Uma das principais indicações clínicas da Cannabis é no tratamento da ansiedade. São diversas as pesquisas científicas que comprovam o potencial terapêutico da planta no controle desse transtorno, sobretudo em relação aos extratos que combinam os fitocanabinoides CBD (canabidiol) e THC (delta-9-tetrahidrocanabinol).
Neste post, falaremos mais sobre essas substâncias e listaremos os principais conceitos prescritivos para você atuar com segurança e eficácia na prática prescritiva no contexto de transtornos de ansiedade.
O uso dos fitocanabinoides no tratamento da ansiedade
A administração assertiva de CBD e THC é capaz de reduzir significativamente a manifestação de sintomas comuns nos transtornos de ansiedade e estresse. Esses fitocanabinoides produzem um efeito ansiolítico que minimiza de forma prolongada a expressão das respostas defensivas nos momentos de crise.
No entanto, como na maioria das vezes a Cannabis apresenta uma relação dose/resposta bifásica, é preciso estar muito atento a alguns conceitos prescritivos para não comprometer os efeitos terapêuticos dessas medicações.
Quando falamos em relação bifásica significa que, em um primeiro momento, aumentar a dose do produto corresponde a aumentar os efeitos terapêuticos desejados.
Porém, existe uma dose ótima que não deve ser ultrapassada, caso contrário pode haver redução nos efeitos terapêuticos desejados ou até o aparecimento de efeitos opostos àqueles que se pretendia alcançar.
O THC, por exemplo, em doses otimizadas é um poderoso ansiolítico, trazendo sensações de relaxamento e bem-estar, além de induzir o sono e o apetite.
Já em doses elevadas, a substância provoca justamente o oposto: agitação psicomotora, irritabilidade, insônia e inibição do apetite. Portanto, é fundamental identificar a dose ótima do derivado canabinoide para cada paciente, tendo como balizador a melhora dos sintomas e/ou o aparecimento de potenciais efeitos adversos resultantes do uso.
Principais conceitos prescritivos da Cannabis
O objetivo geral na terapêutica canábica é produzir alívio dos sintomas e aumentar a qualidade de vida do paciente sem induzir efeitos adversos. Para que seja possível manter esse equilíbrio, alguns conceitos prescritivos devem ser priorizados. São eles:
1. Triar perfis de risco
Alguns pacientes apresentam um perfil de risco para o uso da Cannabis, como adolescentes, idosos, grávidas, lactantes, portadores de doenças cardiovasculares graves e instáveis e portadores de doenças psiquiátricas graves ou não tratadas.
Nesses casos, é preciso ser ainda mais cuidadoso na prescrição, individualizando os tratamentos e titulando as doses mais lentamente.
2. Investigar histórico de relação com a planta
Pessoas que fazem uso da Cannabis para fins recreativos e que relatam experiências desagradáveis, como ansiedade extrema e sensação de paranóia, apresentam maior possibilidade de serem hipersensíveis ao THC.
Nessas situações, o ideal é priorizar formulações predominantes em CBD e ser mais cuidadoso ainda na titulação dos produtos enriquecidos em THC.
3. Nivelar expectativas com os pacientes
Embora representem um vasto arsenal terapêutico, os medicamentos à base de Cannabis não são uma solução mágica, não estão indicados para todos os casos, nem apresentam respostas satisfatórias em todos os pacientes.
Por isso, é muito importante construir uma relação sólida e transparente com seus pacientes, de modo a alinhar metas terapêuticas reais para que os resultados não frustrem as expectativas dos pacientes e de seus familiares.
4. Individualizar os tratamentos
Cada indivíduo tem uma estrutura bioquímica única e um Sistema Endocanabinoide único. Isso quer dizer que não há “receita de bolo” para a prescrição de medicamentos à base de Cannabis. É preciso contextualizar cada caso para escolher a via de administração, o perfil de formulação e a estratégia de dosagem conforme as particularidades de cada paciente.
5. Utilizar produtos full spectrum (espectro total)
Prefira produtos de espectro total, o uso de produtos full spectrum amplifica os efeitos medicinais da planta. Os canabinoides, flavonoides, terpenos e outros metabólitos presentes na planta atuam em sinergia uns com os outros para potencializar os diferentes efeitos terapêuticos. Este efeito chamamos de efeito entourage ou efeito comitiva, e já foi demonstrado na literatura que o uso de fitoterápicos é mais eficaz que o uso de moléculas únicas, devido a esse mecanismo de sinergia. O efeito entourage modula também os potenciais efeitos adversos dessas medicações.
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Referências
PAPAGIANNI, Eleni P.; STEVENSON, Carl W. Cannabinoid Regulation of Fear and Anxiety: an Update. Current psychiatry reports, v. 21, n. 6, p. 38, 2019.