Ômega 3 e o Sistema Endocanabinoide: entenda a sinergia dessa interação

 

Ter um bom balanceamento de ácidos graxos essenciais é fundamental para o equilíbrio do organismo. Quando a ingestão de ácidos graxos, a exemplo do ômega 3 não ocorre de forma apropriada, muitas funções vitais podem ficar comprometidas, contribuindo para o surgimento de problemas de saúde como hipertensão arterial, obesidade, diabetes, doenças auto-imunes e até diferentes tipos de câncer.

Com a descoberta do Sistema Endocanabinoide (SEC) no final da década de 80, muito se aprendeu sobre o papel desse Sistema na mediação de substâncias como o ômega 3 e seus efeitos modulatórios para a homeostase do organismo. É disso que falaremos neste post. Continue a leitura e entenda a sinergia dessa interação!

 

Qual a importância do ômega 3 para o organismo?

Os ácidos graxos essenciais são fundamentais para o equilíbrio homeostático e para a composição estrutural das membranas celulares, em especial das células do sistema nervoso central. São assim chamados por não serem produzidos em quantidade suficiente pelo próprio organismo. Portanto, é necessário ingeri-los para suprir essa demanda e manter o equilíbrio de diversas funções fisiológicas.

Dietas ricas em peixes, nozes, frutas vermelhas e vegetais de folhas verdes representam uma fonte primária rica para a ingestão de ômega 3. Infelizmente, nas dietas ocidentais, esse consumo não é frequentemente explorado. Não é à toa, que a indústria global de suplementos de ômega 3 cresce a cada ano.

Em 2002, a pesquisa de Simopoulos – publicada na revista científica Biomedicine & Pharmacotherapy – já apontava que a carência na ingestão primária de ômega 3 contribui para condições crônicas de saúde que afligem cada vez mais os países ocidentais, como  doenças cardiovasculares, doenças auto-imunes e diversos tipos de câncer. 

A descoberta do Sistema Endocanabinoide pela Ciência nos auxilia no entendimento e na busca pela mediação dos efeitos do ômega 3 para a saúde. Os endocanabinoides derivados do ômega 3 desempenham papel modulatório no SEC, evitando o desenvolvimento e progressão de uma série de processos inflamatórios crônicos.

 

ômega 3 sistema endocanabinoide

Como os ácidos graxos da Cannabis interagem com o SEC?  

Embora as dietas modernas tendam a substituir o ômega 3 por outros ácidos graxos menos importantes, como o ômega 6, a proporção de consumo considerada ideal para a saúde em relação a esses dois ácidos graxos essenciais se mantém em 3:1 ou 2:1. Quanto menor a proporção, melhor. É aí que os produtos derivados da Cannabis ganham destaque, pois eles têm a proporção ideal de ácidos graxos que o organismo necessita, os quais interagem com o SEC de duas formas principais.

A primeira delas é de fundamental importância. Os endocanabinoides, que o nosso próprio organismo produz, são derivados, ou seja, subprodutos do ômega 3. A segunda maneira pela qual os ácidos graxos interagem com o SEC envolve especificamente o receptor CB1, que está densamente presente no sistema nervoso central. Vamos entender melhor como se dão essas interações.

 

Endocanabinoides derivados do ômega 3

Dois dos três principais tipos de ácidos graxos ômega 3 envolvidos na fisiologia humana – ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA) – produzem substâncias que se ligam aos receptores endocanabinoides CB1 e CB2. Por isso, esses derivados do ômega 3  também são considerados substâncias endocanabinoides.

Em estudo publicado em 2019, pesquisadores holandeses evidenciaram o potencial anti-inflamatório e imunomodulador dos ácidos graxos e o impacto dos derivados do ômega 3 nas concentrações séricas dos endocanabinoides anandamida e 2-AG.

Isso explica por que quando nossa ingestão de ômega 3 se desvia muito da proporção ideal, diversos sistemas no organismo – desde o cérebro até o intestino – podem perder o equilíbrio fisiológico, sendo em alguns casos, decisivo para o desenvolvimento e progressão de determinadas doenças.

 

O receptor CB1 e a deficiência de ômega 3

Na última década, pesquisas científicas evidenciaram que uma dieta rica em ômega 3 apresenta um efeito benéfico nas funções do receptor endocanabinoide CB1, amplamente presente no Sistema Nervoso Central.

Ou seja, enquanto a deficiência dietética de ômega 3 comprometeria o funcionamento adequado do receptor CB1, a ingestão de ômega 3 aumentaria a sensibilidade desse receptor, favorecendo a homeostase do organismo, em especial das funções neurológicas.

É por isso também, que os produtos à base de Cannabis, por conterem a proporção ideal de ácidos graxos essenciais, têm sido tão explorados para modular o Sistema Endocanabinoide no contexto de doenças neuropsiquiátricas.

Informação e conhecimento são as chaves para atuar com assertividade no uso dos produtos à base de Cannabis para fins terapêuticos, de modo a explorar ao máximo o potencial dos mais de 500 compostos químicos presentes nessa planta.

 

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Referências

DE BUS, Ian; WITKAMP, Renger; ZUILHOF, Han; ALBADA, Bauke; BALVERS, Michiel. The role of n-3 PUFA-derived fatty acid derivatives and their oxygenated metabolites in the modulation of inflammation. Prostaglandins Other Lipid Mediat, v. 144, 2019.

LAFOURCADE, Mathieu; et. al. Nutritional omega-3 deficiency abolishes endocannabinoid-mediated neuronal functions. Nature Neuroscience, 2011.

SIMOPOULOS, Ap. The importance of the ratio of omega-6/omega-3 essential fatty acids. Biomedicine & Pharmacotherapy, v. 56, 2002.

 

Esse texto foi elaborado pelo time de experts da WeCann, baseado nas evidências científicas partilhadas nas referências e, amparado na ampla experiência prescritiva dos profissionais.

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