Como ter acesso à cannabis medicinal no Brasil: um guia completo

Publicado em 18/09/25 | Atualizado em 18/09/25 Leitura: 7 minutos

Cannabis como MedicamentoEducação Médica

A cannabis medicinal tem se consolidado como uma ferramenta terapêutica de crescente relevância clínica para diversas patologias, como epilepsia refratária, dor crônica, doença de Parkinson e transtornos de ansiedade. A base científica para sua eficácia continua a se expandir globalmente, impulsionando a flexibilização legislativa. 

No contexto brasileiro, contudo, a despeito do reconhecimento pela Anvisa de suas propriedades medicinais, a democratização do acesso aos seus derivados ainda representa um desafio significativo para a saúde pública. Compreender os caminhos regulatórios e as vias de acesso é fundamental para o profissional que deseja oferecer essa modalidade de tratamento aos seus pacientes.

O primeiro e mais importante passo: a consulta médica

Antes de qualquer coisa, o ponto de partida é sempre uma consulta com um médico que tenha conhecimento e experiência no tratamento com cannabis medicinal.¹ Nosso papel é:

  • Avaliar seu histórico de saúde e sua condição clínica.
  • Determinar se a cannabis medicinal é uma opção de tratamento adequada para o seu caso.
  • Definir o tipo de produto, a via de administração (como gotas, cápsulas, tópicos, etc.) e a dosagem correta.
  • Elaborar a prescrição e o laudo detalhado, documentos essenciais para dar prosseguimento a qualquer uma das vias de acesso.

As 4 principais vias de acesso

Como médico, a sua prescrição é o ponto de partida para que o paciente tenha acesso aos produtos de cannabis medicinal. Dominar as vias regulatórias é essencial para garantir a segurança e a legalidade do tratamento. 

As 4 principais vias de acesso
As 4 principais vias de acesso

A escolha da via de acesso é uma decisão clínica que o médico deve tomar em conjunto com o paciente. Conhecer as vantagens e desvantagens de cada opção é essencial para garantir a segurança e a eficácia do tratamento.

Produtos em farmácias

Esta via é baseada na RDC nº 327 da Anvisa e permite que produtos com registro ou notificação sanitária sejam adquiridos diretamente nas farmácias e drogarias brasileiras.²

  • Vantagens: A principal vantagem é a segurança regulatória e a facilidade de aquisição. O produto é fiscalizado pela Anvisa, e o processo de compra é simples para o paciente.
  • Desvantagens: A oferta ainda é limitada. O médico pode ter poucas opções de produtos para prescrever. Além disso, a prescrição exige o uso de receituário controlado físico, o que pode ser menos prático.

 

Para saber mais sobre os produtos aprovados pela Anvisa acesse: Cannabis medicinal e Anvisa: conheça os 35 produtos já registrados

Importando o medicamento

A importação é uma alternativa regulamentada pela RDC nº 660 da Anvisa, ideal quando o produto desejado não está disponível no Brasil.³

  • Vantagens: O acesso a um mercado global oferece uma maior variedade de produtos e formulações, permitindo uma prescrição mais personalizada. O processo de autorização pode ser feito eletronicamente, o que simplifica o fluxo de receituário digital.
  • Desvantagens: A imprevisibilidade da logística de importação pode causar atrasos. O médico também precisa ter conhecimento técnico aprofundado para avaliar a qualidade e a segurança do produto, já que ele não é diretamente fiscalizado no Brasil.

 

Como funciona a importação?

  1. Autorização da Anvisa: Você deve solicitar a autorização de importação pela internet, no site da agência. Basta preencher um formulário eletrônico e anexar a prescrição e o laudo médico. A análise costuma levar cerca de 10 dias.
  2. Compra e envio: Com a autorização em mãos, você pode comprar o produto de um fabricante ou distribuidor internacional. É importante considerar os custos de envio e os trâmites burocráticos.

 

Associações de pacientes

Algumas associações de pacientes operam com base em autorizações judiciais para cultivar e produzir derivados de cannabis.

  • Vantagens: Muitas associações oferecem maior variedade de formulações e um custo mais acessível, tornando o tratamento viável para pacientes de menor renda. O sentimento de pertencimento a uma comunidade também é um benefício social.
  • Desvantagens: A falta de regulamentação e padronização é um desafio. Os produtos podem variar em concentração e pureza, o que exige que o médico tenha conhecimento técnico para avaliar a qualidade e a segurança do produto, já que não há a supervisão de um órgão sanitário.

 

Acesso pelo SUS e planos de saúde

É fundamental que o médico compreenda o caminho para que o paciente obtenha o tratamento por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) ou de planos de saúde. Embora esse seja um direito, o processo demanda uma abordagem administrativa e, em muitos casos, judicial.

  • Processo no SUS: Para iniciar, o paciente precisa de uma prescrição médica e de um relatório clínico detalhado. Com esses documentos, o processo administrativo deve ser protocolado na Secretaria de Saúde local. Uma vez aprovado, o medicamento é fornecido gratuitamente.
  • Cobertura por Planos de Saúde: A ausência do canabidiol no Rol de Procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) não impede o acesso. O médico pode auxiliar o paciente na solicitação formal ao plano de saúde. Em caso de recusa, o Poder Judiciário tem sido um recurso eficaz para garantir a cobertura do tratamento.

 

Conclusão

O acesso à cannabis medicinal no Brasil, embora em evolução, ainda se depara com barreiras significativas, que podem ser de ordem regulatória, econômica ou burocrática. Como profissionais de saúde, nosso papel é fundamental para orientar os pacientes sobre as vias de acesso legais e seguras.

A escolha da melhor via de acesso dependerá de uma avaliação criteriosa do caso clínico, das necessidades do paciente e das suas condições socioeconômicas. Ao dominar o processo e conhecer as alternativas disponíveis, o médico está mais preparado para garantir que o paciente tenha acesso a essa importante ferramenta terapêutica.

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O domínio sobre o processo regulatório e a compreensão das alternativas disponíveis, desde a compra em farmácias até o acesso por vias judiciais, não é apenas um conhecimento administrativo, mas uma competência clínica essencial. Ela nos capacita a garantir que o paciente tenha acesso à ferramenta terapêutica de que necessita, respeitando as normativas vigentes e, acima de tudo, priorizando sua saúde e bem-estar.

Neste cenário, a WeCann surge como uma aliada estratégica da comunidade médica, oferecendo formação baseada em evidências e ferramentas práticas para integrar o conhecimento sobre cannabis medicinal à prática clínica. Entre esses recursos, destaca-se o Tratado de Medicina Endocanabinoide, como uma referência técnico-científica internacional, fornecendo o conhecimento necessário para abordar desde as indicações clínicas complexas até os aspectos regulatórios.

Se você é um profissional da saúde que busca atuar de forma ética, atualizada e centrada no paciente, o acesso ao Tratado de Medicina Endocanabinoide é um passo decisivo para transformar sua abordagem terapêutica.

Referências

  1. Conselho Federal de Medicina (CFM). (2021). Diretrizes para prescrição de canabinoides. Disponível em: www.portal.cfm.org.br.
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 327, de 9 de dezembro de 2019. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 dez. 2019. Seção 1, p. 194.
  3. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Resolução de Diretoria Colegiada – RDC Nº 660, de 30 de março de 2022. Dispõe sobre a simplificação de procedimentos para a importação de produtos de cannabis para fins medicinais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 mar. 2022.

 

Esse texto foi elaborado pelo time de experts da WeCann, baseado nas evidências científicas partilhadas nas referências e, amparado na ampla experiência prescritiva dos profissionais.

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