A caquexia e a anorexia são condições debilitantes que frequentemente acompanham doenças crônicas como câncer, AIDS, insuficiência cardíaca e renal, além de distúrbios alimentares. A perda de peso significativa, a diminuição da massa muscular e a consequente deterioração do estado nutricional impactam diretamente a qualidade de vida do paciente, sua resposta ao tratamento e, em última instância, seu prognóstico. Diante desse cenário desafiador, a busca por abordagens terapêuticas eficazes para estimular o apetite e promover o ganho de peso tem sido constante.
Nos últimos anos, a cannabis medicinal tem emergido como um tópico de crescente interesse na comunidade científica e médica, impulsionada por evidências científicas sobre o seu potencial terapêutico. No post de hoje, vamos explorar o potencial terapêutico da cannabis medicinal para tratar a anorexia e a caquexia, buscando compreender, com base em evidências científicas, se os derivados canabinoides podem de fato estimular o apetite e promover o ganho de peso.
Caquexia e Anorexia
No campo da medicina, somos constantemente confrontados com condições que desafiam nossa capacidade de restabelecer o equilíbrio e a saúde de nossos pacientes. Entre elas, a caquexia e a anorexia se destacam como síndromes complexas, caracterizadas pela profunda deterioração nutricional e suas amplas repercussões sistêmicas. É crucial entender que, embora ambas resultem em perda de peso, suas naturezas e mecanismos subjacentes são distintos.
A anorexia se refere, de forma geral, à perda ou redução do apetite. Ela pode ser um sintoma de diversas condições, como infecções, doenças gastrointestinais, efeitos colaterais de medicamentos (incluindo quimioterapia), estresse emocional ou até mesmo um componente de transtornos alimentares como a anorexia nervosa, onde há uma restrição alimentar severa e medo intenso de ganhar peso. Na anorexia, a perda de peso é primariamente resultado de uma ingestão calórica insuficiente devido à falta de desejo de comer.¹
Por outro lado, a caquexia é uma condição muito mais grave e multifatorial, caracterizada pela perda significativa e contínua de massa muscular esquelética e tecido adiposo, que não é revertida apenas com suporte nutricional convencional. Ela está intrinsecamente ligada a uma doença crônica e subjacente, como câncer avançado, infecções crônicas (HIV, tuberculose), insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou doenças autoimunes inflamatórias em estágio avançado.¹
A principal diferença é que, na caquexia, a perda de peso é impulsionada por um estado de inflamação sistêmica persistente e profundas alterações metabólicas, que levam à quebra de tecidos mesmo com alguma ingestão de alimentos. Quando a anorexia significativa acompanha a caquexia, chamamos de síndrome de anorexia-caquexia.¹
Sua complexidade reside no fato de ser impulsionada por um aumento de fatores pró-inflamatórios e profundas alterações metabólicas que a distinguem da simples inanição. Na caquexia, os estoques de gordura são mobilizados para substituir a glicose como fonte primária de energia, criando um estado metabólico alterado e um déficit energético crônico. Essa desregulação metabólica, combinada com a inflamação sistêmica, a disfunção do trato alimentar e a anorexia, torna o suporte nutricional tradicional ineficaz na reversão da condição.¹
A fisiopatologia da caquexia é uma interação complexa de inflamação sistêmica e distúrbios metabólicos. Esses fatores contribuem para a perda de peso, atrofia muscular e diminuição da função física, piorando o prognóstico dos pacientes. Seu início é desencadeado pela presença de doenças crônicas, inflamação, distúrbios metabólicos induzidos por tumor e alterações hormonais. No câncer, o próprio tumor é a causa subjacente, embora tratamentos como quimioterapia e radioterapia possam contribuir.¹
Os principais mediadores dessa condição incluem citocinas pró-inflamatórias como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e a interleucina-6 (IL-6), além do fator indutor de proteólise (PIF) e o fator de mobilização de lipídios. Essas substâncias aumentam o catabolismo, a perda de massa muscular, a inflamação e a lipólise, ao mesmo tempo em que inibem a síntese de proteínas musculares.¹
O efeito Warburg, caracterizado pelo aumento da glicólise aeróbica e produção de lactato por células cancerígenas, contribui para a caquexia ao causar um desequilíbrio energético significativo. As células tumorais consomem grandes quantidades de glicose, esgotando os estoques de energia do hospedeiro, e o lactato produzido é reciclado de volta em glicose no fígado, com alto custo energético para o paciente. Esse ciclo vicioso apoia a proliferação tumoral às custas do hospedeiro, levando a um aumento do gasto energético total e à degradação tecidual.¹
Além disso, pacientes com caquexia apresentam controle hipotalâmico alterado do apetite e da saciedade. Citocinas como TNF-α e IL-1β induzem inflamação hipotalâmica, que diminui o apetite e aumenta o gasto energético. Essa inflamação afeta o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, levando ao aumento da sinalização catabólica e à redução da resposta orexígena a neuropeptídeos reguladores do apetite, como o neuropeptídeo Y. Isso resulta em falta de apetite e baixa ingestão de nutrientes. Baixos níveis de testosterona e a resistência do hormônio do crescimento, com redução dos níveis de IGF-1, também contribuem para a perda e degradação da massa muscular.¹
A disfunção do trato alimentar também é um fator relevante na caquexia associada ao câncer. Anormalidades no paladar e olfato, obstruções mecânicas por tumores, atividade enzimática reduzida (insuficiência pancreática) e lentidão do peristaltismo contribuem para a saciedade precoce e a diminuição do consumo alimentar. Agentes quimioterápicos e radioterapia podem induzir náuseas, vômitos, mucosite e alterações de paladar, exacerbando a anorexia e a caquexia. O estresse emocional da doença também contribui significativamente para a inapetência e a perda de peso.¹
O manejo da caquexia é, por sua própria natureza, um desafio, exigindo uma orquestração precisa de intervenções nutricionais, regimes de exercícios personalizados e terapias farmacológicas. É importante reconhecer e gerenciar a caquexia precocemente, pois a progressão dessa síndrome compromete drasticamente a qualidade de vida e os resultados terapêuticos de nossos pacientes.
Nesse cenário complexo, um horizonte de esperança e inovação tem surgido com o avanço da pesquisa e o desenvolvimento de novas abordagens. Nos últimos anos, impulsionada por crescentes evidências científicas, a cannabis surge como um tópico de intenso interesse na comunidade médica, revelando um potencial terapêutico capaz de auxiliar na abordagem a caquexia e anorexia, por consequência, melhorar significativamente o bem-estar e a qualidade de vida dos pacientes.
Como o sistema endocanabinoide atua na regulação do apetite?
A regulação do apetite é um processo complexo e multifatorial, que envolve a integração de diversos sistemas neurobiológicos responsáveis por manter a homeostase energética. O hipotálamo atua como centro regulador, coordenando a liberação de neuropeptídeos orexígenos e anorexígenos em resposta a variações nos níveis de glicose, hormônios periféricos (como leptina e grelina) e outros sinais metabólicos. Em paralelo, o sistema de recompensa mesolímbico contribui significativamente para a motivação alimentar, especialmente no contexto da ingestão de alimentos altamente palatáveis, modulando o comportamento alimentar por meio de vias dopaminérgicas relacionadas ao prazer e à recompensa.²
Dentro desse cenário complexo, o Sistema Endocanabinoide (SEC) se destaca como um parceiro fundamental na modulação do comportamento alimentar e do balanço energético, atuando tanto no nosso sistema nervoso central quanto na periferia do corpo. A ativação dos receptores canabinoides tipo 1 (CB1), presentes em regiões importantes do hipotálamo e do sistema mesolímbico, tem um impacto direto na liberação de neurotransmissores e na modulação das vias que estimulam o apetite.²
A ativação dos receptores canabinoides do tipo 1 promove a hiperpolarização dos neurônios pré-sinápticos, resultando na inibição da liberação de neurotransmissores. Os endocanabinoides anandamida (AEA) e 2-araquidonoilglicerol (2-AG) são rapidamente degradados por enzimas específicas: a amida hidrolase de ácido graxo (FAAH), no caso da AEA, e a monoacilglicerol lipase (MAGL), no caso do 2-AG, originando metabólitos biologicamente inativos.²
Estudos aprofundados mostram que, quando ficamos sem comer, há um aumento na liberação de endocanabinoides no hipotálamo, o que estimula diretamente o apetite. Isso acontece pela ativação do receptor CB1 e por uma interação complexa com outros hormônios que regulam a fome e a saciedade, como a grelina (que sinaliza a fome) e a leptina (o hormônio da saciedade).³
Além disso, a ativação do CB1 em uma área específica do cérebro, o núcleo arqueado, estimula a produção do neuropeptídeo Y (NPY), um dos mais potentes indutores da ingestão de alimentos, e da β-endorfina. Ao mesmo tempo, essa ativação reduz a sensibilidade à leptina, contribuindo para o aumento do apetite e da ingestão calórica.³
É importante compreender que a ação do SEC não se limita ao cérebro. Na periferia do corpo, ele desempenha um papel significativo na captação de glicose e na formação de gordura (lipogênese). Isso ocorre pela ativação do receptor CB1 em células de gordura (adipócitos), células do fígado (hepatócitos) e células intestinais.³
No trato gastrointestinal, por exemplo, a ativação do CB1 modula a motilidade intestinal e o esvaziamento gástrico, influenciando diretamente a digestão e a absorção de nutrientes. Já nas células de gordura, a ativação desse receptor leva a uma diminuição na secreção de adiponectina, um hormônio que, em níveis adequados, está associado ao aumento da sensibilidade à insulina e à regulação do metabolismo das gorduras.³
Embora menos pesquisado no contexto direto do apetite, o receptor canabinoide tipo 2 (CB2) também pode ter um papel relevante. Algumas evidências sugerem que sua ativação em neurônios de uma área específica do cérebro, a área tegmental ventral, pode modular a sensação de prazer que temos ao comer.³
Modelos experimentais indicam que a ativação do CB2 pode reduzir a ingestão de alimentos e melhorar a sensibilidade à insulina. Por outro lado, sua inibição parece levar a um aumento na ingestão calórica e no ganho de peso. No entanto, a inconsistência dos resultados em diferentes estudos ressalta a necessidade de mais pesquisas para entender a função exata deste receptor no controle do apetite e do metabolismo.4
A caquexia e a anorexia são condições clínicas que impactam negativamente na qualidade de vida dos pacientes. Nesse cenário, a modulação do SEC surge como uma estratégia terapêutica promissora. Sabidamente envolvido no controle da homeostase energética, o SEC regula tanto o apetite quanto a sinalização de recompensa alimentar.
A cannabis medicinal tem demonstrado potencial em promover o apetite, melhorar o bem-estar e modular sintomas associados à caquexia, como náuseas, fadiga e dor. Nesse cenário, destaca-se como uma alternativa promissora dentro de uma abordagem multimodal, podendo atuar de forma complementar ao suporte nutricional, tratamento farmacológico convencional e aos cuidados paliativos. Seu potencial de modular o apetite, reduzir náuseas e melhorar o bem-estar geral torna sua integração especialmente relevante em pacientes com quadros clínicos complexos e refratários.
Para saber mais sobre o Sistema Endocanabinoide acesse: Sistema Endocanabinoide: O que é? Por que estudar? – WeCann Academy
Evidências científicas
Uma revisão sistemática da literatura avaliou o potencial dos canabinoides no tratamento da anorexia relacionada ao câncer em idosos. Neste estudo foram avaliados seis artigos, sendo cinco ensaios clínicos randomizados e um estudo prospectivo, demostrando resultados variados na eficácia dos canabinoides em comparação com outras terapias para caquexia e anorexia.5
Por exemplo, o acetato de megestrol (800 mg/dia) demonstrou ser mais eficaz que o dronabinol (2,5 mg duas vezes ao dia) no aumento do apetite. Já a nabilona (0,5 mg/dia) não superou o placebo no alívio de sintomas como dor, náusea, perda de apetite e peso. Contudo, em uma dosagem dobrada para 1,0 mg/6 semanas ao longo de oito semanas, a nabilona levou a um aumento significativo na ingestão de calorias e carboidratos, com alguns pacientes registrando ganho de peso substancial.5
Quanto ao delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), estudos mostraram que doses diárias de 5 mg ou 10 mg resultaram em um aumento de peso de maior ou igual a 10% em 17,6% dos pacientes, sem efeitos colaterais significativos. Pacientes tratados com 2,5 mg de THC também relataram melhor percepção quimiossensorial e aumento do apetite antes das refeições em comparação ao placebo. É importante notar que não foram relatados efeitos colaterais significativos em adultos mais velhos que fizeram uso de canabinoides, o que sugere um perfil de segurança favorável para essa população.5
Uma revisão sistemática e meta-análise recente, publicada por Samuel Hammond e colaboradores (2021), analisou cinco estudos envolvendo 934 participantes para investigar a eficácia da medicina à base de cannabis no tratamento da caquexia. Os resultados, no entanto, não demonstraram superioridade estatisticamente significativa da cannabis em relação ao placebo ou outros tratamentos. Não houve diferença significativa no aumento do apetite, na mudança de peso ou na melhora da qualidade de vida. É crucial notar que a qualidade da evidência nesses estudos foi considerada baixa.6
Uma revisão sistemática publicada em 2022 analisou 11 ensaios clínicos randomizados que investigaram os efeitos do canabidiol sobre o apetite em diferentes populações. Os dados sugerem que indivíduos com índice de massa corporal (IMC) mais elevado apresentaram tendência à redução do apetite após o uso de CBD.7
Contudo, os resultados foram heterogêneos: em alguns subgrupos, como pacientes com diabetes tipo 2 ou transtornos psiquiátricos, o CBD esteve associado tanto ao aumento quanto à diminuição do apetite, ou mesmo à ausência de efeito significativo.7
Outro ponto importante a ser considerado é o delineamento metodológico desses estudos. Em grande parte dos ensaios incluídos, o CBD foi utilizado como terapia adjuvante a outras medicações — como o topiramato, um anticonvulsivante com efeito anorexígeno bem estabelecido. Essa coadministração pode ter influenciado os desfechos relacionados ao apetite, dificultando a avaliação isolada dos efeitos do CBD e, possivelmente, superestimando seu impacto.7
Conclusão
A caquexia e a anorexia representam desafios terapêuticos significativos na prática clínica, sobretudo por seu impacto direto na funcionalidade, no prognóstico e na qualidade de vida de pacientes com doenças crônicas e avançadas. Diante da complexidade dessas síndromes, torna-se fundamental adotar estratégias terapêuticas integradas, que vão além do suporte nutricional convencional e envolvam intervenções farmacológicas e não farmacológicas combinadas.
Nesse contexto, a cannabis medicinal desponta como uma alternativa potencialmente eficaz dentro de uma abordagem multimodal. Seu efeito sobre o sistema endocanabinoide atribui propriedades terapêuticas relevantes para o manejo da síndrome de anorexia-caquexia. A capacidade de estimular vias orexígenas, modular sintomas como náuseas, dor e fadiga, e atuar de forma sinérgica com outras terapias de suporte posiciona a cannabis como uma alternativa promissora, especialmente em casos refratários.
No entanto, apesar do entusiasmo crescente e de alguns resultados positivos, ainda há limitações importantes a serem superadas. As evidências clínicas disponíveis apresentam heterogeneidade metodológica, amostras reduzidas e resultados conflitantes. Além disso, os efeitos do CBD sobre o apetite permanecem inconclusivos, com variações significativas entre diferentes subgrupos e interferência de tratamentos concomitantes.
Portanto, embora os canabinoides — especialmente o THC — apresentem um perfil de segurança favorável e indícios de eficácia em contextos específicos, seu uso clínico deve ser cuidadosamente individualizado, com avaliação criteriosa e acompanhamento médico contínuo.
ELEVE SUA PRÁTICA CLÍNICA A UM NOVO PATAMAR
Após aprender sobre o potencial terapêutico da cannabis medicinal no tratamento de caquexia e anorexia, dê o próximo passo na sua jornada profissional com o WeCann Summit 2025 – o mais importante evento internacional dedicado à medicina endocanabinoide e inovações terapêuticas na saúde.
O WeCann Summit 2025, que acontecerá nos dias 23, 24 e 25 de outubro no Royal Palm Hall, em Campinas, representa uma oportunidade única para aprofundar seu conhecimento sobre o sistema endocanabinoide, suas aplicações clínicas em diversas condições, e novas e promissoras fronteiras da Medicina, como sistemas de suporte à decisão clínica baseados em Inteligência Artificial.
Este evento reúne experts de quatro continentes, oferecendo:
- Conteúdo técnico altamente qualificado;
- Protocolos práticos para implementação imediata em seu consultório;
- Rede de contatos com especialistas e colegas de +50 especialidades e áreas de atuação.
O WeCann Summit 2025 é mais do que um congresso médico: é o ponto de encontro entre ciência, inovação e prática médica de excelência.
Seu passaporte para novas fronteiras da Medicina está disponível apertando no botão abaixo:
Referências
- Daley SF, Ali MA, Ohnuma T, et al. Anorexia and Cachexia. [Updated 2025 Jan 19]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK430977/
- MONTAGNER, Patrícia; DE SALAS-QUIROGA, Adán. Tratado de Medicina Endocanabinoide.1. ed. WeCann Endocannabinoid Global Academy, 2023.
- Kurtov M, Rubinić I, Likić R. The endocannabinoid system in appetite regulation and treatment of obesity. Pharmacol Res Perspect. 2024; 12:e70009. doi:10.1002/prp2.70009
- Verty ANA, Stefanidis A, McAinch AJ, Hryciw DH, Oldfield B. Anti-obesity effect of the CB2 receptor agonist JWH-015 in diet-induced obese mice. A Nadal, PLoS One. 2015; 10(11):e0140592.
- Ceolin C, et al. The potential of cannabinoids in managing cancer-related anorexia in older adults: a systematic review of the literature. J Nutr Health Aging. 2024; 28:100299. doi: 10.1016/j.jnha.2024.100299
- Hammond S, et al. O efeito da medicina à base de cannabis no tratamento da caquexia: uma revisão sistemática e meta-análise. Cannabis Cannabinoid Res. 2021; 6:474-487. doi: 10.1089/can.2021.0048
- Pinto, Joaquim S, and Fátima Martel. “Effects of Cannabidiol on Appetite and Body Weight: A Systematic Review.” Clinical drug investigation vol. 42,11 (2022): 909-919. doi:10.1007/s40261-022-01205-y