Caso clínico: Síndrome do intestino irritável e cannabis medicinal

Publicado em 20/09/25 | Atualizado em 14/10/25 | Leitura: 9 minutos

Caso clínicoDoençasGastrointestinais

Identificação

Paciente do sexo feminino, com 35 anos de idade. 

Apresentação do caso clínico

A paciente, uma mulher de 35 anos, buscou atendimento com a queixa principal de dores abdominais intensas, recorrentes e debilitantes. Seu histórico de saúde revela um quadro crônico de Síndrome do Intestino Irritável (SII), com diagnóstico formal há aproximadamente dois anos.

O padrão da dor é descrito como tipo cólica, com intensidade que varia de moderada a grave, frequentemente desencadeada por estresse ou consumo de alimentos específicos, como laticínios ou glúten. A dor é imprevisível, ocorrendo em surtos que duram horas ou até dias, e é a principal causa da sua redução na qualidade de vida, limitando atividades sociais e profissionais. A paciente relata que os episódios mais severos a impedem de sair de casa e a forçam a faltar ao trabalho.

Além das dores, a paciente manifesta outros sintomas típicos da SII. Ela alterna entre episódios de diarreia e constipação, e frequentemente sente inchaço e gases. A dimensão psicológica do quadro é significativa: ela descreve níveis elevados de ansiedade, gerados tanto pela imprevisibilidade da dor quanto pela preocupação com o impacto dos sintomas em seu dia a dia.

O sono da paciente também está gravemente comprometido. Ela relata insônia de manutenção, com frequentes despertares noturnos causados diretamente pelas dores abdominais. Essa privação de sono agrava tanto a fadiga física quanto a ansiedade, criando um ciclo vicioso que perpetua o desconforto e o sofrimento. O tratamento com analgésicos convencionais e antiespasmódicos, tentado anteriormente, teve resultados insatisfatórios, o que a motivou a buscar terapias alternativas, como a Cannabis medicinal.

Paciente sentindo dor abdominal
Paciente sentindo dor abdominal

Antecedentes pessoais e hábitos de vida

A paciente apresenta como comorbidade apenas a Síndrome do Intestino Irritável e Obesidade Grau I. Ela não possui histórico de uso de Cannabis em qualquer forma. No entanto, foi constatado que a paciente é sedentária, não praticando atividades físicas de forma regular. Apesar de manter uma alimentação saudável (SIC).

Exame Físico

A paciente encontra-se em bom estado geral (BEG). Fácies atípicas, colaborativa durante a avaliação, eupneica. Os sinais vitais estão estáveis, dentro dos limites da normalidade.

  • Pele: Sem lesões, normocorada e hidratada.
  • Respiratório (AR): Tórax simétrico, com expansibilidade preservada. O murmúrio vesicular é audível em ambos os pulmões, sem ruídos adventícios (como sibilos ou crepitações).
  • Cardiovascular (ACV): As bulhas cardíacas são rítmicas e de intensidade normal (normofonéticas) em dois tempos, sem presença de sopros. Os pulsos periféricos presentes e simétricos.
  • Abdominal (ABD): O abdômen é globoso devido à obesidade grau I, mas indolor à palpação superficial e profunda. A percussão é timpânica em toda a extensão, e a ausculta revela ruídos hidroaéreos aumentados.
  • Extremidades (EXT): Membros superiores e inferiores simétricos, sem edemas, cianose ou sinais de atrofia.
  • Neurológico: O exame neurológico não apresenta déficits. A paciente está consciente e orientada no tempo e espaço, com força e reflexos preservados.

Lista de problemas

  • P1: Síndrome do Intestino Irritável (SII) 
  • P2: Ansiedade associada à condição crônica.
  • P3: Distúrbio do sono (insônia de manutenção) 
  • P4: Obesidade grau I.
  • P5: Sedentarismo.

Tratamento com Cannabis

Proposta Terapêutica Inicial

O tratamento proposto para a paciente com Síndrome do Intestino Irritável (SII) será realizado com um óleo de canabinoides de espectro completo (full-spectrum). A escolha por um produto de espectro completo se justifica pelo potencial efeito entourage, onde canabinoides e terpenos atuam em sinergia, potencializando o efeito terapêutico do Canabidiol (CBD).

O principal objetivo é reduzir a intensidade da dor abdominal, a queixa mais incapacitante da paciente. Paralelamente, a terapia visa melhorar a qualidade do sono e diminuir os níveis de ansiedade, que estão diretamente ligados às crises de SII.

O produto selecionado, com concentração de 10% de CBD (100mg CBD/ml), é muito pertinente para este caso, pois o CBD possui comprovadas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas no trato gastrointestinal, além de um forte efeito ansiolítico e sedativo leve, que atuará nos distúrbios de sono e na ansiedade. A via de administração escolhida é a oral/sublingual, considerada eficaz para a absorção rápida do princípio ativo.

O tratamento da paciente foi iniciado com uma abordagem progressiva de titulação, um método que permite ao organismo se adaptar ao composto e encontrar a dose mínima eficaz com o mínimo de efeitos colaterais. A terapia foi conduzida com um óleo de canabinoides de espectro completo (full-spectrum) com predominante em CBD, onde cada gota continha aproximadamente 3,3 mg do composto.

  • Nas primeiras duas semanas, a paciente começou com uma dose baixa, administrando 2 gotas, duas vezes ao dia (manhã e noite). Essa dose totalizava 4 gotas por dia, o que corresponde a 13,2 mg de CBD. As gotas foram aplicadas sob a língua e retidas por 60 a 90 segundos antes de serem engolidas, o que maximiza a absorção e a eficácia.
  • A partir da terceira semana, como a paciente não apresentou melhora significativa dos sintomas e não relatou efeitos colaterais, a dose foi aumentada. A nova posologia foi de 3 gotas, duas vezes ao dia, totalizando 6 gotas diárias, ou 19,8 mg de CBD. Com esse ajuste, a paciente começou a observar uma melhora gradual. As dores abdominais diminuíram em frequência e intensidade, e os despertares noturnos foram menos frequentes, o que permitiu um sono mais contínuo.

Abordagem Não-Farmacológica

A paciente foi orientada a adotar uma série de medidas não-farmacológicas para complementar a terapia. A paciente iniciou uma dieta de exclusão, eliminando alimentos como glúten e laticínios, conhecidos por serem potenciais gatilhos para as crises da Síndrome do Intestino Irritável.

Paralelamente, a importância da atividade física foi reforçada para a paciente, não apenas para a gestão do estresse, mas também para a melhora do bem-estar geral e da função intestinal.

Para monitorar a eficácia do tratamento, a paciente foi instruída a manter um diário de sintomas, onde registrava a frequência e intensidade das dores, a qualidade do sono e os níveis de ansiedade. Esse monitoramento contínuo foi crucial para o sucesso da terapia, permitindo que os ajustes necessários na dosagem fossem feitos de forma precisa e individualizada.

Acompanhamento e Ajustes

O acompanhamento da paciente foi realizado de forma contínua e detalhada, com foco em monitorar a resposta aos ajustes de dose, a melhora dos sintomas e a adesão ao plano de tratamento.

1 mês depois a paciente demonstrou uma boa evolução do quadro clínico. Com o ajuste da posologia e o aumento da dose de CBD, houve uma melhora significativa nas dores abdominais e na ansiedade. A qualidade do sono também melhorou, com menos despertares noturnos.

Apesar da boa resposta, foi sugerido à paciente a inclusão do Canabigerol (CBG) no tratamento para potencializar ainda mais os efeitos anti-inflamatórios no intestino. A introdução do CBG seria feita de forma gradual, permitindo avaliar a ação de cada canabinoide separadamente. O THC seria considerado apenas se houvesse necessidade de um efeito analgésico mais potente no futuro.

Paciente feliz em churrasco com a família, após o sucesso da terapia com cannabis medicinal
Paciente feliz em churrasco com a família, após o sucesso da terapia com cannabis medicinal

Conclusão

O caso clínico demonstra o sucesso do tratamento com cannabis medicinal em uma paciente de 35 anos com SII e comorbidades associadas. A abordagem terapêutica, baseada em um óleo com predominância de CBD, resultou em uma melhora significativa da qualidade de vida da paciente, evidenciada pela redução da dor abdominal, melhora do sono e diminuição da ansiedade.

A evolução positiva do quadro ressalta a importância da titulação individualizada da dose e da combinação da terapia com canabinoides e medidas não-farmacológicas, como a dieta de exclusão. A resposta favorável ao CBD abriu caminho para a introdução de outros canabinoides, como o CBG, para potencializar o efeito anti-inflamatório no intestino.

Este caso reforça a crescente evidência da eficácia e segurança da cannabis medicinal no manejo de condições crônicas. O acompanhamento contínuo e a abordagem multidisciplinar são essenciais para otimizar os resultados e garantir que a terapia seja ajustada às necessidades individuais do paciente, promovendo bem-estar de forma integral.

As informações pessoais contidas neste caso clínico foram modificadas para preservar a identidade e a imagem do paciente, mantendo, no entanto, a veracidade e a integridade dos dados clínicos. Este é um relato baseado em um caso real, fundamentado na documentação médica e nas observações clínicas realizadas durante o acompanhamento do paciente. A finalidade é compartilhar o tratamento e as estratégias adotadas em um cenário clínico de relevância, respeitando sempre a confidencialidade e a ética médica.

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