THC vs. CBD: Entenda as diferenças entre esses componentes da cannabis

Publicado em 11/06/24 | Atualizado em 16/07/24 Leitura: 8 minutos

Canabidiol (CBD)CanabinoidesTetrahidrocanabinol (THC)

A cannabis é uma planta que abriga uma vasta gama de compostos químicos com potenciais usos terapêuticos. Entre esses compostos, dois dos mais estudados e conhecidos são o THC (tetrahidrocanabinol) e o CBD (canabidiol). Apesar de ambos serem canabinoides presentes na planta, eles possuem diferenças significativas em termos de estrutura química, efeitos no organismo e aplicações terapêuticas. Neste post, vamos explorar essas diferenças em detalhes, ajudando a esclarecer seus diversos potenciais terapêuticos.

O que são Fitocanabinoides?

Os fitocanabinoides são substâncias químicas presentes em plantas, principalmente na planta cannabis¹. O termo “fitocanabinoides” deriva de sua produção natural pela planta. Eles interagem com o sistema endocanabinoide do corpo humano, que desempenha um papel crucial na regulação de diversas funções fisiológicas. Embora este texto se concentre nas diferenças entre os fitocanabinoides mais conhecidos, THC e CBD, é importante ressaltar que a planta de cannabis contém mais de 500 compostos químicos distintos, dos quais mais de 150 são fitocanabinoides². Esses compostos são produzidos em células secretoras dentro de estruturas glandulares chamadas tricomas, predominantemente encontradas nas flores femininas da cannabis. Embora as plantas masculinas também produzam canabinoides, suas quantidades são significativamente menores.

Compreender a diversidade dos fitocanabinoides é essencial, pois a planta cannabis oferece um complexo cenário químico com múltiplos componentes terapêuticos potenciais. Explorar fitocanabinoides menos conhecidos pode abrir novas possibilidades para o tratamento de diversas condições médicas. Neste post, abordaremos as principais características dos fitocanabinoides mais conhecidos, o THC e o CBD, e exploraremos suas aplicações terapêuticas, proporcionando uma visão detalhada de suas potências e utilizações na medicina canabinoide.

THC (Tetrahidrocanabinol)

O THC, abreviação de Tetrahidrocanabinol, é o componente primário responsável pelos efeitos psicoativos associados ao consumo da cannabis. Sua estrutura química singular permite a ligação direta com os receptores do sistema endocanabinoide no cérebro, ele atua predominantemente como agonista parcial dos receptores canabinoides CB1 e CB2, mas também atua em outros grupos de receptores³, desencadeando uma variedade de efeitos tanto psicológicos quanto físicos.

Os efeitos mais comuns do THC incluem relaxamento, alteração da percepção sensorial e aumento do apetite. Além disso, suas propriedades analgésicas, anti-inflamatórias e neuroprotetoras têm implicações terapêuticas significativas, por isso, esse fitocanabinoide tem sido utilizado no tratamento de várias condições clínicas:

  • Controle da Dor: O THC demonstra eficácia no alívio de diferentes tipos de dor, especialmente neuropática.
  • Tratamento da Náusea e Vômito: É utilizado para reduzir os sintomas de náusea e vômito em pacientes submetidos a quimioterápicos5.
  • Estimulação do Apetite: Em pacientes com HIV/AIDS6 ou câncer, o THC pode ajudar a prevenir a perda de peso grave ao aumentar o apetite.
  • Transtornos do sono: estudos em animais e humanos demonstraram que o THC é uma molécula hipnogênica, com um profundo impacto sobre o sono REM7.

 

Embora o THC seja amplamente reconhecido por seus benefícios terapêuticos, é importante estar ciente de seus possíveis efeitos adversos, como ansiedade e até sintomas psicóticos, quando em doses elevadas e em indivíduos susceptíveis, além de taquicardia e hipotensão arterial, principalmente em idosos, portadores de múltiplas comorbidades e em uso de múltiplas medicações. Portanto, compreender a distinção entre seus potenciais psicoativos e psicotóxicos é essencial, além de garantir doses personalizadas para minimizar essas reações indesejadas. O THC continua a ser uma área de estudo fascinante e alvo de diversas pesquisas, oferecendo uma alternativa valiosa para pacientes que enfrentam condições médicas debilitantes e que frequentemente não respondem às terapias convencionais.

CBD (Canabidiol)

Enquanto o THC é conhecido por seus efeitos psicoativos, o CBD, ou Canabidiol, oferece uma abordagem diferente. Não psicotrópico, o CBD não produz os mesmos efeitos associados ao THC. Sua interação com os receptores CB1 e CB2³ do sistema endocanabinoide ocorre de maneira distinta, influenciando o corpo a utilizar mais de seus próprios canabinoides naturais. O CBD é valorizado por uma série de benefícios terapêuticos, suas propriedades anticonvulsivantes, anti-inflamatórias, ansiolíticas e antipsicóticas têm sido documentadas em diversos estudos. 

Além de seus benefícios individuais, o CBD é frequentemente utilizado para reduzir os efeitos colaterais do THC, isso tem levado à popularidade de produtos de cannabis que combinam ambos os canabinoides para uso medicinal. O CBD ganhou reconhecimento no campo médico devido ao seu perfil de segurança e à ausência de efeitos psicoativos. Suas aplicações terapêuticas incluem:

  • Epilepsia: É eficaz no tratamento de formas graves e refratárias de epilepsia, como a Síndrome de Dravet, Síndrome de Lennox-Gastaut7, Esclerose Tuberosa, dentre outros tipos de epilepsia
  • Transtornos de Ansiedade: Em vários estudos demonstrou reduzir a ansiedade com propriedade em condições como transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de estresse pós-traumático.
  • Inflamação e Dor: Utilizado para tratar dores crônicas, como enxaqueca, fibromialgia e dor neuropática4, sem os efeitos colaterais frequentemente associados a medicamentos alopáticos convencionais.
  • Transtornos Neuropsiquiátricos: Podem ser usados no tratamento diversos transtornos, como do humor8 (depressão), dependência química (álcool, cocaína e cannabis fumada), distúrbios do sono e transtornos do espectro autista.

 

No entanto, é importante notar que o CBD pode causar sonolência e prostração, especialmente em doses elevadas, embora esse efeito seja de curta duração e benigno em sua natureza.

Quais as principais diferenças entre o CBD e THC?

CBD 

  • Psicoatividade sem potencial psicotóxico; 
  • Antipsicótico;
  • Ansiolítico;
  • Neuroprotetor/antioxidante; 
  • Maior potencial anticonvulsivante; 
  • Promove estado de vigília; 
  • Menor potencial analgésico; 
  • Antiinflamatório; 
  • Reduz apetite; 
  • Pode aumentar discretamente a pressão intra-ocular. 

THC 

  • Psicoatividade com potencial psicotóxico; 
  • Potencialmente psicótico;
  • Neuroprotetor/antioxidante;
  • Menor potencial anticonvulsivante; 
  • Ansiolítico, porém potencialmente ansiogênico; 
  • Indutor do sono; 
  • Maior potencial analgésico; 
  • Antiinflamatório; 
  • Estimulador do apetite; 
  • Hipotensor arterial; 
  • Pode reduzir a pressão intra-ocular;

 

É importante notar que o THC e o CBD podem interagir entre si e alterar os efeitos fisiológico de cada um. O CBD pode atenuar alguns dos efeitos negativos do THC, como ansiedade e taquicardia, ao modular a forma como o THC interage com os receptores canabinoides. Esta interação é uma das razões pelas quais muitas formulações de cannabis medicinal incluem uma combinação de THC e CBD.

A pesquisa sobre THC e CBD continua a evoluir, com estudos em andamento investigando suas aplicações em uma ampla gama de condições médicas. Com a legalização crescente da cannabis medicinal em várias partes do mundo, espera-se que mais dados clínicos se tornem disponíveis, proporcionando uma compreensão mais aprofundada de como esses canabinoides podem ser usados de forma segura e eficaz.

Conclusão

Os fitocanabinoides representam uma área de estudo fascinante e promissora no campo da medicina, oferecendo uma ampla gama de possibilidades terapêuticas. As comprovações científicas sobre seu uso terapêutico mostram ótimos resultados, sendo uma alternativa às terapias convencionais, que são muitas vezes falhas e associadas a diversos efeitos colaterais indesejados. É crucial que os médicos estejam atualizados sobre essas descobertas e possibilidades, a fim de oferecer aos pacientes opções de tratamento mais eficazes e seguras. Nesse sentido, iniciativas como a WeCann desempenham um papel fundamental ao fornecer informações científicas atualizadas e recursos para profissionais da área médica, capacitando-os a integrar os fitocanabinoides em suas práticas clínicas de forma técnica e responsável, visando o bem-estar e a qualidade de vida de seus pacientes.

Referências

  1. Andre, Christelle M., et al. “Cannabis sativa: The plant of the thousand and one molecules.” Frontiers in plant science 7 (2016): 19.
  2. Russo, Ethan B. “Taming THC: potential cannabis synergy and phytocannabinoid-terpenoid entourage effects.” British journal of pharmacology 163.7 (2011): 1344-1364.
  3. Pertwee, R. G. “The diverse CB1 and CB2 receptor pharmacology of three plant cannabinoids: Δ9-tetrahydrocannabinol, cannabidiol and Δ9-tetrahydrocannabivarin.” British journal of pharmacology 153.2 (2008): 199-215.
  4. Nurmikko TJ, Serpell MG, Hoggart B, Toomey PJ, Morlion BJ, Haines D. Sativex successfully treats neuropathic pain characterised by allodynia: a randomised, double-blind, placebo-controlled clinical trial. Pain. 2007 Dec 15;133(1-3):210-20. doi: 10.1016/j.pain.2007.08.028. Epub 2007 Nov 7. PMID: 17997224.
  5. Tramèr MR, Carroll D, Campbell FA, Reynolds DJ, Moore RA, McQuay HJ. Cannabinoids for control of chemotherapy induced nausea and vomiting: quantitative systematic review. BMJ. 2001 Jul 7;323(7303):16-21. doi: 10.1136/bmj.323.7303.16. PMID: 11440936; PMCID: PMC34325.
  6. Beal JE, Olson R, Laubenstein L, Morales JO, Bellman P, Yangco B, Lefkowitz L, Plasse TF, Shepard KV. Dronabinol as a treatment for anorexia associated with weight loss in patients with AIDS. J Pain Symptom Manage. 1995 Feb;10(2):89-97. doi: 10.1016/0885-3924(94)00117-4. PMID: 7730690.
  7. Nicholson, A. N., Turner, C., Stone, B. M. &Robson, P. J. Effect of Δ-9-Tetrahydrocannabinol andCannabidiol on Nocturnal Sleep and Early-MorningBehavior in Young Adults. J. Clin. Psychopharmacol.24, 305–313 (2004).
  8. Devinsky O, Patel AD, Cross JH, Villanueva V, Wirrell EC, Privitera M, Greenwood SM, Roberts C, Checketts D, VanLandingham KE, Zuberi SM; GWPCARE3 Study Group. Effect of Cannabidiol on Drop Seizures in the Lennox-Gastaut Syndrome. N Engl J Med. 2018 May 17;378(20):1888-1897. doi: 10.1056/NEJMoa1714631. PMID: 29768152.
  9. Poleszak E, Wośko S, Sławińska K, Szopa A, Wróbel A, Serefko A. Cannabinoids in depressive disorders. Life Sci. 2018 Nov 15;213:18-24. doi: 10.1016/j.lfs.2018.09.058. Epub 2018 Oct 3. PMID: 30290188.
Esse texto foi elaborado pelo time de experts da WeCann, baseado nas evidências científicas partilhadas nas referências e, amparado na ampla experiência prescritiva dos profissionais.

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