD-C Lipossomal: 6/6/6 gotas, totalizando 5,4 mg de CBD/dia.
  • T80 THC Lipossomal: 3/3/3 gotas, totalizando 2,92 mg de THC/dia.
  • CBG: 2/2/2 gotas, totalizando 19,8 mg de CBG/dia.
  • THCA: 1/1/1 gotas, totalizando 19,8 mg de THCA/dia.

Além da terapia com canabinoides, o plano de tratamento do paciente incluiu uma abordagem abrangente de suplementação e fitoterápicos, visando potencializar a resposta imunológica e o bem-estar geral.

Suplementação: A suplementação foi cuidadosamente selecionada para apoiar o organismo do paciente, com os seguintes compostos e dosagens:

  • Magnésio (Mg): 200 mg
  • Astaxantina: 5 mg
  • Coenzima Q10 (Q10): 100 mg
  • Quercetina: 100 mg
  • Resveratrol: 150 mg
  • Manganês (Mn): 2 mg
  • Cobre (Cu): 1 mg
  • Zinco (Zn): 20 mg
  • Vitamina C: 300 mg
  • Vitamina E: 200 UI
  • N-acetilcisteína: 300 mg
  • Vitamina D3 + K2
  • DHA / EPA

Fitoterápicos: O tratamento também incorporou fitoterápicos e cogumelos medicinais, conhecidos por suas propriedades de modulação imunológica e suporte neurológico:

  • Hericium
  • Cordyceps
  • Ganoderma
  • Chá Verde

Em setembro de 2024, a família relatou que, apesar de pequenos percalços de saúde, como um resfriado, o paciente estava bem. Uma ressonância recente confirmou a estabilidade do tumor. A família continua o tratamento, ajustando as doses conforme a necessidade, demonstrando a eficácia e segurança da terapia a longo prazo.

Paciente com 7 anos de idade e saudável
Paciente com 7 anos de idade e saudável

Imagem do paciente com 7 anos de idade e saudavel

Conclusão

O caso clínico apresentado ilustra a complexidade de tratar um astrocitoma pilomixoide supraquiasmático metastático em um paciente pediátrico, uma condição gravíssima, com prognóstico reservado. A abordagem multidisciplinar, que incluiu a terapia com canabinoides e uma suplementação abrangente, demonstrou ser crucial para a melhora da qualidade de vida e, muito provavelmente, para a a estabilização da doença.

A introdução precoce da terapia canabinoide resultou em uma melhora notável dos sintomas mais debilitantes — náuseas, vômitos e insônia —, permitindo que a criança vivesse com mais conforto e qualidade de vida. A evolução do quadro mostra que a terapia não apenas aliviou os sintomas, mas possivelmente, também contribuiu para a estabilidade do tumor por um período prolongado, mesmo em um contexto de falha da quimioterapia convencional.

A reativação do tumor após a suspensão do tratamento com canabinoides e a posterior estabilização com a retomada da terapia e a inclusão de um novo protocolo reforçam a importância da terapia complementar contínua em casos oncológicos graves. Este caso destaca o papel fundamental dos canabinoides e de outros compostos naturais como adjuvantes terapêuticos. Eles não apenas oferecem alívio sintomático, mas também atuam em sinergia com o tratamento oncológico, oferecendo uma perspectiva de melhor qualidade, mesmo diante de um diagnóstico tão desafiador.

As informações pessoais contidas neste caso clínico foram modificadas para preservar a identidade e a imagem do paciente, mantendo, no entanto, a veracidade e a integridade dos dados clínicos. Este é um relato baseado em um caso real, fundamentado na documentação médica e nas observações clínicas realizadas durante o acompanhamento do paciente. A finalidade é compartilhar o tratamento e as estratégias adotadas em um cenário clínico de relevância, respeitando sempre a confidencialidade e a ética médica.

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