O paciente que inicia quimioterapia se depara com dois cenários: por um lado, existe a esperança de estar começando um tratamento após a descoberta da doença; por outro, os quimioterápicos em si podem trazer diversos efeitos colaterais, que não raras vezes causam mais sintomas que o próprio câncer, potencializando o sofrimento.
Dentre os principais efeitos indesejáveis da quimioterapia listados pelo Instituto Nacional do Câncer, estão fraqueza, diarréia, perda ou aumento de peso, lesões na mucosa da boca, queda de cabelos e outros pêlos, náuseas, vômitos e tonturas. Há diversos estudos que buscam encontrar alternativas além das medicações habituais, que não raras vezes falham para reduzir esses sintomas. Entre os mais recentes estão os que explicam como podem interagir os derivados canabinoides e os quimioterápicos, beneficiando os pacientes com câncer.
Qual o potencial terapêutico dos derivados canabinoides em pacientes em uso de quimioterapia?
Desde 1986, o órgão regulatório norte-americano Food and Drug Administration (FDA) aprovou o uso do Dronabinol®, um THC sintético de administração oral para o tratamento de náuseas e vômitos de pacientes submetidos à terapêutica com quimioterápicos.
Outro THC sintético, a Nabilona, também foi aprovada nos Estados Unidos e no Canadá para tratamento da náusea e vômitos associados à quimioterapia.
>>> Leia aqui a publicação Cannabis and Cannabinoids (PDQ®): Health Professional Version.
As duas medicações também são recomendadas pela American Society for Clinical Oncology (ASCO) quando os sintomas de náuseas e vômitos são resistentes às terapêuticas habituais.
>>> Confira no artigo Antiemetics: American Society of Clinical Oncology clinical practice guideline update.
De acordo com o artigo Cannabinoids for nausea and vomiting in adults with cancer receiving chemotherapy, estudos que comparam o uso de canabinoides a placebos e a anti-eméticos convencionais em adultos em tratamento quimioterápico mostram que mais pacientes informam a ausência completa de vômitos e a ausência completa de náuseas e vômitos quando recebem derivados canabinoides em comparação a placebo. Além disso, mais pessoas afirmam preferir os canabinoides no lugar de placebo e de proclorperazina.
>>> Confira em Cannabinoids for nausea and vomiting in adults with cancer receiving chemotherapy.
Já a revisão sistemática Cannabinoids for control of chemotherapy induced nausea and vomiting: quantitative systematic review traz como resultado que derivados canabinoides foram mais efetivos no controle de náuseas e vômitos do que proclorperazina, metoclopramida, clorpromazina, tietilperazina, haloperidol, domperidona ou alizaprida.
>>> Leia o artigo Cannabinoids for control of chemotherapy induced nausea and vomiting: quantitative systematic review.
Na Alemanha, o Dronabinol® é fornecido como um produto comercial nas opções de 2,5mg, 5mg ou 10mg, e ainda como gotas ou na forma de cápsulas. Para adquiri-lo, é necessário uma prescrição médica. Em 2017, foi aprovado por unanimidade no parlamento alemão uma reforma legislativa que permitiu o cultivo de Cannabis para fins medicinais no país — confira a notícia publicada no jornal Deutsche Welle (DW).
Cannabis e quimioterápicos: ação anti-emética
Os estudos envolvendo Cannabis no contexto de uso de quimioterápicos trazem resultados positivos principalmente no que se refere ao controle de náusea e vômitos. No informe técnico da FioCruz sobre o uso de Cannabis Medicinal como efeito antiemético no tratamento do câncer, foram identificadas 12 revisões sistemáticas sobre o tema. Os produtos mais frequentemente avaliados foram as formulações à base de THC sintético Dronabinol e Nabilona — que, em geral, foram comparados placebo ou Proclorperazina.
Assim como o próprio documento destaca, a literatura indica a eficácia de derivados canabinoides como antieméticos quando comparados a placebos ou outros anti-eméticos, especialmente a proclorperazina.
>>> Confira o informe técnico O uso de Cannabis Medicinal como efeito antiemético no tratamento do câncer.
Outros benefícios da Cannabis medicinal para pacientes oncológicos
Além da comprovada atuação antiemética do THC, a Cannabis medicinal pode colaborar de outras maneiras para o bem-estar do paciente com câncer.
Em torno de 50% das pessoas com câncer têm dor neuropática, seja pela doença em si, seja pelo tratamento. Embora não se associa a risco de vida, os sintomas da neuropatia periférica induzida pelos quimioterápicos têm impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes oncológicos e podem influenciar, inclusive, a adesão do paciente ao tratamento antineoplásico.
As opções farmacológicas atuais para o tratamento da neuropatia periférica avançaram muito pouco nos últimos anos, e não raras vezes, trazem efeitos adversos, que pioram ainda mais a qualidade de vida desses pacientes.
>>> Veja os artigos Chemotherapy-induced peripheral neuropathy: review for clinical practice e Care After Chemotherapy: Peripheral Neuropathy, Cannabis for Symptom Control, and Mindfulness.
A Federação Europeia da Dor e a Sociedade Canadense de Dor recentemente publicaram trabalhos posicionando os derivados canabinoides como tratamento de terceira linha na dor neuropática. Ficando à frente da agentes de quarta linha como a metadona e anticonvulsivantes como a lamotrigina.
>>> Leia em European Pain Federation (EFIC) position paper on appropriate use of cannabis-based medicines and medical cannabis for chronic pain management e Pharmacological management of chronic neuropathic pain: revised consensus statement from the Canadian Pain Society.
Os produtos à base de Cannabis demonstram grande potencial terapêutico não só no tratamento da neuropatia periférica induzida por quimioterapia, mas também no contexto de náuseas, vômitos, redução do apetite, perda ponderal, transtornos do sono e humor e prejuízo nas relações sociais, que frequentemente acompanha o paciente oncológico.
Apesar de o Canabidiol e o Tetrahidrocanabinol serem os dois elementos químicos mais conhecidos e explorados até o momento, a planta Cannabis reúne mais de 500 compostos químicos, com potencial terapêutico próprio.
Por isso, como falamos previamente, diversos e relevantes benefícios podem ser observados no uso de derivados canabinoides em pacientes oncológicos, como:
- Alívio de dor, em especial, dor neuropática;
- Sensação de relaxamento e bem-estar;
- Estimulação do apetite;
- Indução do sono.
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Referências
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Antiemetics: American Society of Clinical Oncology clinical practice guidelineupdate. J Clin Oncol. 2017.
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