O canabidiol, conhecido como CBD, é um dos elementos químicos mais frequentes da planta da Cannabis Sativa e até o momento, o componente mais estudado e explorado pela ciência. Pela sua ampla gama de propriedades terapêuticas e baixíssima toxicidade, o CBD tem sido amplamente estudado pela indústria farmacêutica.
Ainda assim, muitos médicos encontram dificuldades na leitura de dados técnicos sobre as especificidades dessa substância.
Nesse post, compilamos os pontos mais importantes sobre o CBD que você deve saber, informações equivocadas frequentemente disseminadas e o que temos de artigos científicos mais consistentes até agora!
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O uso do canabidiol no tratamento de patologias neurológicas e psiquiátricas
É muito comum ouvirmos que o Canabidiol, ao contrário do THC, é um elemento não psicoativo
O canabidiol é um elemento químico psicoativo, mas que não apresenta potenciais efeitos psicotóxicos como o THC. Por agir no sistema nervoso central, ajudando a modular as transmissões sinápticas, o CBD apresenta um potencial promissor no tratamento de doenças neurológicas e psiquiátricas.
Na revisão literária sobre o histórico científico medicinal do componente, o artigo Cannabidiol: brief compilation over a versatile molecule selecionou pesquisas que apresentam os efeitos neuroprotetores, antiepiléticos, ansiolíticos e anticonvulsivantes deste fitocanabinoide.
>> Leia a revisão completa aqui: Cannabidiol: brief compilation over a versatile molecule
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Ansiolítico
Em 1993, um estudo clínico realizado por meio de um Simulador de Apresentação Pública, já havia constatado o potencial ansiolítico do CBD, em comparação com outros medicamentos ansiolíticos. O medo de falar em público foi o gatilho ansiogênico avaliado, por isso, os voluntários foram dispostos diante de uma câmera de vídeo, enquanto sintomas físicos e psíquicos como os batimentos cardíacos e pressão arterial eram cuidadosamente monitorizados.
Para avaliar os efeitos ansiolíticos do CBD foi realizado um ensaio duplo-cego e os voluntários foram divididos três grupos, aos quais, foram administradas três medicações: CBD (300 mg), diazepam (10 mg ) e ipsapirona (5 mg).
Como resultado, os pesquisadores concluíram que o Canabidiol e a Ipsapirona foram capazes de atenuar a ansiedade causada pela fala em público, sem causar os efeitos sedativos frequentemente associados ao uso do diazepam.
>> Confira o artigo aqui: Effects of ipsapirone and cannabidiol on human experimental anxiety
Em outro estudo, realizado previamente em 1982, 8 pessoas foram expostas a quantidades pré-definidas de CBD, THC, THC + CBD, diazepam e placebo. A pesquisa mostrou que o CBD, quando administrado concomitantemente com o tetra-hidrocanabinol, foi capaz de reduzir a ansiedade e, também, os efeitos psicoativos associados ao THC.
Ao longo dos anos, diversas pesquisas foram realizadas em modelos animais e humanos e obtiveram resultados semelhantes quanto ao efeito ansiolítico do canabidiol.
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Antipsicótico
Os efeitos antipsicóticos da Cannabis ainda geram debates na comunidade científica. Isso porque o THC, quando consumido em altas doses, pela via inalada e em pessoas geneticamente predispostas, pode estar sim, associado a sintomas psicóticos agudos e outros efeitos neuropsiquiátricos graves negativos.
>> Para entender melhor as propriedades farmacológicas e o potencial psicotóxico do THC, confira nossos conteúdos:
Conheça os atributos medicinais do THC e suas propriedades terapêuticas
Mitos e verdades sobre a toxicidade do THC
Está claro, no entanto, que o CBD apresenta propriedades antipsicóticas e pode auxiliar no manejo de transtornos psicóticos.
Esse estudo, realizado em ratos e camundongos, constatou os efeitos antipsicóticos do CBD na hiperlocomoção e sintomas psicóticos causadas por altas doses de ketamina e anfetamina, revertendo de forma eficaz, os efeitos fisiológicos dessas drogas.
>> Leia o estudo aqui: Effects of cannabidiol in animal models predictive of antipsychotic activity
Esse ensaio duplo-cego realizado com 42 pacientes diagnosticados com esquizofrenia, os efeitos antipsicóticos do componente foram comparados com o medicamento amissulprida. Após 2 a 4 semanas, observou-se que as duas substâncias reduziram os sintomas psicóticos. O CBD, porém, apresentou um perfil de efeitos colaterais mais gentil que a amissulprida, evidenciando mais uma vez, a baixa toxicidade desse fitocanabinoide.
>> Confira o artigo completo aqui: Translational Investigation of the Therapeutic Potential of Cannabidiol (CBD): Toward a New Age
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Antiepiléptico
Tratando-se das propriedades antiepilépticas do CBD, o Brasil é pioneiro e destaca-se na condução de estudos pré-clínicos e clínicos. Ainda na década de 1980, uma pesquisa randomizada e duplo-cega, liderada pelo Dr. Elisaldo Carlini, foi realizada em 15 pacientes diagnosticados com epilepsia de difícil controle.
Divididos em dois grupos, uma parte deles recebeu de 200 a 300 mg por dia de CBD enquanto os demais receberam placebo, durante quase cinco meses. Além de não apresentarem sinais de toxicidade ou efeitos colaterais indesejáveis (como importante sedação observada em outras drogas anticonvulsivantes), os 8 pacientes que receberam CBD apresentaram melhoras, sendo que em 4 deles as crises convulsivas cessaram.
>> Leia o estudo completo aqui: Chronic administration of cannabidiol to healthy volunteers and epileptic patients
Diversos outros estudos foram realizados com a finalidade de confirmar o potencial anticonvulsivante do canabidiol e compreender qual o perfil de medicamento ideal e a posologia necessária para alcançar resultados satisfatórios. Uma das descobertas mais interessantes é a demonstração de que o canabidiol apresenta um melhor perfil de desempenho quando associado a outros terpenos e canabinoides da planta.
Essa metanálise realizada em 2018, investigou os efeitos terapêuticos do CBD isolado em comparação com extratos completos da planta, predominantes em CBD. Constatou-se que, pacientes que fizeram uso apenas do CBD isolado precisaram de uma dose média 4x maior para que alcançassem os mesmos benefícios terapêuticos que os pacientes que fizeram uso do extrato completo da planta.
Ainda, os pacientes que que fizeram uso apenas do CBD isolado apresentaram uma incidência significativamente maior de efeitos colaterais, quando comparados aos pacientes que fizeram uso do extrato completo da planta.
>> Acesse o estudo completo em: Potential Clinical Benefits of CBD-Rich Cannabis Extracts Over Purified CBD in Treatment-Resistant Epilepsy: Observational Data Meta-analysis
A explicação disso é o efeito entourage, uma relação sinérgica que acontece entre todos os compostos químicos presentes na planta Cannabis. Uma série de estudos apresentados nesse artigo mostram que os efeitos medicinais do CBD são intensificados quando administrados juntamente com outros canabinoides e terpenos presentes na planta.
>> Entenda mais lendo o artigo completo aqui: Cannabis-based medicines and pain: a review of potential synergistic and entourage effects
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Anti-inflamatório
Entre os efeitos terapêuticos mais pesquisados do CBD, encontra-se a sua atividade anti-inflamatória. As propriedades anti-inflamatórias do CBD estão principalmente relacionadas com a ativação de receptores endocanabinoides tipo 2 (CB2), que intervêm nestas atividades.
De acordo com este artigo, estudos clínicos demonstram que o CBD modula a resposta de citocinas nos processos inflamatórios. Ou seja, estimula a liberação de citocinas anti-inflamatórias e inibe a reação exagerada de citocinas pró-inflamatórias.
>> Leia o artigo completo aqui: Antioxidative and Anti-Inflammatory Properties of Cannabidiol
Exatamente por sua propriedade anti-inflamatória, o CBD é uma alternativa possível para o tratamento adjuvante de doenças de cunho inflamatório como o diabetes, doenças cardiovasculares, doenças neurodegenerativas, doenças crônicas de pele, doenças virais, dentre outras.
Este estudo, realizado em 2007, investigou como o canabidiol diminui a resposta inflamatória de doenças como a diabetes e a aterosclerose. Os resultados finais sugerem que o CBD possui efeitos fisiológicos importantes contra as complicações de ambas as doenças.
>> Leia o estudo completo: Cannabidiol attenuates high glucose-induced endothelial cell inflammatory response and barrier disruption
Os efeitos colaterais do CBD
Apesar de não existirem indícios de que o canabidiol provoque efeitos colaterais graves, ainda é possível observar reações indesejadas a depender do produto prescrito, da forma de administração, da posologia e de características individuais de cada paciente. Entre os sintomas mais comuns estão: sonolência, prostração, náusea, cefaleia e alterações do trânsito gastrointestinal.
Altas doses de CBD estão mais associadas a efeitos colaterais, bem como, o uso concomitante com outros medicamentos, em especial, drogas anticonvulsivantes e outras drogas psicotrópicas. Níveis elevados de transaminases hepáticas foram associadas, por exemplo, ao uso concomitante de CBD e valproato de sódio.
>> Confira mais informações do estudo aqui: Serious adverse effects of cannabidiol (CBD): a review of randomized controlled trials
Interações medicamentosas do canabidiol: o que sabemos até agora?
Tanto o Canabidiol quanto a maior parte dos medicamentos alopáticos amplamente prescritos são metabolizados no citocromo p450.
Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos separou uma lista de 139 medicamentos que podem apresentar interação medicamentosa com o CBD e quais os seus efeitos, que podem variar de indutoras à inibidoras de um determinado medicamento.
Leia a pesquisa completa: Delta-9-Tetrahydrocannabinol and Cannabidiol Drug-Drug Interactions
Entre os problemas relacionados à interação medicamentosa, o mesmo artigo especifica que o cuidado deve se estender para além dos efeitos sob o sistema nervoso central. O sistema cardiovascular pode apresentar alterações como taquicardia e hipotensão arterial, e as funções hepática e renal podem apresentar alterações em exames de sangue de controle.
Contudo, aconselha-se que a análise sobre as possíveis interações medicamentosas seja sempre individualizada e alinhada com uma estratégia prescritiva assertiva. Para evitar efeitos adversos e otimizar resultados, uma boa relação médico-paciente e um acompanhamento terapêutico próximo, são fundamentais.
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