Identificação
Paciente com 50 anos, do sexo feminino, casada, negra, profissional soldadora.
Apresentação do caso clínico
A paciente foi diagnosticada com Artrite Reumatoide (AR) soropositiva em 2016, com fator reumatoide (FR) positivo e anti-CCP reagente. Em 23 de novembro de 2020, procurou atendimento médico relatando dor difusa em todo o corpo, com piora nas primeiras horas da manhã e no período noturno, prejudicando significativamente sua qualidade de vida. Referia também quadros frequentes de ansiedade, embora negasse outras comorbidades clínicas de base. Tinha antecedente de pericardite em fevereiro de 2020.
A paciente já havia sido submetida a diversos esquemas terapêuticos para AR, incluindo metotrexato (MTX), hidroxicloroquina (HCQ), azatioprina, leflunomida (LEF) e adalimumabe (ADA), todos com resposta terapêutica insatisfatória. Na ocasião da consulta, fazia uso de prednisona 5 mg/dia e tocilizumabe (Actemra®) 80 mg/mL, em esquema de nove ampolas a cada 28 dias, além de analgésico de resgate (Revange®) conforme necessidade.
Histórico Familiar e Hábitos de Vida
Não foram relatados antecedentes familiares relevantes. Paciente exercia a profissão de soldadora, que exige esforço físico e movimentos repetitivos das articulações, principalmente das mãos, o que pode contribuir para exacerbação dos sintomas.
Exame Físico
Na avaliação inicial (23/11/2020), não foram observados sinais de artrite ativa, porém a paciente apresentava dor significativa à palpação de pontos gatilho característicos de fibromialgia e artralgia à palpação, principalmente nas articulações das mãos.
Em avaliação posterior (19/08/2021), constatou-se dor à palpação em todos os “tender points” característicos de fibromialgia.
Ao exame físico, não havia evidência de artrite ativa, mas foi observada dor acentuada à palpação de pontos específicos compatíveis com os tender points clássicos da fibromialgia, além de artralgia especialmente nas articulações das mãos. A ausência de sinovite ativa associada à dor generalizada e sintomas somáticos sugeriu a sobreposição do quadro de fibromialgia à doença reumatológica de base.
Exames Complementares
Laboratoriais:
Hemácias: 4,26–4,51 milhões/mm³ | Hemoglobina: 13,8–14,9 g/dL | Hematócrito: 40,7–44,4% | Leucócitos: 4.700–5.300/mm³ | Plaquetas: 151.000–159.000/mm³ | VHS: 2–3 mm/h | Creatinina: 0,8–0,9 mg/dL | Ureia: 21–24 mg/dL | TGO: 32–57 U/L | TGP: 33–62 U/L | PCR: 0,20–1,84 mg/dL | Fator Reumatoide: 381,4 UI/mL | FAN: Núcleo reagente | Anti-CCP: 3,9 | ANCA P e C: não reagentes | Anti-Nucleossomo: 5 | Anti-Sm: < 7,0 | Ferritina: 1.500 ng/mL | Ferro sérico: 38 μg/dL | Vitamina D: 28,36 ng/mL | Vitamina B12: 671,0 pg/mL | Eletroforese de proteínas: normal | HBsAg: não reagente | Anti-HBs: 0,21 | Anti-HCV: não reagente | Urina: células 9.660, leucócitos 45.980, hemácias 168.650
Diagnóstico
Fibromialgia em atividade associada à Artrite Reumatoide. A paciente apresentava um quadro clínico compatível com fibromialgia (dor generalizada, pontos de dor característicos, distúrbios do sono) sobreposto ao quadro de base de Artrite Reumatoide. Os exames laboratoriais evidenciaram a doença reumatológica de base (FR positivo elevado, Anti-CCP positivo), porém com sinais inflamatórios controlados pelo uso de imunobiológico.
Tratamento com Cannabis
Proposta Terapêutica Inicial
Abordagem Farmacológica
No início do acompanhamento, em 23/11/2020, a paciente fazia uso de Prednisona 5 mg/dia, Tocilizumabe (Actemra) 80 mg/mL – 9 ampolas a cada 28 dias, além de analgésicos de resgate (Revange) utilizados conforme a necessidade. Para o manejo da fibromialgia, foram introduzidos Duloxetina 30 mg/dia por 7 dias, com aumento subsequente para 60 mg/dia, além da reintrodução de Metotrexato 15 mg/semana e Ácido Fólico 5 mg/semana como medida adjuvante.
Diante de resposta apenas parcial, ajustes terapêuticos foram implementados ao longo do seguimento: em dezembro de 2020, iniciou-se Pregabalina 75 mg a cada 12 horas, sendo aumentada em fevereiro de 2021 para 100 mg a cada 12 horas; nesse mesmo mês, o Metotrexato foi ajustado para 20 mg/semana, e em março, a Duloxetina foi aumentada para 90 mg/dia.
Destaca-se a introdução da terapia com Cannabis Medicinal diante da persistência dos sintomas dolorosos e da má qualidade do sono. Foi iniciado o uso de extrato de Cannabis sativa com concentração de 79,14 mg/mL, na posologia de 4 gotas por via sublingual a cada 12 horas (total aproximado de 12,8mg CBD/dia + 0,48mg THC/dia) , com o objetivo de melhorar o controle da dor crônica, promover relaxamento muscular e favorecer o sono reparador, atuando de forma complementar às demais medicações.
Abordagem Não-Farmacológica
Foi recomendado adoção de estratégias de suporte, como modificações ergonômicas no ambiente de trabalho, técnicas de controle da ansiedade, fisioterapia direcionada para alívio da dor, prática regular de atividade física de baixo impacto e implementação de medidas de higiene do sono. Essas medidas são fundamentais para um manejo integral e sustentado da condição clínica.
Acompanhamento e Ajustes
Ajustes no Tratamento
Após a introdução da Cannabis medicinal em agosto/2021, a paciente apresentou melhora significativa do quadro álgico, o que permitiu a redução da Duloxetina de 90 mg/dia para 60 mg/dia em dezembro/2021. Além disso, houve a suspensão do uso de analgésicos de resgate (Revange) que eram utilizados até então em esquema SOS.
Conclusão
A introdução do extrato de Cannabis sativa no tratamento da paciente trouxe benefícios significativos, especialmente no controle da dor crônica. A melhora substancial da dor permitiu não apenas a redução de outras medicações, como a Duloxetina, mas também a eliminação da necessidade de analgésicos de resgate. Além disso, observou-se uma melhora notável na qualidade do sono e no humor da paciente, dois aspectos frequentemente comprometidos em casos de fibromialgia e doenças reumatológicas associadas.
Esse avanço terapêutico reflete a eficácia da Cannabis sativa como uma alternativa inovadora e complementar ao tratamento convencional, destacando seu potencial em pacientes com quadros refratários. A capacidade da cannabis medicinal de melhorar a qualidade de vida vai além do alívio da dor, proporcionando um impacto positivo no bem-estar geral da paciente, com benefícios adicionais na regulação do sono e no controle da ansiedade, fundamentais para um melhor equilíbrio emocional.
Este caso clínico ilustra a relevância da utilização de terapias complementares e da abordagem multiprofissional no tratamento da dor crônica, distúrbios do sono e do humor, mostrando como a cannabis medicinal pode melhorar não só o controle dos sintomas, mas também possibilitar a redução de medicamentos convencionais, o que, por sua vez, diminui a exposição a potenciais efeitos colaterais. A evolução favorável da paciente sugere que o uso de canabinoides representa uma inovação terapêutica promissora, que pode transformar o tratamento de pacientes com condições crônicas e desafiadoras.
Para saber mais como a cannabis medicinal pode auxiliar pacientes com Artrite Reumatoide, acesse: Como o Canabidiol e outros canabinoides podem ajudar na gestão da Artrite Reumatoide?
As informações pessoais contidas neste caso clínico foram modificadas para preservar a identidade e a imagem do paciente, mantendo, no entanto, a veracidade e a integridade dos dados clínicos. Este é um relato baseado em um caso real, fundamentado na documentação médica e nas observações clínicas realizadas durante o acompanhamento do paciente. A finalidade é compartilhar o tratamento e as estratégias adotadas em um cenário clínico de relevância, respeitando sempre a confidencialidade e a ética médica.
ELEVE SUA PRÁTICA CLÍNICA A UM NOVO PATAMAR
Após aprender sobre aplicação prática do uso da cannabis medicinal no manejo de doenças reumáticas, convidamos você para dar o próximo passo em sua jornada profissional com o WeCann Summit 2025 – o mais importante evento internacional dedicado à medicina endocanabinoide e inovações terapêuticas na saúde.
O WeCann Summit 2025, que acontecerá nos dias 23, 24 e 25 de outubro no Royal Palm Hall, em Campinas, representa uma oportunidade única para aprofundar seu conhecimento sobre o sistema endocanabinoide, suas aplicações clínicas em diversas condições, e novas e promissoras fronteiras da Medicina, como sistemas de suporte à decisão clínica baseados em Inteligência Artificial.
Este evento reúne experts de quatro continentes, oferecendo:
- Conteúdo técnico altamente qualificado;
- Protocolos práticos para implementação imediata em seu consultório;
- Rede de contatos com especialistas e colegas de +50 especialidades e áreas de atuação.
O WeCann Summit 2025 é mais do que um congresso médico: é o ponto de encontro entre ciência, inovação e prática médica de excelência.
Seu passaporte para novas fronteiras da Medicina está disponível apertando no botão abaixo: