Resumo do Segundo Dia do WeCann Summit 2024 – Sexta-feira, 25 de Outubro

Publicado em 15/09/25 | Atualizado em 17/09/25 Leitura: 15 minutos

Educação MédicaSem categoriaSistema Endocanabinoide

O segundo dia do WeCann Summit 2024, realizado no Royal Palm Hall em Campinas-SP, manteve o alto nível de discussões e intercâmbio de conhecimentos sobre a medicina endocanabinoide, com palestras, mesas redondas e uma série de atividades interativas que atraíram profissionais de diversas áreas. O evento, promovido pela WeCann Academy, foi palco de apresentações inovadoras e discussões enriquecedoras que exploraram tanto as perspectivas científicas quanto práticas da cannabis medicinal.

Plenária Raphael Mechoulam

A plenária abordou vários aspectos do impacto da disfunção do Sistema Endocanabinoide (SEC) em doenças crônicas, com a participação de Paola Pineda. Ela destacou a importância do microbioma, reforçando que “se não sabe por onde começar, comece pelo intestino”, e mencionou que o SEC tem papel crucial na redução da inflamação e modulação mitocondrial. Paola sugeriu que, ao modular o SEC, é importante estar atento à saúde mitocondrial, e ressaltou que a deficiência do SEC pode estar ligada a diversas disfunções crônicas.

Ela abordou a relação do SEC com doenças como Alzheimer, onde os receptores CB1 e CB2 estão envolvidos; Parkinson, com foco nos receptores GPR55, CB1, CB2 e endocanabinoides como anandamida e 2-AG; Huntington, Esclerose Múltipla, Síndrome de Tourette e Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em doenças reumáticas e respiratórias, ela explicou o aumento dos receptores vaniloides tipo 1 em pacientes asmáticos, bem como mutações genéticas que agravam casos de infecção pelo vírus sincicial respiratório.

No contexto de lesões cerebrais, como o AVC, Paola destacou o papel do SEC na neuromodulação e neuroproteção, especialmente em situações de liberação excessiva de glutamato. A interação do cortisol com o SEC também foi mencionada, uma vez que o aumento da enzima FAAH leva à redução da anandamida, desestabilizando o sistema.

Apresentação na Plenária Raphael Mechoulam
Apresentação na Plenária Raphael Mechoulam

Na sequência, Adán de Salas discutiu a farmacocinética da cannabis, abordando os processos de absorção, metabolização e eliminação, além da variação na absorção conforme as vias de administração, que são escolhidas de acordo com as necessidades do paciente. Logo, em seguida, Patrícia Montagner apresentou fundamentos prescritivos, mostrando relatos de pacientes com fibromialgia e os impactos positivos do uso da cannabis em suas vidas.

Fundadora da Octopi Wellness, plataforma que auxilia médicos em tratamentos com cannabis baseados em evidências, Mara Gordon apresentou a Teoria do Efeito Entourage, que propõe que a planta funciona melhor como um todo do que moléculas isoladas, afirmando que “é uma farmácia dentro de uma planta”. Ela destacou a importância de conhecer todas as moléculas da cannabis, pois mesmo isolados, fitocanabinoides e terpenos têm efeitos comprovados. Ela utilizou a metáfora de que o efeito entourage é como um bolo de chocolate, onde a união dos componentes gera o sabor completo, não apenas os componentes isolados.

 

Alberto Ulloa abordou o uso de produtos isolados, explicando que esses podem ser utilizados para tratar diversas patologias, devendo-se atentar às interações medicamentosas tanto para produtos isolados quanto para a planta completa. Durante a sessão de perguntas, os especialistas discutiram o impacto da cannabis em doenças psiquiátricas, com Ulloa enfatizando que, na Alemanha, a psiquiatria ainda é cética quanto ao uso medicinal da cannabis, devido à escassez de dados concretos e ao histórico de uso recreativo e dependência.

Na sequência, no período da tarde, Ricardo Ferreira discutiu um caso clínico de dor crônica em um paciente com capsulite adesiva, que já usava cannabis recreativa ocasionalmente. O paciente foi tratado com CBD Full Spectrum, PEA (palmitoiletanolamida) e canabigerol (CBG), resultando em melhora significativa da dor. Ele mencionou também um caso de enxaqueca, onde o tratamento incluiu CBD e, eventualmente, flores com CBD dominante para vaporizar, visando o alívio das crises.

Casos adicionais foram apresentados por Tina Horsted e Joe Kosterich. Um deles incluía uma paciente de 68 anos com fibromialgia e outras comorbidades, como hipotireoidismo e osteoporose, que relatou melhora significativa da qualidade de vida após tratamento com cannabis. Houve também uma discussão sobre o uso de cannabis tópica para dores localizadas, que ainda está em desenvolvimento.

No campo da psiquiatria, Alberto Ulloa abordou o uso da cannabis no tratamento da esquizofrenia, destacando o potencial do SEC para modular vias neurais glutamatérgicas e gabaérgicas. Em um caso específico, um paciente com Esquizofrenia foi tratado com doses crescentes de CBD, chegando a até 1200 mg por dia, com melhora significativa dos sintomas.

Logo em seguida, Mery Peña apresentou um caso de dependência alcoólica em um homem de 38 anos, e Kirsten Müller-Vahl discutiu o uso de cannabis no tratamento da Síndrome de Tourette. Muller trouxe casos de pacientes pediátricos com Tourette tratados com Dronabinol e flores de cannabis, mostrando redução nos tiques e melhora na interação social e qualidade de vida, sem efeitos colaterais significativos.

Plenária Elisaldo Carlini

Durante a Plenária Elisaldo Carlini, os especialistas abordaram casos clínicos e trouxeram perspectivas práticas e inovadoras no uso de cannabis e psicodélicos para diferentes condições, especialmente para populações específicas como idosos e pacientes com condições complexas. 

Harry MacIlroy compartilhou insights sobre o potencial terapêutico da psilocibina para crises de dor e ansiedade. Ele enfatizou a importância de individualizar o tratamento, ilustrando com casos de dois pacientes com perfis completamente distintos, onde cada abordagem foi ajustada de forma personalizada. Segundo ele, um paciente relatou o alívio em conseguir levantar da cama e caminhar após o tratamento, um marco significativo para sua qualidade de vida. Essa individualização da terapia permite que as necessidades específicas de cada pessoa sejam atendidas, potencializando os efeitos positivos.

Na sessão sobre cannabis para idosos, Sofia Maiorana abordou questões relacionadas ao envelhecimento e ao sistema endocanabinoide, onde destacou que, com o envelhecimento, ocorre uma redução dos receptores CB1 e alterações nos níveis de endocanabinoides. Ela citou estudos com ratos que demonstraram que pequenas doses de THC melhoraram a cognição nos mais velhos, com respostas diferentes dos indivíduos mais jovens. 

Sofia também explicou a relevância das quimiovariantes da cannabis e observou que idosos, de modo geral, não apresentaram efeitos adversos significativos com o THC, ao contrário dos jovens. Ela enfatizou o efeito entourage — uma interação sinérgica entre os diferentes compostos da planta, o que torna a terapia mais eficaz e reduz o risco de efeitos colaterais. Outros pontos discutidos incluíram o uso tópico da cannabis para alívio de dores localizadas, embora ainda sejam necessários mais estudos para confirmar esses benefícios. Sofia também ressaltou a importância de monitorar o uso de cannabis em idosos, especialmente aqueles que tomam antipsicóticos ou outros medicamentos, pois o THC e o CBD podem ter efeitos sedativos.

Ela sublinhou a necessidade de uma abordagem gradual na dosagem, considerando fatores como a menor retenção de água corporal em idosos e uma maior acumulação de compostos na gordura. Sofia também reforçou a importância da nutrição na terapia com cannabis, recomendando uma dieta rica em fitoquímicos e água, o que pode potencializar os efeitos terapêuticos.

Uma sessão de perguntas e respostas trouxe temas práticos, como o uso de fitocanabinoides para prevenir quedas. Sofia mencionou um estudo com 200 idosos em Israel, onde o efeito adverso mais comum, tontura, foi observado principalmente antes da introdução do tratamento com cannabis, sugerindo que, com um ajuste adequado, a terapia pode ser bem tolerada.

Em relação à dosagem dividida, Sofia apontou que, em alguns casos, dividir a dosagem pode ajudar, especialmente em pacientes que precisam de mais atenção e energia ao longo do dia. Ela também compartilhou sua prática de acompanhar os pacientes de perto, com avaliações clínicas e laboratoriais, e frequentemente prescreve produtos de espectro completo, que apresentam benefícios comprovados superiores aos de produtos isolados.

Quando questionada sobre a possibilidade de reduzir a “polifarmácia” com o uso de óleo de cannabis, Sofia afirmou que essa é uma meta realista. A cannabis pode ajudar a reduzir o número de medicamentos necessários, promovendo uma abordagem mais holística e menos dependente de múltiplas drogas, embora cada caso deva ser avaliado cuidadosamente.

Apresentação na Plenária Elisaldo Carlini
Apresentação na Plenária Elisaldo Carlini

Feira de Exposições

A Feira de Exposições ofereceu uma série de atividades e palestras direcionadas à aplicação da medicina endocanabinoide em diversos contextos clínicos. Entre os destaques, Leandro Ramires discutiu diretrizes sobre quando prescrever CBD ou THC, enquanto Diego Cruz abordou a relevância dos canabinoides menores, oferecendo uma perspectiva valiosa para a personalização do tratamento. Em seguida, Uwe Blesching compartilhou estratégias para equilibrar o Sistema Endocanabinoide  por meio de abordagens alternativas, enquanto Estefanía Alfaro Cuadros trouxe insights sobre práticas integrativas para além do uso de fármacos, ampliando as possibilidades terapêuticas.

Apresentação no palco na Feira 
Apresentação no palco na Feira

Outro ponto alto foi a apresentação de Sofía Maiorana, que abordou o uso da cannabis medicinal como uma ferramenta na redução da polifarmácia e na desprescrição de medicamentos, tema de crescente interesse no tratamento de idosos e pacientes com múltiplas comorbidades. Daniel Stein explorou combinações sinérgicas de medicamentos que podem potencializar efeitos terapêuticos, enriquecendo o entendimento dos participantes sobre abordagens combinadas. Natasha Consul, Daniel Stein e Isolda Araújo lideraram uma discussão sobre casos clínicos relacionados a doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla e esclerose lateral amiotrófica, enquanto outro painel focou em casos clínicos diversos, abrangendo doenças dermatológicas, ginecológicas e gastrointestinais.

Paralelamente às palestras, a Feira de Inovações proporcionou momentos de networking enriquecedores durante o almoço, coffee break e um coquetel ao final do dia. Esses intervalos permitiram aos profissionais não apenas um ambiente descontraído para trocar experiências e aprender uns com os outros, mas também para criar novas parcerias e fortalecer a rede de contatos dentro da medicina endocanabinoide.

Ainda no segundo dia do WeCann Summit 2024, os participantes tiveram a oportunidade especial de conhecer Patricia Montagner e Adán de Sala Quiroga, duas referências internacionais em Medicina Endocanabinoide, durante uma sessão de autógrafos do renomado Tratado de Medicina Endocanabinoide. O encontro, realizado no espaço exclusivo da WeCann na Feira de Exposições, também proporcionou um momento de interação direta com os especialistas, que trocaram experiências e compartilharam insights valiosos com os presentes. Essa vivência marcou o dia como uma experiência enriquecedora e memorável para os profissionais que buscam se aprofundar no universo dos canabinoides.

Sessão de autógrafos com Dra. Patricia Montagner e Adán de Sala Quiroga
Sessão de autógrafos com Dra. Patricia Montagner e Adán de Sala Quiroga

Na Feira de Exposições, diversos estandes de empresas marcaram presença, cada um oferecendo uma visão única sobre produtos, tecnologias e serviços voltados à medicina endocanabinoide. As empresas participantes trouxeram uma série de inovações e soluções terapêuticas que abrangem desde extratos de canabinoides, produtos de espectro completo. Entre os destaques, algumas empresas focaram em apresentar produtos desenvolvidos com tecnologia avançada para garantir qualidade e segurança em tratamentos, como óleos e cápsulas com formulações específicas de CBD, THC e outros canabinoides menores.

Na feira, várias empresas marcaram presença, destacando-se no cenário da cannabis medicinal. As empresas participantes incluíram: Mantercorp Farmasa, Endogen, Sensia, Remederi, FarmaUSA, Entourage, Green Care, CR Wellness, 1 Pure Cannabidiol, Biolab/Promefiol, Aura e USAHEMP.

Aura é uma empresa que emergiu de uma experiência familiar. Seus fundadores buscaram alternativas para tratar condições de saúde dentro de sua própria família, levando à descoberta do potencial terapêutico da cannabis. Esse background humanizado reflete-se na abordagem da empresa, que se compromete não apenas com a qualidade de seus produtos, mas também com a educação dos profissionais de saúde sobre o Sistema Endocanabinoide.

Na feira, a Aura apresentou inovações significativas, como um sistema voltado para assuntos médicos, além de lançar o AuraCast, um podcast que oferece um espaço descontraído para conversas entre médicos sobre temas relacionados ao SEC. A iniciativa visa promover a troca de conhecimento e experiências, facilitando a integração dos canabinoides na prática clínica. Com um foco em atendimento ao cliente e suporte médico, a Aura se destaca como uma marca que não apenas vende produtos, mas também se dedica a construir uma comunidade de prática em torno da cannabis medicinal.

Biolab/Promefiol é uma empresa com forte presença no mercado de cannabis medicinal, trazendo produtos importados da Suíça e operando há aproximadamente dois anos. A Biolab tem se empenhado em oferecer produtos de alta qualidade e eficácia, alinhando-se às melhores práticas internacionais. Durante a feira, a empresa enfatizou sua dedicação à pesquisa e desenvolvimento, apresentando dados que respaldam a eficácia de seus canabinoides.

A estratégia da Biolab inclui não apenas a venda de produtos, mas também a educação e capacitação de médicos, garantindo que os profissionais tenham o conhecimento necessário para prescrever de forma eficaz e segura. A Biolab/Promefiol é reconhecida por sua qualidade e confiabilidade, tornando-se uma excelente escolha entre os profissionais de saúde que buscam soluções baseadas em evidências.

Mantercorp Farmasa, por sua vez, impressionou com uma simulação de estufa que permitiu aos visitantes vivenciarem o ambiente de cultivo da cannabis. Essa abordagem prática não apenas educou os profissionais sobre a importância do cultivo adequado, mas também demonstrou o compromisso da empresa com as melhores práticas agrícolas. As plantas cultivadas em vasos com nutrientes, livres de contaminação do solo, garantem a qualidade dos produtos finais.

Além disso, a utilização de clones assegura a uniformidade dos compostos canabinoides, minimizando variações indesejadas. A empresa também forneceu materiais que auxiliam os médicos na prescrição, oferecendo um vídeo introdutório que contextualiza a utilização dos canabinoides na prática clínica. A Mantercorp Farmasa, portanto, não se limita a fornecer produtos, mas também investe na educação e capacitação dos profissionais, contribuindo para um uso mais seguro e eficaz da cannabis na medicina.

Simulação de Estufa de Cannabis apresentada durante a feira
Simulação de Estufa de Cannabis apresentada durante a feira

A USAHEMP é uma empresa familiar pioneira no cultivo da cannabis, situada nas montanhas de Oregon, onde irmãos determinados construíram um legado baseado em fé, coragem e um compromisso inabalável com a qualidade. Reconhecida como uma das primeiras 50 empresas do estado a obter licença para produzir cannabis, a USAHEMP se destaca por seu rigoroso controle de qualidade, cultivando suas plantas de maneira natural, sem o uso de pesticidas, e oferecendo produtos de alta qualidade que honram a medicina natural.

A empresa oferece uma ampla gama de produtos, incluindo CBD, THC e canabinoides menores, como o THCV. Além de extratos de canabinoides, a USAHEMP também apresentou na feira produtos à base de cânhamo, incluindo vestuário, demonstrando as aplicações versáteis dessa planta para além do uso medicinal. Comprometida com o bem-estar animal, a USAHEMP atua como um santuário para animais resgatados, em suas fazendas.

Essas empresas não apenas enriqueceram a feira com estandes interativos e informações técnicas, mas também evidenciaram o crescimento e a diversidade do mercado de cannabis medicinal, demonstrando um compromisso em oferecer opções seguras e baseadas em evidências para os médicos.

A Medicina do Futuro te espera em Campinas!

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Todo ano o mesmo congresso, os mesmos colegas, as mesmas especialidades. 

Por que não viver algo diferente, disruptivo e com o potencial de transformar os seus resultados? 

Diferente dos eventos médicos tradicionais que segmentam o conhecimento, o WeCann Summit promove a integração entre mais de 60 especialidades médicas.  

Esta abordagem de caráter transversal é mais uma evidência da relevância do Sistema Endocanabinoide (SEC) em todas as áreas da Medicina.

E apesar de sua descoberta remontar aos anos 1990, os avanços mais significativos na compreensão do SEC ocorreram na última década – período em que o número de publicações científicas sobre o tema triplicou, segundo levantamento da plataforma PubMed.

A maioria dos médicos, inclusive, desconhecem o papel do Sistema Endocanabinoide em praticamente todas as nossas funções fisiológicas, como sono, humor, memória, processos de aprendizagem, funções cardiovasculares e gastrointestinais, imunidade e processos inflamatórios diversos.

Para colegas de todas as gerações, o WeCann Summit é a oportunidade de preencher uma lacuna que só agora está ganhando espaço nos currículos das faculdades e especializações médicas.

As inscrições para a edição de 2025 estão quase encerradas. Toque no botão e aproveite enquanto é tempo:

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Esse texto foi elaborado pelo time de experts da WeCann, baseado nas evidências científicas partilhadas nas referências e, amparado na ampla experiência prescritiva dos profissionais.

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