Artrite reumatoide: Cannabis medicinal pode ser um adjuvante terapêutico?

 

Um dos usos mais comuns da Cannabis medicinal é no tratamento da dor crônica. A artrite reumatoide (AR) é uma doença autoimune, onde o sistema imunológico interpreta células saudáveis das membranas sinoviais como potenciais inimigos, causando um processo inflamatório crônico. Os locais mais frequentemente acometidos são as articulações das mãos, punhos e joelhos, por isso, os pacientes apresentam dores articulares crônicas e outros sintomas que comprometem de forma significativa a qualidade de vida , como redução da mobilidade e status funcional. 

Uma parte considerável dos pacientes com AR é refratária ao Metotrexato (MTX), principal medicamento utilizado no manejo da doença. Por isso, a importância de estudarmos outros adjuvantes terapêuticos que possam proporcionar melhor controle de sintomas e de qualidade de vida para esses pacientes.

 

O canabidiol (CBD) tem sido um dos elementos químicos da planta Cannabis mais explorados nos quadros de artrite reumatoide, devido a suas propriedades analgésica e anti-inflamatória. Continue a leitura e entenda a relação entre Artrite Reumatoide e Cannabis medicinal.

 

Cannabis como adjuvante no tratamento da Artrite Reumatoide

As taxas de ocorrência da artrite reumatoide estão associadas ao envelhecimento da população e ao aumento do índice de obesidade.  Só nos EUA, a frequência dessa doença triplicou nos últimos 20 anos em decorrência desses dois fatores. A busca por ferramentas terapêuticas seguras e eficazes no controle da doença tem se mostrado cada vez mais necessária.

Embora muitos estudos ainda estejam em desenvolvimento, há um crescente corpo de evidências científicas que indicam o potencial analgésico e antiinflamatório dos canabinoides no tratamento adjuvante da artrite reumatoide. Esse tipo de dor comumente se manifesta por uma combinação de dor inflamatória, nociceptiva e neuropática, cada uma delas exigindo uma abordagem terapêutica própria.

O CBD, por sua vez, demonstra ação em todos esses quadros de dor, conforme indicam os estudos que relacionam a terapêutica à base de Cannabis ao alívio geral dos sintomas da AR em modelos animais e humanos portadores da doença.

 

Além disso, por ser um elemento não-psicotóxico, o CBD apresenta um extenso perfil de segurança posológica, configurando-se como uma ferramenta terapêutica viável em diferentes e variados perfis de pacientes.

 

Evidências científicas que explicam essa relação

As pesquisas científicas apontam que o Sistema Endocanabinoide é um alvo promissor no tratamento da artrite reumatoide. Os receptores endocanabinoides do tipo CB2 estão amplamente presentes nos órgãos e tecidos do sistema imunológico, destacando o potencial anti-inflamatório e imunomodulador desses receptores.

É o que mostra este experimento que avaliou o potencial analgésico de dois agonistas dos receptores CB2 em um modelo quimicamente induzido de artrite reumatoide em ratos. Os medicamentos foram testados em regimes de tratamento agudos e crônicos, mostrando analgesia mais eficaz nos quadros crônicos.

 

>> Veja o experimento completo em: CB2 agonism controls pain and subchondral bone degeneration induced by mono-iodoacetate: Implications GPCR functional bias and tolerance development.

 

Outro exemplo é este estudo que sugere o potencial do CBD na modulação da produção de citocinas pró-inflamatórias in vitro e em modelos caninos de inflamação induzida. 

Os resultados mostraram que o CBD atenua a produção de citocinas pró-inflamatórias IL-6 e TNF-α, enquanto eleva os níveis de citocinas anti-inflamatórias IL-10, diminuindo assim, a percepção da dor e aumentando a mobilidade dos animais conforme a dosagem utilizada.

 

>> Veja a pesquisa completa em: A randomized, double-blind, placebo-controlled study of daily cannabidiol for the treatment of canine osteoarthritis pain.

 

Também, há evidências do potencial do CBD no alívio das dores da artrite reumatoide nesta pesquisa norte-americana realizada com 196 pacientes em uso regular de Cannabis medicinal para melhora de sintomas e manejo de quadros de dor crônica (dentre eles, artrite), depressão e náuseas.

 

Os resultados mostraram que:

  • 76% relataram uma pontuação de 8 ou mais (em uma escala de 10 pontos) de melhora no seu quadro clínico e 
  • 68% relataram uma pontuação de 8 ou mais em relação à diminuição das dores crônicas com o uso regular de Cannabis medicinal.

 

>> Veja a pesquisa completa em: Mixed methods study of the potential therapeutic benefits from medical cannabis for patients in Florida.

 

este estudo norte-americano comparou o uso medicinal da Cannabis em um número significativo de pacientes com diagnóstico de esclerose múltipla (153), artrite reumatoide (582) e câncer (622). Esses pacientes tinham 60 anos ou mais e estavam inscritos no Programa de Cannabis Medicinal do Estado de Illinois.

Os autores encontraram que a maioria dos pacientes portadores dessas três condições clínicas fez uso de Cannabis medicinal para buscar alívio de sintomas de dor e melhora do padrão de sono. Os efeitos terapêuticos relatados foram amplamente comparáveis entre os grupos, e independentemente do diagnóstico, o uso regular de Cannabis foi capaz de aliviar sintomas de dor crônica, transtornos do sono e problemas digestivos nesses pacientes.

Os resultados dessa análise deixaram claro o amplo espectro de atuação da cannabis, e seu potencial para impactar processos e sintomas comuns entre condições clínicas tão distintas.

 

>> Veja o estudo completo em: Cannabis Use among Older Persons with Arthritis, Cancer and Multiple Sclerosis: Are We Comparing Apples and Oranges?

 

Importante ressaltar que  independentemente do quadro clínico, educação especializada na área é fundamental para uma estratégia prescritiva assertiva de medicamentos à base de Cannabis.

Cada um de nós tem um Sistema Endocanabinoide único e uma estrutura bioquímica única, portanto, conhecer o histórico de cada paciente e individualizar os tratamentos é essencial para potencializar resultados terapêuticos e minimizar possíveis efeitos adversos. 

A WeCann Academy ajuda você a se preparar para esse cenário. Conectamos especialistas de várias partes do mundo em uma comunidade global de estudos e pesquisas em Medicina Endocanabinoide, para compartilhar conhecimento científico e experiência prática.

 

Quer fazer parte desta comunidade? Entre em contato conosco e saiba mais a respeito!

 

Referências

Kaskie B, Kang H, Bhagianadh D, Bobitt J. Cannabis Use among Older Persons with Arthritis, Cancer and Multiple Sclerosis: Are We Comparing Apples and Oranges? Brain Sci. 2021.

Luque JS, Okere AN, Reyes-Ortiz CA, Williams PM. Mixed methods study of the potential therapeutic benefits from medical cannabis for patients in Florida. Complement Ther Med. 2021.

Mlost J, Kostrzewa M, Borczyk M, Bryk M, Chwastek J, Korostyński M, Starowicz K. CB2 agonism controls pain and subchondral bone degeneration induced by mono-iodoacetate: Implications GPCR functional bias and tolerance development. Biomed Pharmacother. 2021.

Verrico CD, Wesson S, Konduri V, Hofferek CJ, Vazquez-Perez J, Blair E, Dunner K Jr, Salimpour P, Decker WK, Halpert MM. A randomized, double-blind, placebo-controlled study of daily cannabidiol for the treatment of canine osteoarthritis pain. Pain. 2020.

Esse texto foi elaborado pelo time de experts da WeCann, baseado nas evidências científicas partilhadas nas referências e, amparado na ampla experiência prescritiva dos profissionais.

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