Conheça os benefícios do tratamento com Cannabis na esclerose múltipla

 

Quase 3 milhões de pessoas vivem com esclerose múltipla (EM) em todo o mundo. A cada cinco minutos alguém é diagnosticado com a doença. Os números são da terceira edição do Atlas da Esclerose Múltipla, lançado em setembro de 2020 pela Federação Internacional de Esclerose Múltipla (MSIF). O relatório também mostra que as pessoas diagnosticadas com EM enfrentam barreiras para acessar terapias complementares em 7 a cada 10 países  um cenário que precisa mudar, visto os benefícios que terapêuticas adjuvantes podem proporcionar a esses pacientes, como por exemplo, os medicamentos à base de Cannabis.

Um levantamento feito com médicos e pacientes brasileiros mostra que a maioria das pessoas com EM têm entre 18 e 34 anos e 77% delas apresentam esclerose múltipla remitente-recorrente, que é a forma mais frequente da doença. 

Quanto aos sintomas, a fadiga foi citada como o que mais prejudica a qualidade de vida (por 74% dos respondentes), seguida por dor (42%), dificuldade para se concentrar, problemas cognitivos (ambos por 37%), dificuldade para caminhar (35%), desequilíbrio e tendência a quedas (35%) e problemas sexuais e urinários (24%). 

 

Qual o potencial da Cannabis na esclerose múltipla?

 

Dor e espasticidade

Baclofeno, dantroleno, diazepam e gabapentina são, atualmente, as principais medicações utilizadas para tratamento da espasticidade e dor durante o curso da doença, porém os resultados são modestostodas as opções citadas são consideradas ineficazes em aproximadamente 40% dos casos. 

Fabricado pela GW Pharmaceuticals e lançado em 2005 no Canadá, o Sativex® foi o primeiro medicamento à base de Cannabis aprovado em diversos órgãos regulatórios no mundo. O medicamento contém proporções semelhantes de tetraidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD) e foi registrado para tratar sintomas de rigidez muscular e quadros de espasticidade, relacionados à esclerose múltipla. Doze anos depois, o remédio chegou ao Brasil e foi o primeiro medicamento à base de cannabis a ter o registro aprovado pela Anvisa, sob o nome de Mevatyl®, em 2017. 

>> Leia mais  em: https://wecann.academy/cannabis-anvisa

Diversos trabalhos na literatura têm validado os benefícios da Cannabis medicinal para tratar a espasticidade, explorando os benefícios terapêuticos tanto do uso do canabinoide isolado THC, quanto dos extratos da planta completa, como o Sativex® .

 

>> Veja em: https://bmcneurol.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12883-021-02246-0

>> Veja em:The Use of Cannabis and Cannabinoids in Treating Symptoms of Multiple Sclerosis: a Systematic Review of Reviews

Os trabalhos refletem os resultados que pacientes com EM experimentam ao usar cannabis medicinal. Como por exemplo, nessa clínica de Connecticut, que entrevistou cento e quinze indivíduos em tratamento para EM, inscritos no Programa de Maconha Medicinal de Connecticut (CTMMP). Os pacientes responderam um questionário de 36 perguntas sobre o uso de Cannabis, incluindo frequência, efeitos sobre os sintomas e mudanças na administração dos medicamentos prescritos. 

Foram relatados benefícios em relação a sintomas sensoriais, como dor, cãibras e espasmos musculares. Uma proporção significativa dos entrevistados disse ter interrompido ou reduzido as medicações previamente em uso, principalmente, opioides, benzodiazepínicos, relaxantes musculares e outros medicamentos para dor. A pesquisa foi publicada em fevereiro de 2021.

 

Transtornos do sono

Os pacientes de Connecticut também citaram como vantagens do tratamento com Cannabis medicinal na esclerose múltipla a redução da insônia

Um outro estudo realizado com pacientes do University of British Columbia Hospital (UBCH) mostrou que 95% deles tiveram melhora no sono e na dor com o uso de Cannabis. A maioria dos respondentes não relatou efeitos adversos (56%), mas 20% tiveram a percepção de distúrbios na memória e 18% de confusão mental.

>> Leia mais em Cannabis-based product use in a multiple sclerosis cohort

Sintomas urinários

Existem achados que sugerem efeitos clínicos positivos da Cannabis em relação à incontinência urinária na EM. Para um estudo de 2006, 630 pacientes com a doença foram divididos em grupos que receberam, cada um, extrato de Cannabis predominante em CBD, THC isolado ou placebo. 

Quem recebeu o extrato de Cannabis teve redução de 38% nos episódios de incontinência; os que usaram THC isolado, 33%; enquanto o grupo que utilizou placebo teve apenas 18%. 

>> Confira: The effect of cannabis on urge incontinence in patients with multiple sclerosis: a multicentre, randomised placebo-controlled trial (CAMS-LUTS)

 

Efeitos adversos

A maior parte das revisões sobre o uso de Cannabis na esclerose múltipla identificou efeitos adversos semelhantes, normalmente descritos com intensidade leve a moderada. São eles: tontura, boca seca, euforia, diarreia e dificuldade de concentração. De forma geral, não houve impacto significativo na cognição.

São diversas as pesquisas que mostram o potencial da Cannabis no tratamento adjuvante da EM. Vale lembrar que as substâncias da planta atuam ainda como neuroprotetores, neuro antioxidantes e neuro anti-inflamatórios. Ao mesmo tempo, apresentam um baixo perfil de toxicidade e efeitos adversos. 

 

Se você quer saber mais sobre as descobertas da Cannabis na neurologia, acompanhe nosso blog. E caso tenha interesse em Medicina Endocanabinoide e em como prescrever Cannabis medicinal com segurança e eficácia, não deixe de conhecer o programa de certificação da WeCann Academy. 

 


Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESCLEROSE MÚLTIPLA. Atlas da EM 3ª  edição. Disponível em https://www.abem.org.br/wp-content/uploads/2020/09/AtlasOfMS_3rdEdition_traduzido.pdf. Acesso em: 18 jul. 2021.

Fragoso YD, Carra A, Macias MA. Cannabis and multiple sclerosis. Expert Rev Neurother. 2020;20(8):849-854. doi:10.1080/14737175.2020.1776610

Freeman RM, Adekanmi O, Waterfield MR, Waterfield AE, Wright D, Zajicek J. The effect of cannabis on urge incontinence in patients with multiple sclerosis: a multicentre, randomised placebo-controlled trial (CAMS-LUTS). Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct. 2006;17(6):636-641. doi:10.1007/s00192-006-0086-x

Guarnaccia JB, Khan A, Ayettey R, Treu JA, Comerford B, Njike VY. Patterns of Medical Cannabis Use among Patients Diagnosed with Multiple Sclerosis. Mult Scler Relat Disord. 2021;50:102830. doi:10.1016/j.msard.2021.102830

Lopes, Larissa. Esclerose múltipla: apenas 26% são orientados sobre futuro com a doença. Revista Galileu. 2020. Acesso em: 18 jul. 2021.

Nielsen S, Germanos R, Weier M, et al. The Use of Cannabis and Cannabinoids in Treating Symptoms of Multiple Sclerosis: a Systematic Review of Reviews. Curr Neurol Neurosci Rep. 2018;18(2):8. Published 2018 Feb 13. doi:10.1007/s11910-018-0814-x

Schabas AJ, Vukojevic V, Taylor C, et al. Cannabis-based product use in a multiple sclerosis cohort. Mult Scler J Exp Transl Clin. 2019;5(3):2055217319869360. Published 2019 Sep 25. doi:10.1177/2055217319869360

 

Esse texto foi elaborado pelo time de experts da WeCann, baseado nas evidências científicas partilhadas nas referências e, amparado na ampla experiência prescritiva dos profissionais.

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