A Doença de Alzheimer (DA) é a doença neurodegenerativa mais comum do mundo e a principal causa de dependência funcional, institucionalização e morte entre a população idosa do Brasil.
Com o aumento da expectativa de vida, calcula-se que a cada 33 segundos surja um novo caso da doença. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), já são 35,6 milhões de pessoas com DA no mundo, sendo que esse número deve dobrar até 2030 e triplicar até 2050. Por isso, é fundamental que avancemos nas pesquisas de alternativas terapêuticas mais promissoras para a doença.
Uma das vertentes atualmente explorada é a Cannabis medicinal. Em uma revisão realizada nas bases de dados do Pubmed, Cochrane, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Scielo, Sousa e Marques concluem que a Cannabis medicinal é uma terapia promissora para auxiliar no tratamento da Doença de Alzheimer, por apresentar poucos efeitos colaterais e agir diretamente nos principais mecanismos fisiopatológicos da doença (regulação de neurotransmissores, formação e deposição de placas β amilóide, toxicidade e morte neuronal). O trabalho foi apresentado no VI Congresso Internacional de Envelhecimento Humano, em 2019.
>> Leia em: Descobertas sobre o uso de Cannabis na Doença de Alzheimer: uma revisão da literatura
O que já se sabe sobre uso de Cannabis medicinal no Alzheimer
Em 2016, foi realizado um estudo com 11 participantes com DA, todos com sintomas comportamentais e psicológicos relacionados à demência. Os pacientes foram tratados com óleo de Cannabis por 4 semanas e os resultados foram promissores: foi observada uma redução significativa no escore de Impressão Global Clínica, menor estresse do cuidador e melhora nos domínios neuropsicológicos como delírios, insônia, apatia e irritabilidade. Ao que tudo indica, isso ocorreu pela ativação do Sistema Endocanabinoide e, consequentemente, pela redução da morte neuronal induzida por deposição de placas β amilóide.
>> Confira aqui o estudo Safety and Efficacy of Medical Cannabis Oil for Behavioral and Psychological Symptoms of Dementia: An-Open Label, Add-On, Pilot Study
Uma outra pesquisa de 2014, realizada com modelos animais de DA demonstra a capacidade do canabidiol (CBD) em melhorar o delírio cognitivo. Os animais receberam 20 mg/kg/dia de CDB durante 8 meses. Os pesquisadores identificaram melhora do déficit de reconhecimento social dos animais, bem como, uma redução da inflamação neuronal.
Em mais um estudo de 2020 sobre Alzheimer e Cannabis medicinal realizado com camundongos, observaram-se melhora nos sintomas de perda de memória, reconhecimento social e aprendizado nos animais. Os camundongos portadores de Alzheimer tinham 1 ano de idade e foram tratados com 50 mg/kg/dia de CDB durante 3 semanas. A redução dos sintomas foi acompanhada pela diminuição dos depósitos de proteína beta amiloide no hipocampo dos animais.
>> Acesse a pesquisa aqui: Chronic Treatment with 50 mg/kg Cannabidiol Improves Cognition and Moderately Reduces Aβ40 Levels in 12-Month-Old Male AβPPswe/PS1ΔE9 Transgenic Mice
Além de tudo, o CBD e o THC podem atuar na recuperação do declínio de memória mesmo em estágios mais avançados e graves da doença. É o que mostra uma pesquisa de 2016, na qual os autores defendem que a recuperação cognitiva nos modelos animais ocorreu através da modulação da neurotransmissão glutamatérgica e gabaérgica — na progressão da DA ocorre perda de neurônios gabaérgicos.
Por que a Cannabis medicinal pode ser uma importante aliada no tratamento da Demência de Alzheimer?
O principal arsenal terapêutico atual da DA são os medicamentos inibidores de acetilcolinesterase (AChE), que aumentam a disponibilidade de acetilcolina na fenda sináptica, aliviando os sintomas da DA, e reduzindo a taxa de progressão do declínio cognitivo. No entanto, a maior parte dos pacientes não são sensíveis aos inibidores de AChE e não demonstram resultados clínicos satisfatórios com esses medicamentos.
>> Saiba mais a respeito neste artigo Doença De Alzheimer: Hipóteses Etiológicas E Perspectivas De Tratamento
Além disso, apesar do aumento da disponibilidade de ACh demonstrar melhoras nos sintomas da DA, os inibidores de AChE não são seletivos, o que torna frequente uma miríade de efeitos adversos dose-dependentes, tais como distúrbios gastrointestinais (diarreia, náuseas, vômito, redução do apetite) e broncoconstrição.
Nesse cenário, os derivados canabinoides demonstram ser uma interessante ferramenta terapêutica, por atuarem como neuroprotetores, neuro antioxidantes e neuro anti-inflamatórios, e ao mesmo tempo, apresentarem um baixo perfil de toxicidade e efeitos adversos.
>> Sobre isso, leia o artigo Canabinoides como uma nova opção terapêutica nas doenças de Parkinson e Alzheimer: uma revisão de literatura. e confira nosso Guia de como dosar derivados canabinoides.
Os principais fitocanabinoides CBD e THC demonstram capacidade de reduzir a formação e deposição de placas β amilóide, reduzir a hiperfosforilação da proteína tau, modular a neurotransmissão glutamatérgica e gabaérgica, conferir proteção à toxicidade neuronal e prevenir a degeneração do hipocampo e córtex cerebral.
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Referências
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