Potencial dos derivados canabinoides no câncer de pele

 

Os melanomas são responsáveis por 75% das mortes por câncer de pele, tendo em vista a capacidade metastática do melanoma para atingir o tecido linfático e os vasos sanguíneos. Esses dados do Instituto Vencer o Câncer ajudam a compreender a importância de se explorar mais alternativas de tratamento e prevenção da doença.

Os derivados canabinoides demonstram potencial nesse contexto. Não à toa, têm sido frequentes as iniciativas da indústria farmacêutica para patentear produtos à base de Cannabis de uso tópico, os quais reúnem desde propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, até propriedades antineoplásicas. É disso que falaremos neste post, exploraremos o potencial dos canabinoides no câncer de pele, em especial, no melanoma baseando-se nas evidências científicas mais recentes. Confira!

 

A relação entre os canabinoides e o câncer de pele

A descoberta do Sistema Endocanabinoide (SEC) pela ciência no fim do século XX nos possibilitou entender o potencial terapêutico da Cannabis na regulação de diversos processos fisiológicos e patológicos no corpo humano. Os endocanabinoides e seus receptores estão espalhados por todo o organismo, e são especialmente abundantes no sistema tegumentar. 

Isso significa que os produtos à base de Cannabis são capazes de interagir também com a nossa pele. E podem, portanto, ser explorados como alternativas de uso tópico para o tratamento de uma série de doenças, a exemplo da acne, prurido, eczema, psoríase, dermatite atópica, neoplasias de pele e feridas de difícil cicatrização, como lesões varicosas ou lesões por pressão.

Especificamente em relação ao câncer de pele e ao melanoma, o uso tópico de loções e óleos à base de derivados canabinoides tem o potencial de inibir as células neoplásicas e também, prevenir o surgimento das mesmas. A seguir, falaremos de algumas evidências científicas sobre o potencial dos canabinoides no câncer de pele.

 

Potencial antineoplásico dos canabinoides 

Estudos indicam que a ação dos fitocanabinoides nos nervos sensoriais, em células inflamatórias e nas estruturas anexas à pele é capaz de reduzir o prurido, aliviar a dor e promover a morte de células neoplásicas na epiderme.

Um exemplo é um experimento realizado por pesquisadores estadunidenses em 2020, o qual mostra que a ativação dos receptores CB1 e CB2 pelo fitocanabinoide CBD resultou na inibição do crescimento, proliferação e metástase de melanomas em ratos.

>> Acesse aqui o artigo sobre o experimento: Effects of cannabidiol (CBD) on the inhibition of melanoma cells in vitro, de Rosemary Burch, Asif Mortuza, Elliott Blumenthal, Ahmed Mustafa.

 

Outro estudo, também publicado em 2020 na revista científica Molecular Sciences, traz evidências semelhantes com base em uma revisão bibliográfica, que reforça o potencial dos canabinoides no contexto do câncer de pele.

>> Veja o estudo Roles of Cannabinoids in Melanoma: Evidence from In Vivo Studies, de Ava Bachari, Terrence J Piva, Seyed Alireza Salami, Negar Jamshidi, Nitin Mantri.

Os autores destacaram os resultados positivos de 6 experimentos in vivo nos quais o uso de canabinoides, individualmente ou combinados, reduziu o crescimento de células neoplásicas de melanoma,  promovendo a apoptose e a autofagia dessas células cancerígenas.

Esta outra pesquisa, publicada em 2020 no periódico científico Journal of Cancer Research and Therapeutics, investigou a eficácia da administração de canabinoides em células de melanoma de camundongos, comparando o uso de um extrato de Cannabis individualmente e também, em associação com uma dose única de radiação ionizante.

Os resultados evidenciaram que a administração do extrato de cannabis sozinho ou em associação com a radiação ionizante promoveu a necrose das células neoplásicas de melanoma. A radiação ionizante sozinha, por sua vez, não teve nenhum efeito antiproliferativo, e também, não potencializou os efeitos antiproliferativos dos canabinoides quando utilizada em combinação com o extrato.

 

>> Para saber mais a respeito, leia o artigo Effects of standardized Cannabis sativa extract and ionizing radiation in melanoma cells in vitro, de Jamal Naderi, Nasim Dana, Shaghayegh Haghjooy Javanmard, Alireza Amooheidari, Maryam Yahay, Golnaz Vaseghi.

Destacamos ainda esta pesquisa, publicada em 2017 no periódico científico Iranian Journal of Basic Medical Sciences, que também traz resultados otimistas quanto ao potencial dos canabinoides no combate ao câncer de pele.

As proteínas Tau e Stathmin são as proteínas-chave nas metástases desse tipo de câncer. Neste experimento, a administração de canabinoides diminuiu significativamente a migração celular e a expressão dos genes das proteínas Tau e Stathmin em comparação ao grupo controle.

>> Veja detalhes deste experimento no artigo Standardized Cannabis sativa extract attenuates tau and stathmin gene expression in the melanoma cell line, de Golnaz Vaseghi, Mohamad Javad Taki, Shaghayegh Haghjooy Javanmard.

 

E o famoso óleo de Rick Simpson?

São frequentes os relatos de casos de controle tumoral, inclusive, de controle de câncer de pele, após o uso de cannabis medicinal. Esse cenário tem estimulado o interesse crescente por pacientes e familiares em utilizar formulações à base de Cannabis no contexto de câncer. 

Diagnosticado com câncer de pele em 2003, Rick Simpson “patenteou” um processo caseiro de extração de óleo de Cannabis – que foi bastante difundido pela internet, estimulando pessoas em todo o mundo a produzirem esse óleo de cannabis por conta própria. Porém, não há embasamento científico comprovado por trás desse experimento, o que torna a prática, sobretudo, potencialmente perigosa.

Do ponto de vista químico, a produção do Rick Simpson Oil (RSO) – como ficou conhecido – é perigosa porque envolve um processo de extração do óleo por hidrocarbonetos derivados do petróleo, que são substâncias tóxicas e altamente inflamáveis. 

O protocolo de dosagem proposto por Rick Simpson também está muito provavelmente equivocado, pois envolve uma dosagem extremamente elevada de THC (acima de 1.000mg/dia), que invariavelmente está associada a muitos efeitos colaterais e é dificilmente tolerada pelos pacientes. Além disso, conforme estudos científicos indicam, essa dosagem é provavelmente desnecessária para induzir os efeitos antineoplásicos dos canabinoides.

 

>> Para saber mais a respeito do potencial antineoplásico dos canabinoides, confira nosso material rico “Cannabis como adjuvante terapêutico no paciente com câncer

Cannabis como adjuvante terapêutico no paciente com câncer

 

Prescrições seguras de produtos à base de Cannabis demandam uma formação adequada na área, que conecte embasamento científico e ampla experiência prática. Somente assim, os médicos poderão usufruir ao máximo do potencial dos canabinoides no câncer de pele e em outras doenças cujos efeitos terapêuticos da Cannabis já são bastante conhecidos e explorados.

 

Se você tem interesse na área, entre em contato conosco e veja como fazer parte da nossa comunidade global de estudos em Medicina Endocanabinoide!

 


Referências

Bachari A, Piva TJ, Salami SA, Jamshidi N, Mantri N. Roles of Cannabinoids in Melanoma: Evidence from In Vivo Studies. Int J Mol Sci. 2020.

Burch R, Mortuza A, Blumenthal E, Mustafa A. Effects of cannabidiol (CBD) on the inhibition of melanoma cells in vitro. J Immunoassay Immunochem. 2021.

Naderi J, Dana N, Javanmard SH, Amooheidari A, Yahay M, Vaseghi G. Effects of standardized Cannabis sativa extract and ionizing radiation in melanoma cells in vitro. J Cancer Res Ther. 2020.

Vaseghi G, Taki MJ, Javanmard SH. Standardized Cannabis sativa extract attenuates tau and stathmin gene expression in the melanoma cell line. Iran J Basic Med Sci. 2017.

Esse texto foi elaborado pelo time de experts da WeCann, baseado nas evidências científicas partilhadas nas referências e, amparado na ampla experiência prescritiva dos profissionais.

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